Orquestra da alma Océlio de Morais 15.02.22 8h00 Um dos prazeres da alma é a música. Queiram ou não admitir. Ela oferece uma leveza diferente e indescritível ao espírito, especialmente quando fechamos os olhos e deixamos a melodia entrar por todos os poros para elevar as ondas do pensamento ao ponto mais alto que desejar ir. Gosto do jazz e das composições clássicas. Na sinestesia da melodia destas, gosto de ler. O estilo daquele é mais aprazível com um bom vinho italiano ou português, numa roda de bons amigos com boa conversa cultural. Quando ouvi Wolfgang Amadeus Mozart (nascido a 27 de janeiro de 1756), pela primeira vez, foi por acaso, e nem tinha ideia daquele gênero musical. Foi no início da primeira década de 1970, na casa paroquial dos frades franciscanos em Monte Alegre, nascida como Gurupatuba, a terra-mãe desses índios, descoberta em 1639, pela expedição do capitão portuiguês Pedro Teixeira, época do reinado do monarca João IV (O Restaurador), e durante o pontificado do Papa Urbano VIII (1623 a 1644), por isso catequizada pelos frades Capuchos de São José da mesma ordem Franciscana dos Padres da Piedade. Um excerto: a aldeia Gurupatuba passou à categoria de Vila Monte Alegre em 1758, porque Francisco Xavier de Mendonça Furtado - o todo poderoso capitão general do Exército e administrador colonial português, irmão de Marquês de Pombal (ministro do Reino) e do cardeal Paulo Antônio Carvalho, inquisidor-mor da época - quis trazer para além-mar o nome da pequena Vila homônima do Norte de Portugal, integrante do Distrito de Vila Real, fundada em 1273. Fecho o excerto. Quando ouvi Mozart pela primeira vez, não sabia de sua prodigalidade: aos cinco anos já tocava piano e aos oito anos (em 1774) já havia composto a primeira música (a Sinfonia nº 1), encantando a realeza europeia; tampouco sabia que, ironicamente, o famoso “réquiem em ré menor” (uma missa fúnebre), encomendado à época por um anônimo, foi concluído por seus discípulos e tocada pela primeira vez cinco dias após a morte do compositor (10.12.1791), numa missa em Viena em homenagem ao próprio Mozart. O Conde Franz von Walsegg - a biografia de Mozart assim registra - foi o anônimo que havia encomendado o réquiem, mas até hoje não se sabe ao certo se Antonio Salieri, o italiano compositor oficial da corte de José II, arquiduque da Áustria, tinha ou não inveja do talento musical de Mozart. Bom, quero dizer que escrevo essa crônica ouvindo The Best of Mozart. São mais ou menos 06;00 ou 06:30 da manhã, deste domingo (13/02), hora que os pássaros acordam aqui neste bairro verde da cidade. E ao fundo, de modo suave ouço seus gorjeios, que se propagam no vácuo e chegam em ondas sonoras aos meus ouvidos como alegres saudações por mais um dia que a maravilhosa e incrível harmonia do Universo nos oferece de graça. Os gorjeios se misturam às músicas clássicas, porque o céu amazônico da bucólica Belém do Pará está limpidamente alviceleste e também porque estou com a janela aberta, com vista à copa das mangueiras e das samaumeiras da belíssima praça Batista Campos (construída no estilo arquitetônico francês do século XIX, com coretos e cursos d'água), habitat natural das garças amazônicas. Seria surreal. Mas, de repente, fiquei imaginando como seria um concerto musical numa chácara ou cabana no meio da natureza, em pleno bosque e, ao mesmo tempo, ouvir o canto sedutor dos pássaros. As “vozes” dos pássaros justapostas às "vozes" clássicas - levadas e regidas pela sibilação do vento suave até o coração da alma e ao coração da floresta - seriam a perfeita orquestra da (e para a) alma humana. E, quem sabe, teríamos um pouco do Éden: as duas almas (humana e da floresta) voltariam a ser harmônicas, assim como era no princípio da criação e o “homem, a quem foi dado o domínio sobre todas as coisas”, passaria a “encher a Terra” com mais versos e vozes musicais propagadoras do amor. ____________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M, Océlio de Jesus) e respectiva fonte de publicação. Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. 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