Berna Reale apresenta novo projeto sobre aceitação de gênero

Com o título "Bi", trabalho une música, performance e vídeo

Lucas Costa
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Conhecida por provocar reflexões sobre diversos tipos de violência com seus trabalhos, a artista paraense Berna Reale desta vez traz o funk como ferramenta para falar sobre assédio. A música faz parte de um de seus novos projetos, a personagem Bi. Trata-se de um corpo cor de rosa com referências do modernismo de Tarsila do Amaral, com seios e saco escrotal avantajados, com o objetivo de provocar discussões sobre a aceitação de gêneros.

“Bi é uma personagem que foi criada para falar de assuntos relacionados a preconceito, principalmente de gênero, do que é o feminino, masculino, trans. Ela foi criada para falar de questões sociais”, explica a artista. 

Assim como grande parte do trabalho de Berna, Bi também é aliada a performance, e já saiu pelas ruas de Belém. Mas desta vez o trabalho tem como sua principal plataforma as redes sociais, principalmente no Instagram, onde pode ser encontrada pelo user @bi_massa_.

“Ela tem vários vídeos, e está sempre questionando várias coisas. Tem um em que ela debocha da forma como o mundo fica após o natal. São críticas a esse mundo em que a gente lida com diversas violências e o capitalismo”, conta Berna. “A Bi não trata de sexualidade e sim de aceitação de gêneros, e trata da diferença e discriminação pelo que é diferente”.

Nas redes, Bi também se tornou um desenho, e Berna explica que o objetivo é fazer com que ela também chegue a outros públicos com o perfil na rede social, já que nem sempre terá o recurso de sair às ruas.

Sobre as músicas, não é Bi quem as canta, mas as canções são feitas para que ela dance. Como explica Berna, ela não possui discursos, mas se utiliza de símbolos.

A personagem cor de rosa estreou dançando a música “A Massa é Bi”, um funk onde Berna fala da aceitação de gênero dizendo que todo mundo é bi. Em sua nova música, “Se Toque”, Bi vem fomentar discussões sobre um problema que afeta o país inteiro: o assédio. Berna explica que um dos objetivos é também a prevenção do assédio, e que a música se trata de um “carnafunk”, em 150BPM (batidas por minuto), estilo de som caótico utilizados no funk carioca.

“Porque um carnafunk? Por que também é um estilo que sofre preconceito, é o estilo das minorias, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil”, explica Berna, que revela ainda que a ideia é lançar a cada dois dias um vídeo colorido da personagem, onde ela deve trazer uma visualidade colorida abordando diversos temas ligados a aceitação de gênero.

“Se Toque” aborda o assédio em uma letra que traz expressões comuns no vocabulário regional, como o “te sai”. E sobre essa aproximação com uma identidade amazônica, Berna conta que ocorreu de forma espontânea. “Quando eu fui para o estúdio a gente gravou um monte de coisas, e entre os testes eu sempre falava ‘te sai’. Depois vimos que com isso ficou uma música muito nossa, e como não temos uma tradição de funk, achei muito legal inserir num funk um coisa regional”.

Entre os planos para o futuro, Berna conta que também fará uma exposição em Nova Iorque apenas com trabalhos sobre a Bi. “De alguma maneira ela teve uma aceitação estética. Ela é uma escultura que se movimenta, tem seio e saco, porque representa os dois, por isso é bi”, explica a artista.

Mais projetos

Entre seus últimos trabalhos estão a exposição individual “Gula”, realizada em São Paulo em outubro de 2018, onde falava de violência aliada ao prazer da comida, em seis séries fotográficas e uma instalação.

image A exposição Gula aborda características da sociedade consumista da atualidade (Divulgação)

Berna planeja ainda uma nova performance para abril deste ano, onde estará acompanhada de 100 pessoas, e vai falar sobre sobre preconceito de uma forma relacionada a jovens pobres, negros e que moram na periferia das grandes cidades.

Berna Reale divide a carreira de artista com a de perita criminal, em um cotidiano em que lida constantemente com corpos. Ela diz que as duas coisas se complementam, pois o trabalho como perita a faz manter um pé na realidade. Formada pela Universidade Federal do Pará, grande parte de seus trabalhos trazem a violência como foco da discussão que eles propõem.

Como artista performer, Berna quase sempre usa seu corpo para criar. Uma de suas primeiras performances foi “Quando Todos Calam”, onde ficou deitada sobre uma mesa no complexo do Ver-o-Peso, com pedaços de carne em cima de seu corpo. Outras performances marcantes foram “Palomo”, onde cavalgou pelas ruas vazias de Belém usando uma focinheira, em cima de um cavalo vermelho; e “Americano”, exibida na Bienal de Veneza de 2015, onde Berna corre com uma tocha olímpica dentro de um presídio.

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