RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Novos ônibus em Belém: haverá, enfim, um avanço real na prestação do serviço?

Rodolfo Marques

A recente entrada em circulação de novos ônibus em Belém, já apelidados de “geladões” – e equipados com ar-condicionado e Wi-Fi –, marca um momento de renovação simbólica do sistema de transporte coletivo da capital paraense. Após anos de promessas e de um sucateamento progressivo da frota – com a falta de compromisso por parte dos empresários do setor –, os novos veículos despertam, ao mesmo tempo, esperança e ceticismo. A população, historicamente penalizada com ônibus lotados, quentes e  inseguros, enxerga na novidade uma possível mudança de rumo. Todavia, é sempre importante haver um olhar crítico diante dos cenários que se desenham.

A chegada desses veículos ocorre em um contexto de pressão popular por melhorias e de reposicionamento político da gestão municipal. A atual administração de Igor Normando (MDB) tenta se consolidar diante de um cenário de sucessão e do pós-processo eleitoral de 2024, apresentando os novos ônibus como símbolo de modernização. No entanto, a medida vem acompanhada de um reajuste tarifário que eleva o valor da passagem de R$ 4,00 para R$ 4,60 — um aumento significativo para grande parte da população, sobretudo a que mais depende do transporte coletivo – e, em geral, a mais vulnerável.

A justificativa de que o reajuste é necessário para sustentar uma frota mais moderna parece plausível, mas evidencia uma velha equação injusta: a conta, mais uma vez, recai, sempre, sobre os usuários. A ausência de uma fiscalização mais rigorosa nesse tipo de modal compõe um pano de fundo que não pode ser ignorado.

Como contraponto ao aumento da tarifa, a prefeitura anunciou a gratuidade nas passagens aos domingos. A medida, embora elogiável em sua intenção de garantir acesso à cidade em um dia tradicionalmente voltado ao lazer, ao trabalho informal e à visita a familiares, não resolve o cerne do problema: a precariedade do transporte nos demais dias da semana. O gesto é simbólico e político, indiscutivelmente. E a população espera que funcione na prática – e que a frota não seja ainda mais reduzida aos domingos, como há ocorre há muitos anos.

Nesse cenário, a disputa entre o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) e o atual prefeito Igor Normando transbordou das gestões e das urnas para as redes sociais. As trocas de farpas públicas têm tomado o espaço do debate qualificado e colocado em segundo plano o real interesse público. A politização do transporte público, por si só, não é negativa. Toda política é, em alguma medida, disputa. O problema emerge quando essa disputa se dá em torno da paternidade de avanços pontuais, e não da estruturação de soluções de longo prazo. A população, nesse vaivém, torna-se espectadora de um jogo de palavras.

Em um momento em que a mobilidade urbana deveria ser tratada como política de estatal, a população segue pagando, literalmente, o preço das decisões que muitas vezes priorizam o embate político à eficiência administrativa. Os novos ônibus são bem-vindos, mas há mister que se avance mais. O que estamos dispostos a discutir: a disputa de narrativas ou a construção de uma cidade mais justa para quem depende do transporte todos os dias?

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