Relação entre condições de trabalho e comprometimento
Festejamos e propagamos a grandiosidade de Remo e Paysandu pela tradição, pela rivalidade, pelo enorme apelo popular, da mesma forma que cobramos estruturação física e organizacional. Mas, o que são esses clubes do ponto de vista de quem está em mercados mais avançados no futebol?
Até os anos 80, não havia grande diferença. Clubes de todas as regiões do país tinham mazelas semelhante s. Atraso de salários era a maior das mesmices. Os anos 90 trouxeram o avanço do marketing esportivo, que fez a decolagem de uns e a defasagem de outros clubes. Remo e Paysandu, sempre resistentes às evoluções, caíram na defasagem e pagam caro por isso. Essa é a visão de quem está longe e a constatação de quem chega. Em condições de trabalho que não correspondem ao nível das cobranças, só os profissionais muito dignos mantêm o nível de comprometimento. E olhem que essas condições melhoraram muito nos últimos 10 anos!
Treino Remo
Logo nos primeiros dias de Baenão ou Curuzu, técnicos e atletas recém-chegados nos anos 80/90 se deparavam com porteiros, roupeiros, cozinheira e demais funcionários que não recebiam salários há meses. Os mais empáticos ajudavam. Outros se viam como próximas vítimas e já se descomprometiam. Era a relação do “faço de que trabalho e eles fazem de conta que me pagam”. Agora, o maior atraso estrutural está na falta de Centro de Treinamentos. No caso do Paysandu com agravante de pagamentos atrasados. Como pode dar certo?
A defasagem de estruturas física e organizacional ainda é chave a ser virada por Leão e Papão.
BAIXINHAS
* Antigamente, na época do passe, o jogador tinha que se submeter. Com a extinção do passe (Lei Pelé), veio a quebra do vínculo pela Justiça do Trabalho. O Remo perdeu mais de 20 na primeira década da lei. Belterra, Ney, Rogerinho, Dema, Balão, Rodrigo Broa e Velber migraram direto para o Paysandu.
* Muito diferente de décadas atrás, na realidade atual os atletas são livres (sem passe) e têm staff. Praticamente, são empresas. Têm profissionais gerindo suas carreiras. Buscam as oportunidades que atendem ao projeto de carreira. Preferem clubes que oferecem condições de desenvolvimento profissional e projeção no mercado.
* Remo e Paysandu são propulsores, mas não são desenvolvedores. Tanto que não desenvolvem os próprios frutos de base. E como a nossa região é distante das demais, os clubes têm que pagar mais caro para contratar. Nas competições da CBF, as viagens são mais longas e desgastantes. Sobram desafios!
* Como o mais difícil no futebol existe com sobra aqui, que são as torcidas grandiosas e apaixonadas, a virada de chave é uma questão de projeto e de atitude. O clube que se estruturar e se organizar primeiro, vai decolar e reinar. O Remo parece bem encaminhado.
* Ao contrário do rival, o Paysandu tem retrocesso em aspectos muito importantes. Está em crescente endividamento e perda de credibilidade no mercado, empobrece muito o seu calendário, a visibilidade e orçamento com a queda à Série C, além de entrar em clima de tensão política.
* Os bastidores do clube e as redes sociais fervem e expõem "intimidades" do Paysandu. Há incendiários por todos os lados e nenhuma liderança com postura de bombeiro. A fase é muito delicada. O futuro do clube pede desarmamento e diálogo responsável. No tiroteio que estão ensaiando todos irão perder, principalmente o clube.
* Aparentemente, o Paysandu está entrando num ciclo do qual o Remo conseguiu sair. E se o Leão subir à Série A vai ter em 2026 uma superioridade orçamentária em torno de R$ 100 milhões sobre o rival, condições suficientes para construir o Centro de Treinamentos e outras melhorias estruturais. Se o Paysandu não voltar para os trilhos, vai ficar na poeira.
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