Auto do Círio 2025 será lançado neste domingo (14) em Belém com foco na cultura amazônica
Segundo a diretoria, o Auto do Círio 2025 terá como base narrativa os quatro Mistérios do Rosário
O Auto do Círio 2025 terá o lançamento oficial na manhã do dia 14 de setembro, a partir das 10h, no Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará (UFPA), localizado na Praça da República, em Belém. Neste ano, o espetáculo celebra o tema “Nossa Senhora de Nazaré, iluminai as lutas dos Povos da Amazônia”, reforçando o caráter político, simbólico e cultural da festa.
Para a diretora do Auto do Círio, Inês Ribeiro, a escolha do tema destaca a dimensão espiritual e ecológica da tradição. “Nossa Senhora de Nazaré, iluminai as lutas dos Povos da Amazônia – a luz que nos guia para beber os saberes dos povos do campo, das matas, dos rios e urbanos. Encontramos simbolismo forte na fé mariana que faz o chamado à responsabilidade ecológica. Maria de Nazaré nos ensina a viver de maneira mais simples e sustentável, respeitando os limites da natureza e o direito ao Bem-Viver das populações amazônidas”, explica.
Os Mistérios marianos como narrativa
Segundo a diretoria, o Auto do Círio 2025 terá como base narrativa os quatro Mistérios do Rosário: Gozoso, Doloroso, Glorioso e Luminoso, que estruturam todo o espetáculo — do repertório musical à cenografia, figurinos e performances teatrais.
O 1º Mistério, Gozoso, apresentará a cultura amazônica, destacando a vida, os costumes, as lendas e a força das águas na tradição local. O 2º Mistério, Doloroso, abordará o drama da crise climática e a transição energética, incluindo o “Funeral dos Combustíveis Fósseis”, com participação do Grupo Alianza, que reúne ambientalistas da Colômbia, Chile e Brasil.
No 3º Mistério, Glorioso, o espetáculo celebra a vida e a alegria do Carnaval amazônico, enquanto o 4º Mistério, Luminoso, foca nas artes e nos saberes populares, com destaque para a cultura periférica do tecnobrega, do rock e das manifestações culturais da periferia do Pará, inspiradas na cantora e embaixadora Gaby Amarantos.
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O Auto do Círio 2025 assume uma dimensão política ao apoiar as lutas dos povos da Amazônia e seguir os ensinamentos de Chico Mendes e da irmã Dorothy Stang. Em ano de COP30, o espetáculo integra parcerias internacionais com o Grupo Alianza e outras organizações da América Latina.
“Incorporar essa luta no Auto do Círio é reafirmar que a Amazônia não é apenas floresta. Dentro dela vivem quebradeiras de castanha, seringueiros, apanhadores de açaí, principalmente mulheres que lutam diariamente para manter a floresta em pé. Nosso papel é dar visibilidade a essas vozes e conectar arte, fé e política em um mesmo cortejo”, destacou Inês Ribeiro.
Cenografia e oficinas
A cenografia do Auto do Círio será inspirada no mundo amazônico e nos animais da floresta, com materiais sustentáveis como talas de jupati, buchas de miriti, sisal e palhas. Desde agosto, oficinas com cenógrafos da UFPA, como Bruce Macedo, Anderson Pimentel e Josi Braga, envolvem estudantes na construção do cenário. Também estão sendo realizadas oficinas de cinedança, conduzidas pelo professor Gustavo Gelmini na Ilha do Combu, que abordam a luta dos povos ribeirinhos e a crise dos combustíveis fósseis.
Arte, religião e sociedade
O Auto do Círio é um programa de extensão da UFPA e cumpre a missão de se conectar à sociedade, reunindo grupos culturais como Casa de Cultura e Flamenco, Coletivo Tamborimbó, Cia. Moderno de Dança, escolas de samba e grupos de carimbó de Icoaraci. “Unimos natureza, religião e arte. O Auto do Círio é uma festa de fé que materializa em dança, música e teatro o real sentido da religião, que é unir as pessoas em uma só voz”, afirma Inês Ribeiro.
O espetáculo é reconhecido como patrimônio imaterial do Brasil pelo Iphan/UNESCO, consolidando-se como referência cultural e educacional. Apesar da falta de patrocinadores, a dedicação de artistas devotos permite que cada edição aconteça com qualidade, reforçando a tradição de fé e o compromisso com a Amazônia.
Expectativa e impacto social
O Auto do Círio 2025 busca não apenas homenagear Nossa Senhora de Nazaré, mas também sensibilizar a sociedade sobre a crise climática e os direitos dos povos amazônidas, ampliando debates da COP30. O evento também gera oportunidades econômicas para trabalhadores locais e comerciantes que atuam durante o cortejo, fortalecendo a cultura e a economia da cidade.
“Queremos alcançar a sociedade como um todo, ampliando a conscientização sobre a crise climática e as questões sociais dos povos amazônidas. Ao mesmo tempo, o Auto movimenta a economia local, criando oportunidades para quem trabalha durante o espetáculo. É uma forma de unir fé, arte e desenvolvimento”, ressaltou Inês Ribeiro.
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