Belém 408 anos: Antônio Lemos, um grande intendente para uma nova Belém

Considerado até hoje um dos melhores administradores da capital, Lemos promoveu a modernização e o saneamento da cidade

Ádria Azevedo | Especial para O Liberal
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Ao assumir a Intendência de Belém, em seu primeiro relatório, Antônio Lemos afirma que estava imbuído da tarefa de implantar ordem e método na gestão municipal e estabelecer a “civilização” (aos moldes europeus) e lutar contra o “atraso” e a “barbárie” em Belém. Seus dizeres demonstram bem o ideário que o motivava em suas ações políticas: o positivismo, associado ao movimento de urbanização que acontecia na Europa, e o republicanismo, que pregava novos valores e costumes.

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Até os dias de hoje, Antônio Lemos é lembrado por muitos como o melhor gestor que Belém já teve. Isso se deve a todas as ações de urbanização, saneamento e embelezamento que promoveu na cidade, em pleno boom econômico da borracha.

Higienismo

As ações de Lemos não envolveram apenas grandes obras, como praças, mercados, monumentos: incluíram também criação de novos códigos de postura e de polícia, que determinavam como os cidadãos deveriam se portar nas ruas ou como poderiam morar. Seus objetivos eram o saneamento e o embelezamento da cidade, para transformá-la na “Paris n’América”. 

Nesse sentido, suas determinações são consideradas higienistas. Ao combater odores e riscos de epidemias, acabavam por expulsar a população mais pobre do centro da cidade. Por determinação de Lemos, cortiços, considerados vetores de doenças pela precariedade de suas condições, foram proibidos e demolidos. O intendente criou também o Asilo de Mendicidade, para recolher pessoas em situação de rua. 

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“É verdade que Lemos iniciou por combater os costumes de uma população que morava à beira do rio. Então, ficava proibido o banho de maré, mas também era preciso impedir que lançassem detritos no cais ou em outros pontos das margens do rio, como uma forma de salubridade. Além disso, com o Código de Posturas implementado em 1900, impunha nova forma de morar e de se comportar em público. Com essas medidas, o intendente foi afastando a população pobre para a periferia”, explica Nazaré Sarges, historiadora e biógrafa de Lemos.

“Não afirmaria que a gestão do intendente Lemos foi a única responsável por essa configuração excludente da cidade. Acho que outras variáveis devem ser consideradas, como a própria história da colonização portuguesa, que já trazia no bojo um projeto de gentrificação”, complementa a pesquisadora.

É de Antônio Lemos também a iniciativa da criação do primeiro crematório de Belém, que também visava conter a possibilidade de contágio por meio de cadáveres. Na mesma toada, Lemos contratou a construção de uma rede de esgoto e de poços artesianos, de um abatedouro modelo e uma nova empresa para limpeza urbana . As atividades de comerciantes ambulantes, que, segundo Lemos, enfeiavam e sujavam a cidade e aglomeravam desocupados, também foram disciplinadas

Com o mesmo objetivo de ordenamento e saneamento, o intendente também determinou a construção do Mercado de Ferro do Ver-o-Peso e do Mercado de São Brás e a reforma do Mercado de Carne. O objetivo era organizar a cidade e abolir outros locais de venda de carnes e gêneros alimentícios, considerados insalubres. As obras de todos eles incluíram elementos estéticos do movimento Art Nouveau, característico da Belle Époque

Petit Paris

Motivado a transformar Belém na “Paris n’América”, Lemos também construiu outros espaços semelhantes aos europeus, além dos mercados: ruas largas, os chamados boulevards; parques e praças aos moldes parisienses; quiosques; palacetes. São de sua gestão a construção do Boulevard da República (atual Castilhos França) e da Praça Batista Campos e a reconfiguração do Bosque da Légua - que passou a se chamar Rodrigues Alves -, do Horto Municipal e da Praça da República, bem como o plantio das famosas mangueiras nos espaços verdes planejados.

O intendente também promoveu a modernização do sistema de transportes, ao introduzir os bondes elétricos na cidade, uma das primeiras a contar com esse sistema no Brasil. O novo tipo de transporte implicou na abertura de novas vias, mais afastadas do centro da cidade, o que auxiliou na expansão da cidade em direção ao Marco da Légua (bairro do Marco) e outras áreas.

Assim, Antônio Lemos aproveitou a conjuntura econômica favorável, com os recursos oriundos da comercialização da borracha, e modernizou Belém. Porém, ao adotar um padrão europeu e higienista para suas obras, beneficiou a elite da borracha e excluiu a maior parte da população da capital. Por meio de suas ações de caráter duradouro, construiu uma memória a seu respeito e paira até hoje no imaginário na cidade, como um grande administrador, que deixou grandes legados.

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