Uma tríade filosófica para a busca de um sentido especial da vida
No livro "Todas as Parábolas da Bíblia", o teólogo calvinista e escritor brasileiro Hermisten Maia e o biblista e escritor britânico Herbert Lockyer fazem um compilado do que seriam as cerca de 250 parábolas na Bíblia Sagrada. E na obra "Compreendendo Todas as Parábolas de Jesus", Klyne Snodgrass, escritor e teólogo americano, apresenta uma análise exegética das parábolas usadas por Jesus.
No entanto, não existe consenso universal acerca da quantidade de parábolas e metáforas usadas por Jesus, porque faltaria uma precisão científica nas catalogações, visto que também poderiam ser incluídas outras expressões linguísticas, conforme o critério de cada exegeta ou linguista.
Independente da falta de consenso, ouso dizer que Jesus foi o maior e mais relevante filósofo das parábolas e das metáforas de todos os tempos – parábolas e metáforas que, podem observar com muita atenção, mostram e atestam que somente um sábio fora de série poderia ensinar com propriedade inquestionável sobre a pequenez e a grandeza da humanidade com a sua crise ético-moral, vista na perspectiva da revelação do Reino de Deus.
As parábolas e as metáforas filosófica de Jesus abordan diversos temas, por ejemplo: metáforas agrícolas (Semeador, Trigo e joio , Grão de mostarda , Semente que cresce sozinha, Videira e ramos, Figueira estéril , O lavrador e a vinha, O dono da vinha e os trabalhadores, A colheita e os ceifeiros, Árvore e frutos); temática espiritual (Crescimento, Julgamento, Caridade, Perdão Autenticidade da fé); metáforas de animais (ovelhas perdidas, bom pastor, ovelhas e lobos , Ovelhas e bodes, Galinha reunindo pintinhos, Peixe e pescaria).; metáforas econômicas: (Tesouro escondido, Pérola de grande valor, Servo impiedoso, Mordomo infiel, Ricos insensatos, Moedas entregues aos servos, operários da vinha); metáforas escatológicas: (Rede de peixes, porteiro vigilante, Ladrão que chega de surpresa, Grande ceia com excluídos) e temas sociais ( Bom samaritano, Construtor da torre e Rei que vai à guerra).
Se considerarmos o ideário mais comum dos tempos atuais acerca do objeto finalístico da filosofia – contribuir ao pensamento crítico sobre o senso comum e ao desenvolvimento da sabedoria como um dos sentidos especiais da vida – e quando tomamos conhecimento das parábolas e metáforas de Jesus, é perceptível a sua semeadura filosófica para todo o humanismo que adota como princípio real a proteção da dignidade humana .
Se Jesus tivesse vivido nos séculos XIX e XX, época da explosão do existencialismo filosófico, dir-se-ia que Ele teria sido um deles, à medida que suas metáforas e parábolas falam da verdadeira liberdade (“a verdade vos libertará “(João 8:32), da responsabilidade pessoal (parábola dos talentos, Mateus 25:14-30), da nobreza moral, onde chama a humanidade para galar uma identidade superior (metáfora “sal da terra”, “luz do mundo, Mateus, 5: 13-16).
Haveria uma tríade filosófica mais perfeita do que esta – verdade libertadora, responsabilidade ética e nobreza moral – como guia filosófico para a busca de um sentido especial da vida? Sinceramente, penso que! Essas parábolas e metáforas não foram usadas inutilmente, à toa, sem motivo ou aleatoriamente.
Elas tinham um alvo certo: a moral humana inferior e quase primitiva, traduzidas em escolhas e ações que levavam à corrupção das virtudes – corrupção que gera e conecta outros problemas graves.
Ilustra-se com dois exemplos: um, o que adverte sobre as consequências espirituais do abuso no exercício da função ou do poder, que é assim relatado por Mateus (16:26 ): “Do que vale ao homem ter todo o poder sobre o mundo inteiro, se perder a sua alma?”. O sentido filosófico é bem claro: o poder corrompido (que estimula a prepotência) , o dinheiro sujo (que leva à usura) e a fama supérflua (que leva à soberba) podem levar à perda do verdadeiro sentido da vida (o qual deve ser essencialmente espiritual). A perda da alma, por outras palavras, pode ser dito assim: a corrupção das virtudes aprisiona a alma no cinzel do sistema corrompido e a redenção somente será possível pela abertura da mente do coração à verdade que liberdade.
Outro exemplo está descrito em Mateus (capítulo 23, versículos 27-32), relativo a metáfora do “sepulcro caiado” , cujo sentido filosófico é a reflexão sobre a coerência e aparência do “Ser” humano.: “Ai de vós , mestres da lei e fariseus, hipócritas” Vós sois como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície”.
"Hipócritas e sepulcros caiados" – embora tenha sido dirigida aos mestres da lei e fariseus – nesta metáfora filosófica, Jesus atingiu outro alvo: a consciência humana, portanto, e novamente, reflete sobre valores éticos: qual era o valor ético dos mestres da lei e fariseus? Num portiguês bem claro e direto, a filosofia de vida de Jesus não admitiu (e a mensagem persiste para todo o sempre da existência humana), a corrupção das virtudes, traduzida na hipocrisia da justiça aparente que escondia as verdadeiras intenções, também escondendo “todo tipo de imundície” interior. A mensagem filosófica, que é simples aos dias atuais, poderia ser compreendida assim: a hipocrisia é uma narrativa ideológica manipuladora bem contada, mas o seu fundo de verdade inexistente acoberta todo tipo de corrupção das viertudes.
A filosofia de Jesus nessas parábolas e metáforas, sobre o cotidiano das pessoas de sua época , mostra que o problema humano – aqui tomado na condição ontológica do Ser (a existência e a essência) – reside nas falsas escolhas ou nas escolhas erradas, que mantém as pessoas cegas à verdade que liberta, algo típico da alma aprisionada à escuridão da ignorância .
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