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Luto no carimbó: Morre mestre Lourival Igarapé, aos 74 anos

Artista estava internado

O Liberal

O cantor e compositor Mestre Lourival Igarapé nascido em Igarapé Açú, na comunidade do Caripi, na região do salgado, faleceu aos 74 anos nesta quinta-feira (07). Ele estava internado em um hospital localizado no bairro do Umarizal, em Belém. O artista foi internado após ser diagnosticado com um princípio de infarto e também enfrentava sequelas causadas por uma pneumonia que teve em 2024.

Com mais de 30 anos de carreira dedicada ao carimbó e a música popular paraense, o Mestre chegou em Belém na década de 70. Há mais de 30, o artesão, compositor e percussionista participa de apresentações de carimbó, uma manifestação cultural popular do Pará. Após inúmeras profissões, a música começou efetivamente a fazer parte da sua vida quando ele tinha 40 anos. Como compositor, sua trajetória se iniciou aos 55 anos.


Nas últimas décadas, além de cantar, tocar e espalhar a tradição artística nortista, Mestre Lourival se estabeleceu atuando na cultura popular em Icoaraci. A partir dos anos 80 começou a desenvolver atividades pedagógicas em sua escolinha de carimbó voltada para crianças.

O artista paraense era um dos guardiões do projeto Rodando com Carimbó, uma iniciativa que começou a percorrer cidades do nordeste do Pará para fazer apresentações e buscar informações que ajudem a criar uma política de fortalecimento da cultura regional. 

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A artista e produtora cultural Priscila Cobra, do grupo de carimbó Cobra Venenosa, classifica o falecimento de Mestre Lourival como “uma perda muito grande para a nossa região”. “Ele era um patrimônio vivo, não só do carimbó e não só do Pará. Os nossos mestres eles vivem décadas de muita luta, eles resistem com poesia, com amor, transmitindo para as novas gerações seus saberes. Inúmeros carimbozeiros poque conheceram Mestre Lourival, porque conheceram outros mestres”, destaca.

Ainda segundo Priscila Cobra, sua trajetória como artista não seria possível sem o contato com os mestres. “Eu conheci Mestre Lourival há mais de 10 anos, no Espaço Cultural Coisa de Negro. Tenho ele na minha história de uma forma muito linda, porque quando eu comecei a tocar carimbó o mestre me incentivou muito. Ele gostava do nosso grupo porque dizia que o nosso carimbó tinha coragem, tinha audácia, que não tinha medo, e por isso ele disse para gravarmos o ‘Velório do Caranguejo’, que está em nosso primeiro disco, e é uma composição dele que ninguém cantava até então”, relata.

No ano passado, Mestre Lourival lançou seu primeiro EP, com repertório totalmente autoral intitulado, “Queimadas1. O álbum chegou ao público carregando a mensagem ambiental do mestre e sua luta pela preservação da natureza e da cultura popular. O EP contou com a participação de 32 carimbozeiros de várias gerações.Em seguida, ainda em 2024, lançou o single “Gaiola”. 

""Eu lamento muito que a natureza hoje está sendo muito explorada, sem se pensar muito nela, e as consequências podem ser bem graves, como a destruição da mata, dos igarapés, dos rios e tudo mais. O pessoal não está preocupado com isso. E essa música 'Gaiola' é uma forma de eu me manifestar contra a prisão dos passarinhos, engaiolados. Pássaros são para viver soltos. E o artista sempre encontra uma forma de se manifestar”, disse o mestre, no período de lançamento da canção.