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Estudantes do Pará conquistam premiações em programa internacional de ciência e tecnologia

Estudantes do IFPA de Marabá e de Escola Estadual de Mãe do Rio foram destaque no Solve For Tomorrow Brasil da Samsung

Heloá Canali

O Pará foi protagonista na manhã desta terça-feira (2/12), durante a cerimônia nacional do Samsung Solve for Tomorrow 2025, realizada no Teatro B32, em São Paulo. Entre os dez finalistas de todo o Brasil, dois projetos paraenses subiram ao palco e voltaram para casa premiados.

A equipe do Instituto Federal do Pará (IFPA), campus Industrial de Marabá, conquistou o 3º lugar geral nacional com uma armadilha luminosa sustentável contra mosquitos.

Já os estudantes de Mãe do Rio, município de 34 mil habitantes, venceram na categoria Júri Popular com um painel ecológico produzido a partir de resíduos de mandioca e ovos.

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O programa Solve for Tomorrow da Samsung estimula alunos da rede pública a buscarem soluções inovadoras por meio da abordagem STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

O Liberal foi convidado pela Samsung para acompanhar presencialmente a cerimônia e registrar a participação dos jovens paraenses no maior programa de inovação científica para escolas públicas do país. 

Marabá: armadilha sustentável garante o 3º lugar nacional e leva IFPA ao pódio

Estudantes do IFPA conquistaram o 3º lugar geral nacional com o projeto “EcoLuz Trap – Tecnologia de Baixo Custo contra Vetores na Amazônia”, que desenvolve uma armadilha luminosa feita com materiais recicláveis e de baixíssimo custo.

A equipe é formada por Wilian Saraiva Silva, Cleiton Santos Costa, Lucyellen Carvalho Neres, Maria Clara de Souza Lima e Yane Katlen da Silva Lima, orientados pelo professor Riguel Feltrin Contente.

A armadilha utiliza garrafas PET, LEDs azuis, ventiladores reaproveitados e um circuito simplificado que elimina a necessidade de soldas. O custo total é de cerca de R$ 20, enquanto modelos comerciais podem passar de R$ 120.

O dispositivo atrai os mosquitos pela luz e os captura por sucção, sem uso de inseticidas e com baixo consumo de energia. A ideia surgiu quando o professor buscava alternativas para proteger o filho, que tem asma. A partir de testes caseiros com armadilhas luminosas, surgiu a proposta de adaptar o modelo com materiais reaproveitados para uso em residências de baixo poder aquisitivo.

“A maioria dos estudantes mora em áreas periféricas de Marabá, onde o problema com mosquitos é constante. Isso despertou a ideia de criar um dispositivo acessível, que pudesse ser feito por qualquer pessoa com itens simples”, contou o professor.

O grupo testou diferentes cores de LED, montou diversas armadilhas, analisou dados de captura e até cruzou informações com uma estação meteorológica. Também promoveu oficinas para ensinar famílias a montar suas próprias versões da EcoLuz Trap.

A proposta também nasceu da observação da proliferação de mosquitos transmissores de dengue, zika, chikungunya e leishmaniose, doenças que também preocupam durante o resto do ano. O EcoLuz Trap se apresenta como uma alternativa simples e de baixo custo às armadilhas elétricas vendidas no mercado.

Emocionados, os estudantes compartilharam no palco o impacto da conquista. “Assim como minha equipe, quero agradecer ao meu professor, ao IFPA e ao nosso campus que apoiou nosso projeto. Esse trabalho vai ficar marcado na minha vida. Eu nunca tinha viajado de avião e agora eu tenho certeza que quero ser cientista”, disse um dos alunos, visivelmente emocionado.

Outra integrante também celebrou o momento: “Eu estou muito feliz. Quero agradecer a Deus, aos meus pais e à minha escola, porque se eu não tivesse entrado lá, não estaria aqui. Tenho certeza de que, através de nós, o Solve for Tomorrow vai chegar a mais gente.”

O professor Riguel Feltrin ainda destacou o esforço dos jovens paraenses. “Esses alunos são incríveis. Trabalharam muito, conciliando disciplinas, trabalho, dificuldades de transporte… mas não desistiram. Aguentaram minhas broncas e seguimos juntos. Muito obrigado por tudo.”

Mãe do Rio: município vence o Júri Popular com painel ecológico inovador

Os estudantes da Escola Estadual Padre Marino Contti, em Mãe do Rio, emocionaram o público ao vencerem o Júri Popular, categoria que mobiliza votos de todas as regiões do país. O trabalho foi desenvolvido pelos estudantes Caíke Pinheiro, Kaio Vinícius e Paulo Kleber, orientados pelo professor Antonio Denilson Leandro da Silva.

O grupo criou painéis ecológicos combinando cascas de mandioca e de ovos com resina vegetal, gerando placas de revestimento resistentes, acessíveis e ambientalmente responsáveis. Cada painel pode ser produzido por cerca de R$ 23.

Durante a fase de mentoria, especialistas incentivaram os estudantes a pensar no impacto social do projeto. A partir disso, a equipe realizou testes e identificou que o compósito também possuía propriedades acústicas, o que pode contribuir para melhorar ambientes escolares — especialmente para estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“O Pará é um dos maiores produtores de mandioca do Brasil, e o processamento gera grande quantidade de resíduo. Apesar de orgânico, se esse material fica acumulado, pode gerar danos ambientais. Então, o que podemos fazer com isso?”, questionou o professor.

A conquista motivou o grupo, que agora avalia patentear o material e criar uma startup para ampliar a produção. “Foi uma alegria grande… Ficamos felizes porque isso mostra que toda nossa dedicação ao projeto teve um resultado. Todo nosso empenho teve um resultado”, disse Caíke Pinheiro.

Kaio Vinícius explica que a repercussão do projeto ampliou a visão da equipe. “O futuro é moldado a partir dessas ideias e a gente acredita que o nosso projeto pode não só inspirar, mas também abrir novas perspectivas e mostrar que a população pode inovar, pode trazer um futuro mais ecológico e verde para o mundo”, afirmou.

O professor Denilson também reconheceu o valor da conquista de vencer o Júri Popular: “Enquanto professor, eu tinha aquela sensação de que eles avançariam, pela qualidade do trabalho escrito e do protótipo. Mas eu sempre dizia: ‘Avançando ou não, já somos vencedores’.”

A importância do Pará no programa, segundo a Samsung

O Diretor de ESG e Cidadania Corporativa da Samsung para a América Latina, Helvio Kanamaru, destacou a força da participação paraense no programa e o impacto que a visibilidade traz para a educação pública.

Respondendo à reportagem de O Liberal, ele afirmou: “O Pará tem toda a importância dentro do programa. Mãe do Rio é muito importante, Marabá é muito importante. É fantástico ver municípios tão pequenos alcançarem esse tipo de resultado.”

Kanamaru explicou que o reconhecimento pode gerar impactos diretos nas redes públicas: “Quando damos visibilidade a esses projetos, damos visibilidade às escolas e às comunidades. Já tivemos municípios pequenos que, após o destaque no programa, receberam mais investimentos e aumento de matrículas. Isso cria um ciclo positivo.”

Ele ressaltou o peso da edição de 2025, marcada pela COP 30: “Eles estão transformando os conceitos dos ODS em ação prática e sensível às necessidades das comunidades. Ver esse protagonismo vindo de Mãe do Rio, Marabá e outras cidades pequenas é muito especial.”