Círio 2025: arcebispo emérito destaca Maria como farol de esperança e cuidado com a Amazônia

“Não se pode pensar o Pará sem Nossa Senhora”, diz o arcebispo emérito de Belém, Dom Alberto Taveira

Dilson Pimentel
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“Não se pode pensar o Pará sem Nossa Senhora. Deus teve um carinho muito grande e colocou Nossa Senhora como a maior evangelizadora do povo paraense. Está na raiz do povo paraense a devoção à Nossa Senhora”. A afirmação é do agora arcebispo emérito de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa. No dia 6 de agosto deste ano o Papa Leão XIV acolheu o pedido de renúncia de Dom Alberto Taveira Corrêa ao governo da Arquidiocese, conforme previsto no Código de Direito Canônico por motivos de idade (75 anos).

Com isso, Dom Julio Endi Akamine imediatamente torna-se o 11º Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, "assumindo a missão de conduzir o povo de Deus com fé, coragem e comunhão com o Santo Padre", informou a Arquidiocese de Belém. Em entrevista ao Grupo Liberal, Dom Alberto Taveira Corrêa, idealizador do tema do Círio de Nazaré 2025, compartilha em entrevista a inspiração que deu origem ao lema “Maria, mãe e rainha de toda a criação”, revelando os fundamentos bíblicos e teológicos que orientaram a escolha.

“O tema do Círio é escolhido a cada ano pelo arcebispo. Então, caberia a mim fazer a escolha pela última vez do tema do Círio. Temos o assunto ecologia, a mudança climática. Eu escolhi pensando em oferecer a resposta da Igreja para a questão climática e da ecologia”, afirma. Essa expressão “Maria, mãe e rainha de toda a criação” foi tirada da encíclica Laudato Si, do Papa Francisco. “Essa expressão ‘Maria, Rainha e Mãe de toda a criação’ foi tirada da encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, que está completando 10 anos. “Foi de propósito, porque ali está a resposta que a Igreja oferece”, explica. Ele lembra ainda que a Campanha da Fraternidade deste ano também reforça essa visão, ao trazer como tema “Deus viu que tudo que ele fez era bom”, trecho do livro do Gênesis que celebra a bondade da obra divina.

Com entusiasmo, Dom Alberto ressalta que Deus criou o mundo com perfeição e responsabilidade, e que cabe à humanidade cuidar de tudo com zelo e gratidão. “Está no livro do Gênesis, no final dos dias da criação: Deus viu que tudo era bom. Deus não fez nada errado. Eu uso uma expressão que é quase de brincadeira, mas que expressa bem: Deus não fez nada no rascunho. Deus fez tudo bem feito, as pessoas, a própria natureza”, diz. Para ele, a figura de Maria, na simplicidade de uma jovem chamada para uma missão divina, é um exemplo poderoso de comunhão com a criação e com as pessoas. “A gente vê a figura de Maria com toda a sua simplicidade, a figura de uma verdadeira adolescente que é chamada, e depois tudo o que ela expressa de comunhão com as pessoas, a vida em Nazaré, tudo isso significou muito. Daí foi a ideia de escolher esse tema para o Círio”, reforça.

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Maria: farol da esperança

Ao refletir sobre o papel de Maria, Rainha da Criação, como farol de esperança em tempos de crises ambientais, sociais e espirituais, Dom Alberto ressalta a importância de uma vivência marcada pela simplicidade e pela fraternidade. “Na medida em que a gente começa a viver a simplicidade do nosso relacionamento entre as pessoas e com a criação, nós podemos ser sinais dessa esperança”, afirma. Ele destaca que o jubileu deste ano convida todos a se tornarem “peregrinos da esperança”, oferecendo ao mundo um testemunho diferente de amor à terra e de relações fraternas. “Quando a gente procura amar a terra, amar as pessoas e o relacionamento fraterno, tudo isso contribui para que o nosso povo tenha esse sentido de esperança. Deus fez tudo muito bem feito. Se Ele fez tudo muito bem feito, fez também o relacionamento entre as pessoas”, diz.

Dom Alberto lembra que a Igreja, desde o pontificado de São João Paulo II até o Papa Francisco, tem insistido no conceito de “ecologia integral”, em que a pessoa humana é a chave para o cuidado com a casa comum. “Nós trabalhamos pelo que chamamos de ecologia integral. Ela não tem como chave apenas as águas, o verde da floresta, o ar. Tudo isso é importante, mas a chave da ecologia integral é a pessoa humana. E essa é a grande contribuição da Igreja. Se valorizarmos a pessoa humana, estaremos oferecendo esperanças para o nosso povo da Amazônia”, reforça.

Ao longo de sua trajetória como arcebispo, Dom Alberto conduziu pessoalmente a preparação de muitos temas do Círio e enxerga esse legado como uma grande responsabilidade de evangelização. “O bispo tem a responsabilidade da evangelização. Ele tem que puxar o ‘carro da evangelização’. Não é o único evangelizador. Evangelizar é anunciar a boa nova de Jesus. Então, cada ano me dediquei a refletir sobre a realidade, a situação do mundo, da Igreja e das pessoas. Pensar em tantos peregrinos que saem de todos os lugares”, explica.

Dom Alberto lembra o alcance impressionante da festa e o impacto dos temas escolhidos: “Imagine que a primeira edição do cartaz do Círio deste ano teve 900 mil de exemplares. A quantas pessoas essa frase já chegou? Sempre tomei isso com grande responsabilidade, porque, quando escolho um tema, na realidade proponho um caminho de evangelização, de formação de consciência e de melhoria de vida, porque as pessoas se aproximam mais, se sentem acolhidas. Todo mundo que vem a Belém durante o Círio se sente acolhido”, afirmou.

O arcebispo emérito cita ainda a repercussão do Círio em todo o Pará e até em outras regiões. “Ontem (quinta-feira, 11 de setembro) fui celebrar a festa de Nossa Senhora de Nazaré em Abaetetuba. É impressionante o reflexo do Círio. As pessoas me diziam: ‘Veja, nós fazemos festa de Nossa Senhora de Nazaré em setembro porque sabemos que, começou outubro, todo mundo vai para Belém’. A vida do Pará se volta para Belém. Não só quem acompanha pelos meios de comunicação, mas a quantidade de gente que vem para cá é imensa. Então eu sempre escolhi os temas exatamente como um caminho de evangelização e de formação de consciências”, contou.

image Para Dom Alberto, "o Círio é um mutirão de evangelização e ninguém resiste ao Círio" (Foto: Wagner Santana/O Liberal)

“Ninguém resiste ao Círio”, destaca Dom Alberto

Dom Alberto já declarou que ‘o Círio é um mutirão de evangelização’ e que ‘ninguém resiste ao Círio’. Ele recorda com carinho sua primeira experiência com o Círio, em 2010, logo após assumir a Arquidiocese de Belém. “Eu vim conhecer Belém no início de fevereiro de 2010. Na hora em que entrei onde era o posto da Polícia Rodoviária Federal, na passagem de Marituba para Ananindeua, abri a porta do carro para pisar no chão do Pará. O primeiro repórter, sem me cumprimentar, já perguntou: ‘Vai haver corda no Círio?’ O medo era que o bispo tirasse a corda”, lembra, rindo. Ele conta que, embora já tivesse pesquisado sobre a festa, fingiu desconhecimento e respondeu com humor: “Eu nem sei o que é isso”. Mas é claro que, a essa altura, eu já tinha pesquisado e perguntado tantas coisas”.

Para o arcebispo, essa recepção marcou sua compreensão da importância da procissão e do laço profundo entre o povo e a devoção. “Minha primeira experiência do Círio foi positivamente devastadora”, define. Essa vivência o levou a identificar no Círio a força da piedade popular como verdadeira evangelização, algo que ele já havia ouvido do Papa Bento XVI durante a Conferência de Aparecida, da qual participou: “A piedade popular não é uma preparação para a evangelização, ela já é evangelização”. Para Dom Alberto, tudo no Círio evangeliza: “A multidão nas ruas, o empurra-empurra, os cantos, as homenagens, os chamados ícones do Círio. Então eu me apaixonei pelo Círio. Por isso repito muitas vezes: ninguém resiste ao Círio, porque ele é esse instrumento de evangelização”.

Ele acrescenta que a devoção a Nossa Senhora de Nazaré está profundamente enraizada na identidade paraense: “Não se pode pensar o Pará sem Nossa Senhora. Deus teve um carinho muito grande e colocou Nossa Senhora como a maior evangelizadora do povo paraense. Está na raiz do povo paraense a devoção à Nossa Senhora”.

“O ‘vírus’ do Círio já pegou no novo arcebispo”

Esta será a primeira vez que Dom Alberto participará do Círio como arcebispo emérito, mas ele garante que a experiência não muda seu envolvimento com a festa. “Não muda muito, justamente porque o arcebispo (Dom Julio) quis que eu estivesse à frente. Na realidade, estou fazendo o possível agora para introduzi-lo na realidade do Círio, porque, como diz João Batista, é preciso que ele cresça e eu diminua. Eu tenho que, pouco a pouco, desaparecer. Mas todos poderão perceber, durante o Círio, que as grandes celebrações serão presididas por Dom Julio, que é o novo arcebispo. Mas, como irmão, ele me colocou para ajudá-lo e o faço com muita alegria. “É uma experiência que, na prática, é a mesma. Porque eu posso prestar esse serviço àquele que me sucede. Ele já está apaixonado pelo Círio. O jeito que ele pergunta, que conversa, que quer saber. Então é sinal de que o vírus do Círio já pegou nele”, comentou, com alegria.

Em mensagem final aos devotos que participarão do Círio 2025, Dom Alberto expressa o acolhimento que marca a festa: “Quero dizer-lhes que todos são muito bem-vindos. Nosso título é Nossa Senhora de Nazaré. Todos são bem-vindos na casa de Nazaré. Belém se torna esta grande casa, como se fosse a casa da Sagrada Família em Nazaré. Jesus, Maria e José acolhem a todos”. Ele conclui desejando que a presença dos fiéis torne a cidade mais bonita, digna e viva, ressaltando a contribuição da Igreja para toda a sociedade: “O desejo é que todos venham para contribuir a fim de que a nossa cidade seja mais bonita, mais digna, mais viva. Essa é a grande contribuição que a Igreja pode oferecer para a própria sociedade”.

 

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