Um grito de alerta, enquanto é tempo
Como fica o futebol, na sua elevada intensidade, diante das previsões de calor crescente para o verão amazônico que está chegando? A questão faz muito mais sentido depois da morte do jovem Afonso Rossa, gaúcho, atleta sub-20 do Águia, de infarto, há uma semana.
As competições regionais têm jogos de categorias de base e femininos às 10 e 15 horas, horários de temperatura mais crítica, geralmente sem estrutura de socorro médico. O caos engatilhado! O calorzão agrava o perigo também no futebol profissional, cada dia mais acelerado e mais desgastante.
Esta coluna se antecipa aos fatos e, enquanto é tempo, lança seu grito de alerta. Afinal, não há sinal de qualquer preocupação com os ricos iminentes do calorzão que vem por aí.
Futebol sem bolha
Não dá para dissociar o futebol da ciência, da tecnologia, das leis, da saúde, da cidadania... Muito menos das questões climáticas que estão apavorando o mundo, menos ainda aqui na Amazônia, às vésperas da COP 30, evento da ONU programado para novembro de 2025 em Belém.
O que mais importa agora é a percepção de que o futebol não está isolado numa bolha, não pode ignorar a realidade em que está inserido. O calorzão está vindo com riscos que podem ser minimizados com providências pontuais. Ação ou omissão, agora, pode separar responsáveis de irresponsáveis mais tarde.
BAIXINHAS
* Falar em calorzão nos clubes é despertar para a elevação das vendas de cerveja e água mineral, a preços abusivos. A FPF não dá o menor sinal de incômodo, nem de compromisso (medidas práticas) com a pauta ambiental.
* Esforço físico extra em temperatura elevada, numa região quente e úmida, implica em suor excessivo, maior perda de energia e sobrecarga para o sistema cardíaco. Essas ligações são óbvias demais para serem ignoradas ou tratadas com descaso.
* A maioria dos clubes não pode bancar os custos de uma bateria apropriada de exames cardiológicos para seus atletas. Dá para imaginar os jeitinhos? Isso tudo é muito sério e vai se agravar com a elevação de temperatura do verão inclemente que já vai começar.
* Belém já está recebendo eventos preliminares da COP 30. Falta um ano e meio para o evento principal, mas clubes e federações da Amazônia seguem surdos, mudos, inertes, como se o futebol funcionasse numa bolha. Zero de contribuição!
* Essa inércia denuncia cegueira. O mundo está se voltando para Belém. Remo e Paysandu são dois grandes protagonistas da Amazônia. Poderiam, ou melhor, deveriam estar acesos, juntos, com ações relevantes, preparando seu painel para se mostrarem às lideranças mundiais, especialmente a investidores, como gigantes engajados.
* Que importância tem a saúde dos atletas? O que é o bolso do torcedor? O que é o aquecimento global? Que importância tem a Conferência Mundial do Clima em Belém? Ou será que só têm atenção para as tantas e dispendiosas contratações e dispensas?
* Deve ser mesmo alarmismo nosso. Pensando bem, essas questões ambientais e esses riscos à saúde são distantes. Mais de um palmo além do nariz. Não cabem na bolha.
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