Lula lança Fundo Florestas Tropicais para Sempre em Belém e defende protagonismo na agenda climática
Iniciativa visa remunerar a preservação dos ecossistemas tropicais e conta com investimento inicial de US$ 1 bilhão do Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, em discurso nesta quinta-feira (6), em Belém, o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma iniciativa inédita que, segundo ele, inaugura um novo capítulo na governança ambiental global. Pela primeira vez, os países do Sul Global assumem protagonismo em uma agenda de florestas, com uma proposta voltada à valorização econômica e à preservação dos ecossistemas tropicais.
Lula iniciou sua fala cumprimentando autoridades presentes, como o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres; a ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento; o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gar; o presidente da República Democrática do Congo, Félix Attuan; e o representante especial da Indonésia, Ixi, através de quem estendeu o cumprimento a todos os chefes de Estado e representantes de países participantes.
"As florestas valem mais em pé do que derrubadas"
Em sua fala, o presidente destacou que as florestas tropicais cumprem um papel essencial no enfrentamento das mudanças climáticas, ao reter carbono, garantir fluxos hídricos e proteger a biodiversidade. "Sem elas não temos água para beber e nem para plantar", alertou, acrescentando que a destruição das florestas pode atingir pontos irreversíveis com impactos sentidos nos quatro cantos do mundo.
Lula defendeu que as florestas devem ser incorporadas ao cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) dos países e que os serviços ecossistêmicos prestados à humanidade precisam ser remunerados. "As pessoas que protegem as florestas também devem ser recompensadas por isso", afirmou.
Estrutura e Governança do TFFF
O presidente explicou que a criação do Fundo surge da constatação de que os mecanismos internacionais de financiamento climático ainda não estão à altura dos desafios globais. Por isso, desde a COP 28, países com florestas tropicais e investidores vêm trabalhando juntos no desenho desse novo modelo.
O TFFF não será baseado em doações, mas funcionará como um fundo de capital misto, com portfólio diversificado entre ações e títulos. Os lucros serão divididos entre países de floresta e investidores. Os recursos irão diretamente para os governos nacionais, garantindo programas soberanos de longo prazo.
Até 15% dos valores poderão ser destinados a povos indígenas e comunidades locais, incluindo seringueiros, extrativistas e mulheres. "Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas é cuidar das florestas", declarou Lula, ressaltando que a bioeconomia é o caminho para conciliar conservação e uso sustentável.
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A governança do TFFF também foi destacada como um avanço: as decisões serão tomadas em pé de igualdade entre países investidores e países de floresta tropical. O monitoramento por satélite garantirá que as metas de desmatamento sejam respeitadas — os países participantes deverão manter o desmatamento abaixo de 0,5%, com possibilidade de receber até US$ 4 (R$ 21, na cotação atual) por hectare preservado. O Fundo deverá abranger 1,1 bilhão de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento.
Compromisso Brasileiro e Parcerias
Lula lembrou que, em evento realizado em setembro em Nova York, o Brasil anunciou investimento inicial de US$ 1 bilhão (R$ 5,36 bilhões, na cotação atual) no fundo. O Banco Mundial hospedará os mecanismos financeiros e o secretariado interino do TFFF, e há expectativa de apoio de instituições como o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Banco Africano de Desenvolvimento, além de outros bancos regionais.
A iniciativa já conta com apoio dos países das bacias do Amazonas, do Congo e do Bornéu-Mekong, consideradas as três maiores áreas de floresta tropical do planeta.
Marco Rumo à COP 30 e Herança de Chico Mendes
Lula enfatizou o simbolismo de o nascimento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre acontecer em Belém, cidade que sediará a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) em 2025. "É motivo de orgulho que esse passo tenha sido dado no coração da Amazônia, cercado de sumaúmas, açaizeiros, andirobas e jacarandás", afirmou o presidente, destacando a força simbólica de realizar o lançamento no território amazônico.
Encerrando o discurso, o presidente citou o ambientalista Chico Mendes, reforçando o sentido humano e global da causa ambiental: "No começo pensei que estava lutando para salvar as seringueiras. Depois, pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora percebo que estou lutando para salvar a humanidade."
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