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O que você pensa: vale a pena ter o poder sobre tudo e perder a serenidade da Alma?

Océlio de Morais

“Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” Teria, essa parábola de Jesus Cristo – relatada pelo apóstolo Marcos (8:36) – alguma relação com o aprisionamento da ética ao dinheiro e ao exercício do poder desviado da função ética a que se destina o exercício da autoridade? Ou, ainda, destina-se a lembrar que riqueza humana tem na serenidade da Alma e na bonança espiritual a sua maior fonte?

Confesso que todas as vezes que reflito sobre essa parábola sinto-me desafiado a observar detalhadamente – como um circuito de 360º e com a lente de ampliação mais poderosa possível – como as coisas do poder humano acontecem nas relações humanas. Sinto-me uma pequeníssima fagulha nessa infinitude do universo, é verdade! Mas, quando olho para todos os lados, penso naquilo que eu posso fazer e naquilo poderia ter feito de melhor e de bom. E aquilo que todas as pessoas (autoridades ou não) poderiam ter feito, podem fazer ou poderão fazer, sempre na perspectiva do bem e para o inteiro bem do bem.

É como se estivesse sentado à beira da praia, mirando a imensidão do mar ou, no meio da noite, num lugar deserto, olhando para o infinito do Céu coberto de estrelas: a solidão do pensamento, de repente, avisa: a qualquer momento, o tempo do poder acabará e ninguém segura o tempo da vida!!

Então, a parábola advertência de Jesus – “do que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”, respeita-se –, é realmente atemporal, porque nunca perdeu e nunca perderá a atualidade, à medida que é um chamamento contínuo para a importância das escolhas éticas em busca da felicidade, seja na conquista dos bens materiais (para o bem-estar e dignidade humana), seja no exercício do poder pela autoridade, em prol do bem-comum.

Mas, observe-se: “Ganhar o mundo inteiro” pode representar ter todo o poder temporário sobre as coisas ou sobre muitas coisas, sobre destinos e vidas de tantas pessoas, cometendo arbitrariedades e injustiças. Nesse caso, o poder decorreria da força da autoridade, mas não da Alma virtuosa, pois sobre ela, o algoz perdeu o controle.

Por outro lado, “Ganhar o mundo” também pode significar ter a elevada e a nobre coragem para garantir a justiça onde não impere a justiça ou, ainda, pode representar a única chance para desfazer atos arbitrários e injustiças que possam ter sido cometidos. Nesse caso, haveria o controle virtuoso da Alma.

A parábola, desse modo, pode ser pensada e repensada como o sinal de alerta permanente também legado por Jesus, ainda conforme o relato do apóstolo Marcos (Mateus 26:41) para o sentido de que as tentações do dinheiro avarento e do desvio de finalidade do poder fazem perder, a qualquer um, o domínio da própria Alma.

Daí o recado do maior filósofo e profeta de todos os tempos, Jesus: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”

A “carne é fraca” diante da ganância, da arrogância, da usura, da inveja, do egoísmo e também diante do exercício do poder com prepotência, e arrogância, com ódio e com injustiça. Nas duas situações, a pessoa até pode ter todo o poder do mundo e sobre muitas vidas ou coisas do mundo, mas, ironicamente, não tem o domínio da própria Alma, pois é um prisioneiro de sua própria pobreza espiritual.

As duas parábolas proféticas estão à nossa disposição. Precisamos ouvi-las e entendê-las com a mente e o coração abertos para que, no agora e no depois, no hoje e no amanhã, não fiquemos no deserto dos nossos pensamentos com aquela sensação de que o tempo do poder acabou, o tempo da vida viçosa foi embora com rapidez e nada fizemos de bom e pelo bem, nem nos demos conta de descobrir a resposta: se todo o poder do mundo sobre as coisas vale alguma coisa? Ou se perdemos a singeleza e a docilidade espiritual que animam a Alma virtuosa?

ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor