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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

Obrigado, Vangelis

Marco Antonio Moreira

O falecimento de compositor e músico grego Vangelis me lembrou de diversas emoções transmitidas pela sua obra musical. Ao ler e ouvir sobre sua carreira durante a semana em que diversas mídias evidenciaram seu talento foi inevitável um sentimento de nostalgia que surgiu de belas memórias vinculadas a Vangelis. No final dos anos 1970 era constante a procura por artistas que estivessem vinculados a algum gênero musical de minha preferência, especialmente o rock progressivo. Em uma das minhas buscas pelas lojas de discos daquele período encontrei um LP (long play) chamado Short Stories (1980) do cantor Jon Anderson da banda de rock progressivo Yes (uma das minhas bandas favoritas) em parceria com um músico nascido na Grécia chamado Vangelis, que, até aquele período, eu não conhecia. Curioso, comprei o LP e desde a primeira música me entusiasmei pelo talento de Vangelis. Ele utilizou instrumentos da música eletrônica com criatividade e sensibilidade diferenciadas que junto com a voz de Anderson gerou momentos musicais mágicos.

Extasiado e interessado pela sua obra durante muitos anos pesquisei sobre Vangelis desde o início de sua carreira com a banda de progressivo Aphrodite´s Child, sua carreira solo, sua primeira composição para o cinema com Sex Power (1970), sua possível (mas não efetivada) participação no Yes em 1974, suas trilhas musicais compostas para o drama Ignácio (1976) e documentários como L'Apocalypse des Animaux (1973), La Fete Sauvage (1973) e Opera Sauvage (1979), seu trabalho com a atriz e cantora Irene Papas, sua participação musical na série de TV Cosmos e sua parceria com Jon Anderson, um dos maiores vocalistas da música, que gerou quatro excelentes obras musicais  - Short Stories (1979), The Friends of Mr. Cairo (1981), Private Collection (1983) e Page of Life (1991) . O problema é que naquele período as obras musicais de Vangelis, em sua maioria, não foram lançadas mercado brasileiro, logo, sempre que possível, foi necessário procurar seus LPs em lojas estrangeiras.

Em 1981, com Carruagens de Fogo, ele tornou-se um dos compositores mais conhecidos pelo publico mundial. Lembro-me de ouvir esta trilha musical e ficar deslumbrado com uma faixa musical com mais de 20 minutos nos moldes das grandes composições progressivas. Vangelis ganhou, surpreendentemente, o Oscar de melhor trilha musical por esse filme. Em 1982, Blade Runner foi anunciado como um dos maiores lançamentos do ano e Vangelis era o autor da trilha musical. Com grande expectativa sobre suas novas composições, ele não decepcionou. Que trilha musical perfeita, expressiva e totalmente integrada à história e visual do filme de Ridley Scott! A música eletrônica alcançou outro patamar com esse trabalho.

Aclamado pela maioria da crítica musical especializada, Vangelis compôs diversas trilhas musicais para filmes evidenciando perfeitas harmonias entre música e imagem. Vangelis declarou que gostava de compor os temas musicais a partir das cenas dos filmes e, certamente, essa metodologia funcionou em ótimas produções que ele participou como Desaparecido (1982), Antártica (1983), Rebelião em Alto Mar (1984), Francesco (1989), Lua de Fel (1991) e 1492 A Conquista do Paraíso (1992). A partir dos anos 1990, Vangelis se dedicou a trabalhos mais complexos e experimentou exaustivamente outras possibilidades da sua música, mas entre trabalhos maravilhosos como Voices (1995) e Oceanic (1996) ele realizou trilhas musicais expressivas para os filmes Alexandre (2004) e El Greco (2007), entre outras produções exclusivas para ballet, teatro, cinema incluindo a NASA, em 2001,  com Mythodea - Music for the NASA Mission: 2001 Mars Odyssey.

Compreender a amplitude de seu trabalho é uma tarefa estimulante, pois sua música é muito complexa e vai além de qualquer definição ou gênero. Com influências do clássico ao rock, sua obra é riquíssima em desafios sonoros com a utilização diferenciada de corais, percussão, teclados, instrumentos eletrônicos e diversos sons nas suas composições. Desse modo, Vangelis me provocou intensa vontade de entender a música como expressão humana e seu legado inclui um constante desafio musical de sua criação artística que conquistava quem o ouvia atentamente.

Vangelis conseguiu uma independência autoral rara que lhe permitir fazer suas experiências musicais em um meio intensamente comercial que ele questionou e enfrentou. A trilha sonora de Blade Runner, por exemplo, não foi lançada no ano do lançamento do filme. Vangelis autorizou o lançamento da trilha musical somente em 1994. Outras trilhas musicais não foram disponibilizadas em CD e algumas são inéditas oficialmente.  

Como admirador de Vangelis, recomendo aos leitores sua obra musical! Agora, Vangelis é imortal e continuará a acompanhar os admiradores de música como eu que têm profundo respeito e admiração pelo seu talento que, diversas vezes, por meio da sua música, tocou meu coração e alma. Obrigado, Vangelis!

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