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Brigitte Liberté e a experiência de ser uma Themônia-mulher-produtora na cena paraense

No mundo a artista sérvia Marina Abramović é referência na Performance, No Pará temos nomes como Berna Reale, Larissa Latif, Gabriela Luz, Brigitte Liberté, entre outras

Ellen Moon D'arc
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A performance enquanto linguagem artística pode mesclar inúmeros elementos e vertentes como o teatro, a dança, a música, as artes visuais e o não convencional, sem limites pré-estabelecidos entre a apresentação e o que é proposto pelo corpo de quem performa. Um dos nomes mais conhecidos mundialmente na arte da performance é da artista sérvia Marina Abramović. Mariana e outras mulheres artistas no Brasil e no mundo utilizam seus corpos em performance para visibilizar determinados assuntos. Para falar de performance contextualizada na Amazônia, a experiência de ser mulher nesta arte, a coluna entrevistou a Themônia e produtora cultural Brigitte Liberté.

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Uma das mulheres da contemporaneidade que começou a performar na década de 1970 e está ativa até então é Marina Abramović, 76 anos, artista sérvia. Considera-se a "avó da arte da performance". Uma de suas performances mais conhecidas é a "Ritmo 0", proposta em 1974 - faz parte do conjunto de 5 ritmos de 1973 a 1974 - , onde passou seis horas no Studio Morra (Nápoles, na Itália) imóvel e com objetos disponíveis ao público. "Instruções: Há 72 objetos na mesa que se pode usar em mim como quiser. Performance. Eu sou o objeto. Durante esse período eu me responsabilizo totalmente", era o comando da performance.

Completamente vestida e imóvel. Os presentes cortaram suas roupas, e Marina terminou a performance nua e violada. "O que eu aprendi é que se você deixar nas mãos do público, eles podem te matar. Eu me senti realmente violada. Cortaram minhas roupas, enfiaram espinhos de rosa na minha barriga, uma pessoa apontou uma arma para minha cabeça e outra a retirou. Isso criou uma atmosfera agressiva. Depois de exatamente 6 horas, como eu tinha planejado, me levantei e comecei a caminhar em direção ao público. Todos fugiram para escapar de uma confrontação presente", trecho retirado do relato de Abramović e registrado em publicação do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEL).

Antes e depois de Abramović muitas outras mulheres também mergulharam neste universo. No Pará temos Berna Reale, Larissa Latif, Gabriela Luz e Brigitte Liberté, entre outras. Brigitte é uma artista da performance, Themônia e produtora cultural que traz as discussões do corpo da mulher na performance e na sociedade e a pauta LGBTQIAP+, com o recorte da vivência lésbica feminista.

Questionada sobre o que é performance e como começou a se montar, Brigitte lembrou que iniciou a sua no contexto acadêmico, na ETDUFPA. No entanto, sua arte saiu da escola e ganhou a cidade. "Performance é o corpo em cena alcançando um estágio extra-cotidiano, que sai da sua postura convencional do dia a dia, aderindo uma postura performática, que une elementos pessoais, íntimos e próprios daquele corpo, com elementos artísticos de teatralidade… Comecei a me montar em 2019, tendo meu debut (primeira performance) na 1ª edição do Manas (En)Cena, projeto artístico feminista idealizado por mim, que ocorreu neste ano, em formato de espetáculo", iniciou.

image Brigitte Liberté faz parte do coletivo NoiteSuja, sua Haus, e também é responsável pelos projetos de outros grupos e seus projetos solos (Reprodução / Instagram)

Liberté faz parte do coletivo NoiteSuja, sua Haus, e também é responsável pelos projetos de outros grupos e seus projetos solos. Sua experiência é desafiadora, conta. "Ser uma mulher em qualquer área de atuação já é por si só, uma tarefa árdua, somam-se a isso os outros recortes que me perpassam: mulher lésbica, artista, da Amazônia. Ocupar um lugar de produção, que exige posturas firmes e incisivas, é se ver constantemente sendo lida como reativa, grossa, agressiva, etc., retratando o patriarcalismo ainda vigente. Então é desafiador ser produtora mulher de corpo dissidente, mas me enche a cada dia de mais coragem e indignação, me movendo a continuar construindo meu caminho", afirmou.

No mês do orgulho LGBTQIAP+ a artista gostaria de relembrar que as lutas que ganham mais visibilidade neste mês são vivenciadas diariamente ao longo do ano pelas pessoas da comunidade. Ela traz esses questionamentos para as suas performances em suas apresentações. "As principais lutas que travo cotidianamente por ser uma mulher, sapatão, anti-capitalista, da Amazônia, estão comigo demarcando minhas performances, especialmente o feminismo, minha luta constante pela vida e bem viver de todas as mulheres", declarou.

Brigitte acredita que há urgências em pauta e que a arte pode ser esse mecanismo de contestação para visibilizar essas necessidades. Ela também acredita que amar em meio a tantos discursos de ódio também é revolucionário. "Uma sociedade que odeia mulheres não pode suportar mulheres se amando. É perigoso, é ameaçador, é desafiador demais para o sistema. É por isso, que ao amar outra mulher, vejo minha força multiplicada", explicou.

"O medo que eu sinto na rua de segurar a mão da minha namorada deságua e se reergue em coragem, quando ela aperta minha mão de volta me dizendo em silêncio: 'o nosso amor não se cala, ele que cala quem não quer nos ver feliz'. Nossa maior arma sempre será o amor. E, claro, minha arte grita por todos os lados o quanto amo amar uma mulher, ainda mais quando eu tô vivendo um grande amor. Beijo pra minha mulher que me faz cada dia mais feliz", declarou-se ao seu amor aproveitando o ensejo.

Para acompanhar Brigitte Liberté é só segui-la no Instagram @brigitteliberte. A iniciativa da coluna "Drag, o quê?", é do Grupo Liberal com Ellen Moon D'arc e tem o apoio do Coletivo NoiteSuja, La Falleg Condessa, Lenny Gusmão (Lenny Laces) e da designer de unhas, Rubi Coelho. Para ficar por dentro de outros conteúdos ou sugerir pautas, é só seguir no Instagram @dragdelua.

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