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Bolsonaro em casa, Brasil em alerta: o bolsonarismo resiste, mas perde fôlego

Rodolfo Marques

As manifestações bolsonaristas do último 3 de agosto, em várias capitais brasileiras – inclusive, Belém – embora numericamente menores que em momentos anteriores, deixaram sinais claros de que o movimento segue ativo, mas fragilizado.

As ruas, ocupadas por apoiadores em diversas cidades, mostraram mais algum grau de engajamento do que força política real. Tudo isso acontece em meio a um dos eventos mais simbólicos da crise recente: a decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, no dia 04 de agosto, pelo desrespeito às medidas cautelares até então impostas. O Brasil assiste, mais uma vez, a um cenário de stress institucional que impactam diretamente os rumos das eleições de 2026.

A decisão do STF não apenas isolou ainda mais o ex-presidente como também acentuou o embate entre os Poderes da República. O Congresso, pressionado pela base bolsonarista, optou por obstruir a pauta legislativa em protesto. A radicalização do discurso da extrema-direita segue apostando no desgaste do Judiciário como forma de vitimizar Bolsonaro e manter sua base mobilizada, ainda que à custa da estabilidade democrática e do funcionamento regular do Parlamento.

Como já dito e observado, a adesão popular aos protestos não foi a mesma vista em outros momentos. O desgaste da figura de Bolsonaro, agravado por investigações e escândalos sucessivos, parece ter freado parte de sua capacidade de mobilização. A atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos, buscando sanções para o país e para ministros da Suprema Corte, também evidencia um certo descompasso com as demandas sociais mais emergentes da população brasileira.

Setores mais moderados da direita ideológica já ensaiam um afastamento estratégico, enquanto líderes regionais e parlamentares reavaliam o custo político de se manter vinculados a um projeto que flerta com o autoritarismo e com o desrespeito às regras do jogo democrático.

A prisão domiciliar de Bolsonaro também embaralha o tabuleiro para 2026. A direita tradicional busca um novo nome que consiga dialogar com a base conservadora sem herdar os ônus do bolsonarismo. Ao mesmo tempo, figuras como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG), tentam se posicionar como herdeiros políticos viáveis, ainda que com discursos mais brandos. Alguns outros menos cotados, como os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD-PR), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), também vêm flertando em atrair mais apoiadores. 

Já à esquerda e ao centro-esquerda, o desafio é consolidar uma agenda propositiva que mantenha a defesa da democracia no centro, mas que também responda às demandas sociais com eficiência. A pauta da segurança pública, já detectada em várias pesquisas qualitativas, precisa ser tratada por mais assertividades por todos os campos do espectro ideológico. 

Neste cenário instável, a atuação das instituições democráticas deve seguir firme e transparente. É essencial que a sociedade compreenda que não se trata de perseguição, mas de responsabilidade perante a lei. Alguns segmentos da extrema-direita brasileira, ao transformar Bolsonaro em mártir e ao atacar o Estado de Direito, usando a bandeira da “liberdade de expressão absoluta”, expõe sua incapacidade de conviver com os limites impostos pela Constituição.

A história já nos mostrou que democracias se enfraquecem não apenas por golpes, mas pela normalização do desrespeito às regras. A prisão domiciliar de um ex-presidente não é motivo de celebração, mas de reflexão. E que sirva como alerta sobre os riscos do populismo autoritário, da politização das instituições e da erosão dos valores republicanos. 

O Brasil precisa, mais do que nunca, reafirmar seu compromisso com sua própria legislação – e deixar claro que ninguém está acima dela, por mais votos que tenha recebido.