Retirada de garimpeiros ilegais da Terra Yanomami é prioridade, afirma nova presidente da Funai

Nas últimas semanas foram divulgadas a atual situação de crise ambiental e humanitária vivida pela etnia

Luciana Carvalho
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A deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), que toma posse na presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) nesta sexta-feira (3), afirmou na última terça-feira (31) que o Brasil vive uma nova fase, em que o combate ao garimpo ilegal da Terra Indígena (TI) Yanomami terá prioridade, entre as pautas do governo federal. As informações são da Agência Brasil. 

Assim como a deputada e lideranças yanomami, o sociólogo Bruno Gomes concorda que a retirada de garimpeiros deve ser um dos primeiros passos. "São 30 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem nessa região [Amazônica] que precisam ter oportunidade de caminhos da geração de renda, para trabalho", diz ele, que é também fundador da Agência Humana, entidade que coordena o Grupo de Trabalho de Mineração da iniciativa Concertação pela Amazônia.

De acordo com o sociólogo, o Estado tem dois papéis a cumprir, no caso dos garimpos ilegais: o de sufocar as ações ilícitas e o de garantir que os povos originários possam viver conforme queiram. "A gente vê que há um momento propício para, se o governo tiver vontade política, atacar de frente algumas questões de comando e controle, de combate à criminalidade e associar isso a projetos e ações, programas de médio e longo prazo, caminhos, oportunidades, possibilidades para que essas populações possam viver de acordo com seus modos de vida tradicional", diz Bruno.

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Para quem viu as imagens sobre a atual situação da etnia divulgadas nas últimas semanas, parece novidade, mas os danos causados pela mineração ilegal já acontece há algum tempo. Entre 1987 e 1990, uma centena de pistas clandestinas de garimpo foi aberta em torno dos principais afluentes do Rio Branco, o que permitiu que o número de garimpeiros, estimado entre 30 mil a 40 mil, chegasse a ser cinco vezes maior do que a população indígena. Atualmente, calcula-se que haja cerca de 20 mil garimpeiros na TI e 26 mil yanomami na parte brasileira e 11 mil na parte venezuelana

presidente da Urihi Associação Yanomami, Júnior Hekurari, afirma que é preciso garantir segurança aos yanomami e também aos profissionais de saúde, para que possam se proteger dos garimpeiros. Para ele, tanto os yanomami quanto os servidores na região são submetidos a vários níveis de violência. "Eu mesmo fui resgatar os corpos que foram assassinados. Crianças", diz Hekurari se referindo ao caso de dois meninos que morreram, após serem dragados por balsas de garimpo.

"Nós, yanomami, convivemos com o medo. É assassinato, eles apontam pistolas, revólveres para as lideranças. A gente fica com medo. Várias pessoas ameaçam, mandam mensagens [de ameaça] dizendo que eu vou morrer. É muito risco."

Júnior Hekurari conta também que adolescentes indígenas foram mortos depois de terem sidos embebedados pelos garimpeiros. "Adolescentes de 14 anos. Ano passado, aconteceu uma coisa muito forte. Adolescentes de 13, 14 anos. Tinha quatro pessoas. Os garimpeiros ofereceram bebida alcoólica. Eles foram beber, todo mundo armado de pistola e se mataram. Foi muito difícil, mas a Polícia Federal não conseguiu investigar. Não tem apoio do governo federal, porque o acesso à Terra Yanomami é muito difícil."

O presidente relata ainda que as mulheres Yanomamis já tiveram filhos de garimpeiros depois de terem sido estupradas pelos invasores."Tem muitos filhos. Já vi filhos dos garimpeiros e as mães criando. A gente vai cuidar, a criança não tem culpa. A mulher e a adolescente não têm culpa. São muito sofridas as comunidades", pontua.

Em abril do ano passado, quando o Ministério Público Federal (MPF) apresentou um pedido à Justiça Federal para obrigar a União a retomar ações de proteção e operações policiais contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, a Funai afirmou que atuava em atividades de monitoramento territorial por meio de cinco bases de Proteção Etnoambiental na região e destacou também, que a mineração ilegal era “um problema crônico, fruto de décadas de fracasso da política indigenista brasileira que, no passado, era guiada por interesses escusos, falta de transparência e forte presença de organizações não governamentais”.

(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).

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