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Fusca pra que te quero!

Mayara Domont

Antigamente, o desejo de um jovem casal era comprar a casa própria, um carro e ter a geladeira cheia. O solteiro já se satisfazia somente com o carro na garagem. E por falar em carro, como eles mudaram hein?! O desejo de ter um foi trocado pelo desejo do que se tem nele.

Antes buscávamos um bom motor, durabilidade, marcas tradicionais, custo-benefício equiparado. Lembro que carros passavam de pais para filhos. A geração Maverick, Kombi, Opala, Fusca, Del Rey, viveu seus áureos tempos de lustrar lataria e fazer o motor roncar para atrair garotas.

Meu pai teve sete fuscas, e tenho muito orgulho disso, pois esse carro de ares arredondados, chamado de besouro, embalou uma geração inteira e deixou uma grande memória afetiva para os que nasceram nas décadas de 1960, 1970, 1980 e por aí em diante. Nem o New Beatle fez o olho brilhar naqueles que tinham a mala do carro na parte dianteira. 

A busca pelo durável, e não pelo descartável, era o que movia os compradores. Rádios analógicos, carburadores e direção mecânica satisfaziam quem desejava apenas se locomover. O luxo era ter um carro sedan, quatro portas e com ar-condicionado. 
Nossa! Como vivíamos sem ar-condicionado?! E sem vidro elétrico. Pura ostentação para a época. Era só o quebra-vento, e olhe lá! 


Lembro dos passeios de Fusca, Buggy e Puma. As ruas da Presidente Vargas eram seus tapetes pra desfile. Logo em seguida vivemos a era flex, e era uma loucura compreender como o carro poderia ter dois combustíveis, mas vamos encarar, porque isso gerava economia. 

Hoje estamos na era híbrida, elétrica, a era das três letras maiúsculas em inglês que estão dominando as ruas. De fato, um carro elétrico chama atenção pelo cuidado com o meio ambiente, mas será que ele resiste?

Ver um Opala atravessando a Doca de Souza Franco à noite traz todo um charme noturno e destaca para a gente o resistir ao tempo. Os carros de hoje resistiriam tanto? Marcas renomadas japonesas e alemãs se reinventam a cada dia e deixam impressas suas marcas no tempo, prezando pela receita de bolo que só melhora. 

Quem aí conhece um parente ou amigo que ainda preserva memórias através de um carro? Cuida, reforma, passeia e resgata sentimentos apenas andando um quarteirão com aquele velho possante?!

Quem tem o antigo fusquinha, ou quem sabe aquele Gurgel quase que indestrutível, sabe o valor agregado de um carro com boa durabilidade, ou mesmo que conta história só de abrir o capô.

Dá uma saudade dessa época que não era qualquer batidinha na lataria que abalava o coração, né?!

E pensar que, numa época dessa, reunia-se para trocar peças de carro, já que era muito fácil encontrar peças de reposição. Já, hoje... É quase como uma figurinha rara de um álbum.

Os carros de hoje são fabricados para serem trocados a cada ano. Quebrou? Trocou! Carro 2015? Nem na Uber é aceito! E quem falou que o 2025 se garante? São tantas parcelas para se ter o carro do ano que nem se termina de pagar quando ele começa a dar os primeiros problemas.

Sabemos que a evolução dos carros trouxe melhorias tecnológicas no quesito segurança, como airbags (antes nem cinto de segurança usávamos na cidade), sensor de ré e modelos cada vez mais econômicos.

Agora é possível comprar carros e peças por apps de venda como OLX, FIPE Carros, Quatro Rodas, Autoesporte etc. Antes o mecânico era o guia e te dizia se valia a pena comprar ou não.

Não estou dizendo que ar-condicionado, GPS, vidro elétrico e direção hidráulica não me deixam feliz. Relações mais duráveis aquecem o coração, e a paixão por carros gera todo esse flashback na memória - e nos faz refletir e valorizar mais o que dura e menos o que se descarta facilmente.