COP-30 na Amazônia: ponto de virada ou palco de promessas adiadas?
A realização da COP 30, em Belém-PA, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, assume um simbolismo que vai além das negociações climáticas: é uma convocação para que o mundo entenda que esta conferência se faz às margens de uma das maiores florestas tropicais do planeta. Aqui, a urgência é mais do que retórica, pois a floresta amazônica exerce papel estratégico na regulação climática global, na biodiversidade e na estabilidade dos regimes hídricos. Colocar a COP neste cenário significa trazer o combate às mudanças climáticas para o “lugar da verdade”, como sugere o presidente da conferência, André Corrêa do Lago.
Convém lembrar que as COPs sempre enfrentam o dilema fundamental entre ambição e realidade: o discurso geralmente avança mais rápido que a implementação, pois os Estados são limitados por interesses domésticos, custos políticos e especializações setoriais. Portanto, o que está em jogo agora, com a COP-30, é elevar o instrumental à ambição compatível com a crise.
Na Amazônia, essa dinâmica ganha contornos mais delicados. O desmatamento, as queimadas não só ameaçam o bioma em si, mas reverberam globalmente, alterando padrões de carbono, de chuva e de evapotranspiração. A escolha de Belém como sede significa que a agenda climática não se limita ao gás carbônico ou a fontes alternativas de energia, mas cruza a floresta em pé e o que ela representa para a estabilidade climática planetária.
Há também os aspectos diplomático e de soft power: sediar a COP na Amazônia concede ao Brasil uma plataforma relevante para projetar liderança climática, simultaneamente exigindo que demonstre coerência entre discurso e prática. A conferência pode funcionar como catalisador para investimentos em preservação florestal, mecanismos de financiamento climático, créditos de carbono e inovação sustentável na região norte. Mas esse potencial só se concretiza se houver estrutura institucional, transparência e compromisso de longo prazo.
Também é preciso destacar ainda que a COP-30 tem a chance de redefinir como vemos a articulação entre ação climática e justiça ambiental. A Amazônia abriga populações tradicionais, comunidades indígenas e uma diversidade global. A conferência tende a abrir diálogo entre preservação, desenvolvimento e dignidade humana.
Por fim, cabe à nossa reflexão: sediar a COP-30 na Amazônia é oportunidade histórica. A pergunta que fica é: vamos aproveitar esta conferência para consolidar uma virada estrutural na política climática global e na proteção da Amazônia?
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