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Lula fala ao mundo, defende soberania e multilateralismo – e manda recados a Washington

Rodolfo Marques

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 80ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça (23), foi mais que uma participação protocolar: foi um ato político de alcance global. Em Nova York, Lula defendeu o multilateralismo, denunciou o autoritarismo e reafirmou a soberania brasileira em tom firme e sem rodeios. Em meio a uma plateia atenta, o presidente não apenas falou ao planeta – falou, de forma sutil, porém inequívoca, também à Casa Branca e ao presidente norte-americano Donald Trump.

Ao condenar sanções unilaterais e restrições impostas por potências que se arvoram em “gestores” do mundo, Lula atingiu em cheio a política externa de Washington, que recentemente mirou instituições brasileiras com ameaças econômicas e diplomáticas. Sem citar nomes, o recado foi claro: o Brasil não aceita ser tutelado nem intimidado. A defesa de que “nenhuma nação é superior às leis internacionais” soou como uma flecha dirigida ao atual governo norte-americano, acostumado a agir como se estivesse acima das regras que cobra dos outros.

De maneira firme, Lula não transformou a tribuna da ONU em palanque de confronto, mas deixou claro que a soberania brasileira é inegociável. Em um momento em que Trump aposta em políticas protecionistas e em ameaças veladas para impor sua agenda, o presidente brasileiro devolveu a mensagem: o Brasil dialoga, mas não se curva.

Outro eixo central da fala foi a defesa da democracia brasileira. Lula lembrou que o país resistiu a tentativas de golpe e que suas instituições seguem de pé, protegidas pela Constituição e pelo voto popular. Em tempos de ataques ao Supremo Tribunal Federal e de campanhas de desinformação – muitas delas com ecos internacionais –, lideradas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a ONU ouviu um Brasil que não se rende ao extremismo. Mais uma vez, o recado a Washington estava embutido: quem atenta contra a democracia brasileira afronta não apenas um governo, mas a soberania de um povo.

Lula também não se furtou a abordar a tragédia humanitária na Palestina e a destruição em Gaza. Ao defender a criação de um Estado palestino viável e condenar a violência indiscriminada, o presidente expôs a falência de uma ordem internacional incapaz de proteger civis e de impor o cessar-fogo.

O presidente também reafirmou bandeiras históricas: combate à fome, proteção da Amazônia e o enfrentamento da mudança climática. Nesse ponto, houve a menção à COP-30, que será realizada em novembro em Belém. Ao lembrar que a capital amazônica receberá líderes do mundo inteiro, Lula colocou a Amazônia no centro da agenda climática global e sinalizou que o Brasil está pronto para liderar a discussão sobre desenvolvimento sustentável a partir da própria floresta, com protagonismo local e compromisso planetário.

Ao relacionar soberania e responsabilidade global, Lula mostrou que defender o interesse nacional não é isolar-se, mas participar de forma altiva da construção de soluções coletivas.

É significativo que, diante da atual escalada de tensões comerciais e militares, o Brasil tenha usado seu espaço para falar em paz e diálogo. Enquanto Trump insiste em políticas de sanção e confronto, Lula oferece cooperação. Por óbvio, discursos não mudam o mundo isoladamente, mas moldam narrativas e abrem caminhos. Ao expor as contradições de uma ordem internacional que privilegia poucos e ignora muitos, Lula recuperou a tradição diplomática brasileira de independência e protagonismo.

No púlpito da ONU, o Brasil falou com altivez, lembrando que soberania não é concessão de Washington e democracia não é moeda de troca. Lula enviou seu recado: o país respeita e quer ser respeitado. Ao mesmo tempo, deu um passo além, alertando que a defesa da democracia e da soberania é tarefa de todos os que acreditam na liberdade e no multilateralismo.