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Aldeia COP: onde a floresta ganha voz e o futuro do clima aprende a escutar

Rodolfo Marques

Entre as várias peculiaridades e diferenciais da COP-30, uma delas ganha evidência pelo significado: a Aldeia COP, montada na Universidade Federal do Pará para abrigar até três mil indígenas do Brasil e de outras partes do mundo, durante o evento. Mais do que uma estrutura de hospedagem, o espaço representa um marco histórico na presença dos povos originários nas conferências climáticas globais, garantindo-lhes território, visibilidade e protagonismo nas discussões sobre o futuro do planeta. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacou que esta é a maior participação indígena da história das COPs, com milhares de representantes divididos entre a Blue Zone, onde acontecem as negociações oficiais, e espaços de diálogo intercultural, como o Círculo dos Povos e a própria Aldeia COP.

Essa multiplicidade de arenas de debate reflete uma tentativa concreta dedemocratizar as discussões sobre o clima, reconhecendo que não há transição ecológica possível sem ouvir quem sempre viveu em equilíbrio com a floresta. A Aldeia COP representa, neste cenário, um território de resistência cultural e política, onde acontecem rodas de conversa, rituais, apresentações artísticas e debates sobre direitos territoriais, economia indígena e preservação dos biomas.

Nesse ambiente, o conhecimento ancestral dialoga com o saber científico, propondo uma leitura mais ampla e humana da crise climática, em que proteger o clima significa, antes de tudo, proteger vidas, culturas e territórios. No entanto, transformar essa presença expressiva em influência real ainda é um desafio. Ter milhares de indígenas em Belém representa um avanço inquestionável, mas é preciso assegurar que suas vozes sejam consideradas nas decisões oficiais da conferência.

O protagonismo indígena nesta conferência é um chamado à humanidade: o conhecimento tradicional não é um ornamento folclórico, mas uma chave essencial para repensar o modelo de desenvolvimento e enfrentar as mudanças climáticas com justiça e equilíbrio.

Ao caminhar pela Aldeia COP, percebe-se que o futuro do planeta não será decidido apenas por fórmulas, tratados e relatórios, mas pela capacidade de escutar. Escutar a floresta, os rios, as aldeias, os povos que há séculos sustentam a vida em harmonia com o ambiente. Talvez a verdadeira transição climática comece ali, sob as malocas montadas em Belém, onde o som dos instrumentos musicais e das vozes indígenas lembram que a esperança precisa de raízes profundas para continuar viva.