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RODOLFO MARQUES

RODOLFO MARQUES

Rodolfo Silva Marques é professor de Graduação (UNAMA e FEAPA) e de Pós-Graduação Lato Sensu (UNAMA), doutor em Ciência Política (UFRGS), mestre em Ciência Política (UFPA), MBA em Marketing (FGV) e servidor público.

Cúpula dos Líderes fecha com promessas amplas: os discursos se converterão em ações?

Rodolfo Marques

No segundo e último dia (07.11.2025) da Cúpula dos Líderes da COP30, realizada em Belém, foi dado um importante recado: a agenda da transição energética
saiu do discurso e entrou em cena como critério de credibilidade
. As sessões dedicadas ao tema deixaram claro que os próximos passos não serão opcionais.

Durante o evento, o presidente Lula (PT-SP) fez uma intervenção incisiva, afirmando que “as decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima”. Essa ênfase coloca o Brasil no centro de um dilema global: entre liderar ou ficar à margem das transformações estruturais do sistema energético.

Nesse contexto, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede-SP), reforçou essa ambição ao anunciar que o fundo Tropical Forests Forever Fund (TFFF) já acumula US$ 6 bilhões e que o país pretende “liderar pelo exemplo”. Essa cifra, simbólica e real, expressa uma aposta duplo-faca: reconhecimento internacional e compromisso interno. Mas ainda não está claro como será operacionalizado.

A retórica de uma “transição justa e ordenada”, defendida tanto por Lula quanto por especialistas presentes na Cúpula, tem várias camadas. Embora o discurso tenha ecoado com força em Belém, persistem lacunas concretas quanto à implementação das metas. Países vulneráveis continuam reivindicando acesso à tecnologia, financiamento adequado e justiça climática efetiva, elementos indispensáveis para que a transição não amplie desigualdades. Lula enfatizou que a transformação energética global só será viável se enfrentar a pobreza energética que ainda atinge bilhões de pessoas sem acesso a eletricidade estável ou combustíveis limpos.

Para ele, erradicar a pobreza energética deve ser um eixo central das políticas globais, em articulação com a ampliação do acesso a tecnologias verdes e a mecanismos de financiamento climático, sobretudo nos países do Sul Global. Lula defendeu que uma transição justa requer instrumentos de redistribuição, como a destinação de parte dos lucros do petróleo para financiar soluções energéticas limpas, inclusivas e socialmente equilibradas. Um dos pontos mais debatidos da Cúpula foi justamente a proposta de usar
receitas do petróleo para impulsionar a transição energética – ideia que gerou reações de ambientalistas e representantes da sociedade civil. A escolha de Belém como sede
do encontro pré-COP30 reforça a simbologia da Amazônia como epicentro da crise e, ao mesmo tempo, como laboratório de alternativas. Resta saber se a região será beneficiária real dessas políticas ou apenas vitrine de promessas globais.

Se a Cúpula dos Líderes em Belém marcou um momento de pronunciamentos fortes, o verdadeiro teste chegará nos próximos meses e anos: quando o fundo for operacionalizado, quando as fontes renováveis deixarem de ser promessa e se tornarem rotina, quando o Brasil conseguir conciliar pioneirismo e coerência.

A grande pergunta permanece: liderança será memorável apenas nos discursos, ou se traduzirá em impacto real para o clima, para a Amazônia e para as pessoas que dependem das decisões agora tomadas?

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