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Carimbó perde mestra Mimi fundadora do primeiro grupo de carimbó de mulheres 'Sereias do Mar'

Mestra Mimi faleceu na noite desta segunda-feira, às 18h45, em casa na Vila Silva, em Marapanim

Vito Gemaque
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Mais um grande mestre tocará curimbó no céu. Na noite desta segunda-feira, 25, por volta das 18h45, uma das fundadoras do grupo Sereias do Mar, de Marapanim, mestre Mimi, faleceu na cama de sua residência por insuficiência cardíaca. Julia Freire, mais conhecida como mestre Mimi, fundou em 1994 o primeiro grupo de carimbó formado majoritariamente por mulheres. O amor e a paixão de Mimi por um dos maiores ritmos paraenses a acompanhou até os últimos dias e deixa um legado para o Estado do Pará.

"A minha avó respirava carimbó. Nunca vi ninguém tão apaixonada por carimbó. Nas crises de dor ela pedia para tocar carimbó, um dia quis o conjunto completo com banjo, curimbó, e as filhas cantando. Era apaixonado pelo grupo Sereias do Mar, quando vinham se apresentar para cá, ela chorava, porque queria vir, mas não tinha condições", conta a neta Nilde Freire, de 42 anos.

O velório da mestra Mimi será na manhã desta terça-feira (26) na casa dela na Vila Silva, na região da Água Doce, em Marapanim. O enterro será de tarde.

Sereias do Mar -  Nascida em 18 de outubro de 1994 de 1927, Julia Freire foi se transformar em mestra de carimbó aos 67 anos, quando fundou o grupo Sereias do Mar. O grupo foi fundado para animar as festas do Dia das Mães na comunidade onde morava Vila Silva, localizada na região da Água Doce, no município de Marapanim.

A mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Roberta Brandão, tem como objeto de estudo o grupo de carimbó Sereias do Mar. Ela ressalta a importância do conjunto para as mulheres e para a história do carimbó. "Como pesquisadora já há alguns anos até de antes da universidade, posso dizer que não se conhece outro grupo composto prioritariamente por mulheres", destaca.

Apesar de não se declarar feminista, a história da mestra Mimi é a síntese da mulher que luta e ocupa um espaço reservado somente para os homens. Os grupos de carimbó são formados até hoje primordialmente por homens, às mulheres cabem mais o papel de dançarinas. O grupo Sereias do Mar veio para mudar as regras com as mulheres tocando quase todos os instrumentos, somente o sopro era tocado por um homem. A mestra Mimi coube o curimbó, o mais tradicional instrumento da música paraense. 

Um dia chateada porque os homens enrolavam para tocar carimbó na festa das mães que organizava na comunidade, mestra Mimi decidiu criar o próprio grupo com amigas e familiares. "Ela disse 'vamos fazer o nosso grupo de carimbó' chamou a Maria Cristina que também é outra mestra do carimbó, que inclusive faz encenações pássaros, e se uniram com a Bijica, que cantava. Perguntaram 'quem vai tocar curimbó', a mestra Mimi disse que já tinha aprendido vendo. Hoje, em 2020, são poucas mulheres curimbozeras, os homens estranham ainda", explica a pesquisadora. 

O grupo se apresenta ainda até hoje pelo Circuito da Água Doce, em Marapanim, e em festivais de Carimbó em Belém e em outros municípios. Nas letras as carimbozeras do Sereias do Mar falam de agricultura, natureza e, também, empoderamento feminino. "Ela tocou até onde podia, agora no final estava tocando um curimbó imaginário na perninha. Ela era muito apaixonado pelo carimbó", ressalta.

Roberta Brandão lamenta que a mestra tenha falecido como vários outros mestres de carimbó sem o devido reconhecimento e com algumas dificuldades financeiras no final da vida. "As pessoas tiveram que ir lá para ajudar em determinados momentos. É isso que me deixa mais indignada, sempre os mestres morrem sem dinheir, mesmo com tudo que deixaram para a gente", declarou.

Legado -  Para a neta Nilde Freire, o legado de mestra Mimi continuará para as futuras gerações de carimbozeiros e da própria família. "A paixão dela pelo carimbó deixa um legado muito grande para que os filhos e os netos façam jus a tudo isso. Ela amava de paixão o carimbó. Era a gente estar do lado e ela começava a batucar, ensinar as música que ela compunha, ela fazia a gente aprender com ela. Não tem uma palavra para definir todo o amor e paixão que ela sentia pelo carimbó", garante a neta.

Pelas redes sociais, amigos e fãs começaram a homenagear a mestra Mimi. A fotógrafa Amanda Rabelo disse que "Mestra Mimi uma das matriarcas do Grupo Sereia do Mar, foi para o mundo dos encantos e para os braços de mãe Iemanjá. Sua força e sua luz continuarão reverberando em cada roda de carimbó, em cada saia colorida, em cada som que ecoa e nas vozes que cantaremos juntos".

A fundadora do grupo Cobra Venenosa, Priscila Duque, também fez a sua homenagem declarando que o carimbó está de luto. "Mestra Mimi foi fundadora do Grupo Sereia do Mar, o único grupo Matriarcal do estado do Pará. Mãe de Mestra Bijica. Marapanin de Luto. Nossos sentimentos!".

 

 

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