COP30 em Belém: vitória simbólica ou promessa adiada?
A COP30 em Belém se encerrou sob aplausos emocionados, especialmente quando Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, proferiu um discurso poderoso e foi ovacionada de pé por um bom tempo. Havia uma energia de esperança, de celebração por conquistas importantes, mas também uma sensação evidente de frustração: o texto final da conferência deixou de fora compromissos centrais, sobretudo a transição definitiva dos combustíveis fósseis.
O acordo final, batizado de “Decisão de Mutirão”, ampliou a promessa de financiamento climático para países vulneráveis, incluindo a meta de triplicar os recursos até 2035. Mas, para muitos observadores, essa vitória é insuficiente: os recursos ampliados são ainda tímidos frente à urgência da crise, e o cronograma para o aumento gradual desse apoio soa lento demais para os mais afetados.
Um dos pontos mais controversos e dolorosos foi a exclusão, no texto final, de qualquer roteiro para abandonar os combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. A resistência veio de países produtores, entre eles Arábia Saudita e Rússia, que bloquearam a inclusão de um cronograma vinculante. Como alternativa, a presidência da COP30 (representada pelo embaixador brasileiro André Corrêa do Lago) propôs a elaboração de dois “roteiros voluntários”: um para o fim gradual dos fósseis e outro para deter o desmatamento. Apesar de inédita, essa proposta traz uma ambiguidade preocupante: sem força vinculante, seu impacto depende da boa vontade e da pressão política. Para muitos ativistas, isso pode ser apenas mais um paliativo, longe do salto político que a ciência exige.
Por outro lado, há avanços que não devem ser subestimados. No texto final, a Decisão de Mutirão reconhece explicitamente os direitos territoriais dos povos indígenas e comunidades afrodescendentes, valorizando seus conhecimentos tradicionais como parte essencial da solução climática. Marina Silva destacou isso em sua fala, ressaltando que esse reconhecimento é um passo relevante para justiça climática.
Além dos negociadores, um dos destaques mais promissores da COP30 foi o protagonismo das novas gerações – e dos povos originários. Jovens e indígenas estiveram presentes ativamente por meio de oficinas, palestras e até da elaboração de uma Carta de Compromisso dos Estudantes pelo Clima, entregue à presidência da COP. No Pavilhão da Juventude, foram debatidas transição energética, justiça climática e financiamento — mostrando que não se trata de participação simbólica, mas de presença real onde as decisões são tomadas.
Se olharmos com atenção, o encerramento da COP30 revela um paradoxo: há, sim, avanços — especialmente na inclusão social, no reconhecimento dos povos tradicionais e no empoderamento juvenil —, mas a ausência de um compromisso firme para romper com os combustíveis fósseis deixa claro que ainda não estamos no caminho da ruptura. O financiamento ampliado para adaptação é importante, mas posterga muitos dos benefícios para 2035, quando os impactos já estarão ainda mais severos para os mais vulneráveis.
A COP30 em Belém foi um momento de encontro, tensão e promessa. A ovação à Marina Silva, a presença vibrante dos jovens e povos originários e a introdução de roteiros voluntários mostram que a vontade política e social para transformações reais existe. Todavia, a urgência climática exige mais: exige coragem para transformar promessas em ações concretas. Ao sair de Belém, a comunidade global carrega consigo uma lição fundamental: é nas vozes dos povos indígenas, das crianças, dos jovens que repousa a força para pressionar os governos a irem além.
E que esse legado emergente se transforme em pressão constante; e que, na próxima COP, não faltem nem retórica nem compromisso real para abandonar o fós¬sil e construir um futuro mais justo, limpo e resiliente para todos.
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