O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Jesus Cristo e o sistema de seu tempo

Océlio de Morais

Venho refletindo sobre a saga de Jesus, marcada pela perseguição, falsas acusações, traição até sua morte pelo sistema de seu tempo. Sua mensagem de paz, de humildade, de igualdade, de fraternidade e de amor – que naturalmente se opôs ao sistema – não foi aceita pelo sistema corrupto de então. 

Fariseus, Saduceus e Zelotas não se entendiam. Todos queriam, para si, o predomínio do poder religioso e político da Judeia. 

Das leis, os Fariseus defendiam apenas aquilo que lhes interessava, promovendo desvirtuadas interpretações orais das tradições. A aristocracia política e religiosa dos Saduceus preocupava-se mais  com o acúmulo de riquezas materiais. Eram materialistas e, das leis, também retiravam o que convinha à sua legitimação de poder.  Os Zelotas, que  faziam assaltos e usavam armas para fortalecer o grupo, opunham-se aos Fariseus e aos Saduceus. Mesmo sem poderio, seu objetivo era a luta armada contra o sistema romano. 

Politeísta – porque baseado em várias divindades greco-romanas –  o sistema político de Roma  dominava tudo e a todos. Dominava pela força  militar, impondo a obediência e o medo, com penas de  mortes sumárias. Julgamento, quando havia, já tinha uma sentença condenatória previamente pronta. A execução da pena vinha em seguida.

O povo vivia  sufocado, sem liberdades e sem qualidade de vida. Escravização no trabalho e subjugado às cobrança de impostos eram os açoites  que o cinzel do sistema romano utilizava para amedrontar o povo simples  e mantê–lo cativo – (cinzel é um substantivo masculino que significa “lâmina de aço temperado, de que uma das extremidades é talhada em bisel, para trabalhar a madeira, o ferro, a pedra, o mármore”). 

A   esperança do povo era  a vinda do Messias,  anunciado por vários profetas: Isaías (9:6-7) profetizou que “virá uma criança maravilhosa, o Príncipe da Paz”. Jeremias (22:5 e 33:15) anunciou a vinda do “justo rebento”,  com o nome de  “Senhor Justiça nossa”. E João Batista (Mateus 3:1-12 e Marcos 1:1-8, e Marcos 1:1-8) –  o profeta que  prepara “caminho do Senhor” – afirmou que  não era “digno de desamarrar a correia das sandálias", referindo-se à sua insignificância perante Jesus Cristo (Marcos,1:5,7-8).

E  o maior, o  mais sábio, o mais honesto e o mais ético humanista de todos os tempos da nossa história, de fato, nasceu da jovem Maria, a filha de Anna e Joaquim, no inexpressivo lugarejo de Belém de Nazaré, tal como havia profetizado  Elias  (9:6) garante que “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho chamado Emanuel” e também Miquéias (5:2-4) disse que  “O Messias viria de Belém, a menor e mais pobre  das cidades de Judá”.

Mas, o sistema não queria alguém justo e honesto no seu caminho e atrapalhando seus palnos de poder. Por isso,  o menino Jesus foi perseguido desde  o início:  o sistema político tentou eliminá-lo, simplesmente,  matá-lo. Herodes,   que sentia-se ameaçado em perder o trono, ordenou que matassem todos os meninos com até dois  anos em Belém de Judá e nas proximidades” (Mateus 2:16-18).  

Mas, a bem da verdade, o mal não queria o bem – história que se repete todas as vezes que o sistema se sente minimamente questionado .

O sistema reagiu com toda força que lhe é própria: oferece vantagens, chantageia, suborna, corrompe, prende, e até manda eliminar opositores. 

Assim aconteceu com Jesus de Nazaré: o sistema subornou um de seus discípulos por trinta moedas de prata. Precisamente p Judas Iscariotes, que com Jesus sempre esteve, como se fosse um infiltrado para conhecer seus costumes e delimitar seus passos:

Os líderes religiosos daquela época  queriam matar Jesus, porque Ele era nato, muito popular e desafiava o poder deles, conforme o relato de  Mateus 26:14-16. 

O sistema religioso, então, imputou-lhe fatos falsos, como a trama de que Jesus queria usurpar o trono de César, conforme relatado no Evangelho de João (19:12-15). Por outras palavras, disseminaram que Jesus Cristo queria destruir o sistema político  romano pela força e por se fazer passar por Rei. 

 E, por sua vez,  o sistema político  fez aquele joguinho de uma verdadeira  farsa do julgamento:   Preso depois da última Ceia, na quinta-feira,  Pôncio Pilatos  mandou Jesus para Herodes Antipas – aquele mesmo que ordenou a decapitação de João Batista – e Herodes o devolveu a Pilatos.

O resultado, toda humanidade sabe, especialmente os cristãos: Jesus é trocado por Barrabás. (Mateus, 27:15-35). O sistema preteriu o justo e o honesto e deu liberdade ao assassino e ladrão.  O sistema estava com sangue nos olhos: depois da sessão de torturas – privação de sono, de  água, de alimento, imposição de açoites, coroa de espinhos, caminhada com a pesada cruz até´o Monte Gólgota –  o Jesus é crucificado entre dois ladrões. 

O sistema deu o seguinte recado. Quem se opõe a  mim,  terá o mesmo destino: será torturado física e psicologicamente na prisão e, crucificado,  morrerá aos poucos até que a última gota de sangue esvazie suas veias, o coração pare de bater e o cérebro deixe de funcionar por extrema e brutal exaustão física e psicológica. 

Mas,  Filho do Homem, o Divino, deixou – na última Ceia e antes da traição de Judas  –  a certeza da esperança para que os discípulos e o povo  vencessem o medo: 

– “Deixo a paz a vocês. A minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá.”(João 14:27).

A   promessa de esperança  na última Ceia, naquela quinta-feira daquele ano 33 d.C., ao mesmo tempo em que prenunciava a sua morte no dia seguinte (secta-feira), o “Filho do Homem”  estava plenamente consciente de que seu tempo de vida na Terra estava próximo do fim e que logo voltaria à casa do Pai.  Daniel, no Antigo Testamento  (7:13-14)  e Mateus, no Novo Testamento  (8:20),  relatam que Jesus era o Filho do Homem. 

E percebendo a desesperança, a tristeza e a angústia nos olhares dos discípulos, o Divino-Filho – com a sua extraordinária e magnífica aura espiritual – também consolou os discípulos:“ Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo”.  (João 14:27).

O medo atemoriza e, muitas vezes, alimenta a covardia nas pessoas. Mas a esperança é maior do que o medo, pois a paz  que Jesus garantiu não é ilusória nem passageira –   “Não a dou como o mundo a dá”. (João 14:27) – mas é a paz espiritual, aquela inerente à esperança eterna como recompensa aos justos e aos honestos: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos" (Mateus, 5;4).

A paz na esperança, para aqueles que têm sede e fome de justiça, não reside no poder, pois ela é uma espécie de dom espiritual donde advém a fé e a coragem para vencer o medo, crendo que são “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus” (Mateus, 5;8).

 

ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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