Ritual Gira marca início da Cúpula dos Líderes com cânticos conduzidos por povos originários
O momento é feito ao redor da Samaumeira, localizada no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém
Com cânticos e a tradicional defumação, o Ritual Gira antecedeu, nas primeiras horas desta quinta-feira (6), a programação da Cúpula dos Líderes da COP 30, em Belém. A cerimônia, conduzida por jovens do Coletivo Jovem Tapajônico, da Aliança dos Povos pelo Clima, reuniu indígenas, quilombolas, ribeirinhos e representantes de diferentes religiões e comunidades amazônidas em um chamado à escuta, à presença e à responsabilidade com os territórios dos povos originários.
Marcado pela defesa das comunidades locais e pelo apelo ao financiamento de quem cuida da floresta, o ritual foi realizado em torno da Samaumeira, localizada na área externa do Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. O ato contou com a presença de jovens do Coletivo Jovem Tapajônico, além de outros movimentos sociais, reunindo mais de 200 pessoas.
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Quilombolas, ribeirinhos, populações urbanas amazônidas e representantes de religiões de matrizes africanas também participaram do momento. Um banho de cheiro com ervas da Amazônia também marcou o momento. E, enquanto participantes chegavam para o evento, eles eram saudados e recepcionados pelos indígenas, também com banho de cheiro.
Entre as principais pautas levantadas no ato, destaca-se a exigência de que 50% dos recursos de fundos climáticos sejam direcionados diretamente a povos e comunidades tradicionais. Além disso, as comunidades reivindicam participação deliberativa em conselhos de fundos como o Tropical Forests Forever Facility (TFFF) e o Fundo de Perdas e Danos (FRLD). Outros pontos importantes incluem o fortalecimento de fundos comunitários autônomos e a implementação de uma taxação global sobre grandes fortunas e lucros excessivos, com o objetivo de financiar ações climáticas.
Floresta em pé
O membro do Coletivo Jovem Tapajônico, Walter Kumaruara, que também é liderança indígena do município de Santarém, do povo Kamaruara do Baixo Tapajós, afirma que é essencial que a floresta permaneça intacta e que o ato representa essas demandas. Ele ressalta que as pessoas precisam compreender que aqueles que vivem na floresta são a razão pela qual ela ainda existe, e que sua preservação é vital para o mundo inteiro.
“O ritual é algo muito sagrado para nós, pois antes de iniciarmos qualquer atividade na Amazônia, dentro de nossos territórios, precisamos realizá-lo. Para um evento da magnitude da COP, ou mesmo para o que acontece hoje, a Cúpula dos Líderes, seria necessário um ritual. É algo que fortalece nossos espíritos e traz a representatividade de quem somos e por que estamos aqui. Além de trazer esse olhar religioso, presente em nossos territórios, o ritual também serve para mostrar que viemos para cobrar”, afirma Walter sobre a importância do ritual.
Kamaruara ainda completa: “Foi um ato simbólico e pacífico, onde trouxemos nossos cantos para fortalecer o espírito daqueles que cuidam da floresta. Que eles possam estar conosco, concedendo discernimento às pessoas que falarão sobre o clima, mas não vivenciam nossa realidade. Mesmo que a gente não esteja lá, a gente fez isso acontecer [o ritual]”.
Walter pontua ainda que são as culturas deles que a mantêm viva e próspera. Portanto, as pessoas precisam reconhecer que eles são parte da solução. Mas essa responsabilidade não pode recair apenas sobre eles, como comunidade; todos devem agir. Da mesma forma, outros países que se reunirão nesta cúpula também têm o dever de conter a crise climática global.
“A gente veio cobrar o financiamento direto para os territórios, porque hoje existe uma burocracia muito grande para que as comunidades e associações consigam acessar os recursos destinados à proteção de seus territórios, seja na demarcação ou na autodemarcação. Os territórios estão protegidos, é fundamental garantir também políticas públicas que assegurem a permanência dessas populações, mantendo-as lá para cuidar da floresta. Nosso posicionamento aqui é justamente o de cobrar isso”, ressalta Walter.
União de vozes
Indígena da aldeia de Alter do Chão, Jaciara Borari esteve presente no ritual e participou junto com os demais povos originários do ritual, enfatizando a importância de ecoar as demandas dos povos da floresta em meio a essa união de vozes. “Viemos fazer esta cobrança para que quem está discutindo sobre a nossa terra possa realmente repassar esse financiamento para quem está lá diretamente, lidando com todas as consequências do que acontece no nosso território. Viemos fazer esse marco. É no nosso território, é território indígena, é território quilombola. Então, a gente veio aqui mostrar que estamos presentes e vamos estar presentes durante toda esta COP”, enfatiza.
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