‘Pssica’, gravada em Belém e Marajó, estreia na Netflix e destaca os dramas vividos nos rios do Pará
A série, dirigida por Quico e Fernando Meirelles, entra no catálogo do streaming em 190 países
No Pará, o povo é atravessado pelos rios diariamente, agora é a vez do Brasil conhecer, a partir desta quarta-feira, 20, um recorte desse estado banhado por água doce, na série Pssica, da Netflix. De mãos dadas com essa realidade, a parceria do streaming com a O2 (produtora de Quico e Fernando Meirelles), vai mostrar um pouco do drama vivido pelos ribeirinhos paraenses. A história é contada a partir do livro homônimo do paraense Edyr Augusto.
A paraense Domithila Cattete é responsável pela protagonista Janalice. Bastante elogiada pelo diretor Quico Meirelles, ela faz sua estreia em uma grande produção. A personagem, que se vê perdendo tudo após ter sua intimidade invadida e exposta, é vítima de tráfico humano.
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Entre tantos crimes que envolvem a trajetória de Janalice, Domithila precisa mostrar a evolução da personagem, que precisa lidar com os crimes cometidos contra ela e amadurecer, mesmo com pouca idade, já que a ausência de habilidades na rotina de uma jovem na cidade grande será um desafio quando ela deixa a vida ribeirinha para morar em Belém.
“A expectativa para essa estreia é que os assuntos tratados na série sejam vistos, validados e entendidos como reais. Porque é uma realidade global, mas pensada para a Amazônia, e que nós podemos melhorar em vários quesitos na nossa sociedade. Para mim, é muito bom ver o nosso cenário, os nossos rios, de uma forma muito vibrante e única. Ter atores trabalhando comigo, que são tão bons, com uma direção maravilhosa e tão humana, em um streaming que é o maior do mundo, levar o nosso Pará, cultura e fala para o mundo, é algo muito importante”, pontua Domithila.
A atriz revela que a personagem vai causar sensações, medo e coragem, reforçando a força da mulher diante da sociedade.
A trajetória de Janalice é cruzada por outros dois protagonistas. Um deles é Preá (Lucas Galvino), que, por ter sido criado em um universo cheio de violência, não teve outra escolha a não ser se tornar um deles. O jovem precisa aceitar seu destino como chefe de uma gangue de “ratos d’água”, que também são chamados de piratas, mas também precisa lidar com seu coração afetuoso.
“Foi uma honra de verdade (gravar a série no Pará), porque existia um cuidado bonito. A equipe, que tinha muita gente de Belém... estar convivendo e trabalhando com elas, isso reverberou de uma forma ‘massa’ na construção da gente e do trabalho. A cidade interfere nas nossas construções pessoais. Eu acho que as saídas e visitas a diversos lugares, incluindo as festas de aparelhagem... acho que essas construções, que eu acredito, eu pratico quando vou trabalhar e construir um personagem. O Preá tem uma coisa que é ser muito entranhado em Belém e na Ilha do Marajó, nessa realidade dos rios. Fiquei observando muito. Aprendi muito com as pessoas”, explica o ator.
Mariangel (Marleyda Soto) chega para fechar o trio. Em busca de vingança pela morte da família, ela segue atrás da mesma gangue que sequestra e vende Janalice. A atriz já interpretou Úrsula Iguarán na série da Netflix Cem Anos de Solidão, baseada no romance de Gabriel García Márquez.
Em Pssica, Mariangel ganha os rios paraenses e tenta sobreviver, assim como os demais protagonistas, à “pssica” que cai sobre a vida deles.
“Como uma atriz estrangeira, colombiana, que não conhece o Brasil, mas está se aproximando da cultura... Ter a oportunidade de gravar em Belém foi incrível. Sobretudo com uma história tão própria do Pará. Creio que são temas muito interessantes e é importante apostar nessas histórias locais, latino-americanas, que nós queremos contar antes de todo mundo. Creio que Pssica tem isso: é uma grande história contada em um lugar que não está habitualmente concebido como cinematográfico, com o qual Belém se abre para o mundo para criar uma cinematografia própria, para ser um cenário onde se pode contar outras histórias”, explica Marleyda.
Com muita ação e dinamismo entre a história e os personagens, os episódios se desenrolam com eventos enérgicos, semelhantes à escrita de Edyr Augusto. “Eu li o livro bem antes de ler o roteiro. Quando recebi o teste, já fui para a obra. Achei o texto do teste tão forte, que, quando soube que era uma adaptação, fiquei com vontade de ler de onde saiu aquilo. De fato, quando li o livro, ele me impulsionou muito a fazer o teste. É um livro que a gente lê em uma respirada só, porque parece que tudo vai dar ruim e eles insistem nisso, e fica essa insistência em algo que já está morto”, analisa Lucas.
“Para mim, foi uma surpresa bonita ver como isso foi transformado em audiovisual, porque não perde a literatura, mas também tem um ganho. Edyr escreve imagens poderosas, mas também sensações. Acho que o barato da coisa foi transformar essas imagens poderosas em sensações. Acho que a edição conseguiu dialogar com a escrita dele, com o ritmo frenético em que os personagens precisam sair da realidade deles”, acrescenta o ator.
Com exibição para 190 países, Pssica chega à Netflix com quatro episódios, todos gravados no Pará.
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