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Rotam e Dioe tiram famílias de área da Cohab na Augusto Montenegro

Retirada foi a terceira em pouco mais de um mês. Elas pedem cadastro para moradias

Dilson Pimentel

“É uma tristeza. A gente é tratado como bicho. Eles entram armados, apontando armas, como se a gente fosse animal. Não tenho para onde ir”, chora Marcionila Machado, a senhora de 65 anos, olhando o cenário a ser deixado para trás após dois meses de tentativas de ganhar um novo pedaço de terra em Icoaraci.

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Há muitas crianças no terreno - ou melhor, já fora dele, após a ação da polícia - e as pessoas recolhem seus objetos, meio perambulantes, zonzas e atônitas, como se um cataclisma tivesse acabado de acontecer: às dezenas, os retirados do terreno na avenida Augusto Montenegro, no Parque Guajará (Icoaraci), em Belém, se aglomeram nas paradas de ônibus. Para onde irão é a pergunta a seguir - o que a grande maioria não tem ainda como responder.

Não é uma enxurrada, ou um tufão: é a nova ação policial, dessa vez fortemente amparada pela Divisão de Investigação e Operações Especiais (DIOE) da Polícia Civil e por policiais militares da Ronda Tática Metropolitana (ROTAM), que nesta manhã fizeram mais uma retirada de moradores que reocuparam o terreno próximo à pista, e em frente à Celpa, no sentido Belém.

No último dia 15, numa sexta-feira, funcionários da Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura de Belém já haviam desmontado todos os 20 barracos de madeira e lonas que haviam sido erguidos em frente ao local. O setor de demolição da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) justificou a ação: estaria fazendo a desobstrução da área pública, em frente ao terreno desocupado, por causa das obras do BRT. Foram dois dias de conversação. 

Com a saída dos agentes municipais, os moradores, porém, voltaram ao interior do terreno, de onde já haviam sido retirados dia 13 de fevereiro.  

LUTA POR CADASTRO

Essa é a sétima vez que as famílias ocupam o mesmo espaço. Os moradores do Parque Guajará afirmam que lutam por essa área desde 2008, e dizem que as conversas não avançam com a Companhia de Habitação do Pará (Cohab) - que, curiosamente, é a dona a área e ficou de cadastrá-los em programas de moradia.

À época da desocupação, ocorrida dia 13 de fevereiro, a redação integrada de O Liberal entrou em contato com a Cohab para pedir informações sobre a situação do cadastro das famílias. Em nota, publicada dia 14, o novo presidente da Cohab, José Scaff - que tomou posse também no dia 13 -, disse  que estava "tomando conhecimento das questões pertinentes à atuação da instituição", e que deveria "se manifestar posteriormente sobre a questão da reintegração de pose do terreno na Augusto Montenegro".

A redação integrada de O Liberal está tentando mais uma vez entrar em contato com a Cohab para saber as medidas que vêm sendo tomadas para o referido cadastro e a oferta de moradias às famílias. 

OPERAÇÃO

"Esse terreno é da propriade da Cohab, que fez a ocorrência. Não é a primeira vez que a polícia vem. É uma reincidência, que inclui danos ambientais, com retirada de madeira. Não é necessária ordem judicial porque há um flagrante continuado de esbulho possessório [invasão de proriedade]", justificou o delegado Aurélio Paiva, da DIOE.

"Essas pessoas são chamadas por centros comunitários, com a promessa de entrega de apartamentos ou lotes da Cohab, caso venham pressionar a companhia. Mas não é assim que acontece, e eles têm ciência disso. A ordem da Cohab é de não deixar eles ficarem", confirmou o delegado. "A maioria desses barracos estava só marcando local. E a grande maioria veio mesmo aventurar", minimiza Paiva.

"Eu tenho um parafuso na minha perna e estou passando mal. Eu já estava há dois meses aqui. Para onde eu vou agora? Tenho que chamar alguém para poder sair", lamentava dona Marcionila. Até o final desta reportagem na área do Parque Guajará, ela tentava entrar em contato com a família para deixar a parada na Augusto Montenegro.

 

 

 

 

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