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Dia do Gari: Profissionais têm orgulho da profissão, mas convivem com preconceito da sociedade

No Dia do Gari, Anne Caroline Tavares, Valdir de Sousa e Edivan Cley debatem sobre as discriminações que sofreram e o que conquistaram com a profissão

Amanda Martins

Os garis são responsáveis por manter as ruas e praças limpas, descartando todo o lixo que são deixadas por ações humanas ou de forma natural. Graças a dedicação diária destes profissionais, como o agente de limpeza Valdir de Sousa, que dos 71 anos há 35 dedica-se deixar Belém, do Pará, mais bonita e sem vestígios de sujeira, que os  belensenses podem conviver em uma cidade melhor. 

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Quando começou ainda jovem, aos 17 anos, não imaginava que seria tão feliz limpando as passagens e avenidas da capital paraense. Desde então, esta virou a principal renda dele, que constituiu família e criou os filhos com o serviço de gari.

“Eu gosto muito de trabalhar nesse ramo, é o meu ganha pão, foi onde criei os meus meninos que hoje são tudo rapazes, o que eu tenho depende desse trabalho. Para mim, é uma alegria muito grande, porque até hoje estou nesse serviço”, declarou Valdir. 

Preconceito

Edivan Cley, de 29, trabalha há dois anos como gari, e apesar de sentir muito amor pela profissão, destaca não ser fácil enfrentar o preconceito que a categoria sofre. Em 2021, ele viralizou na internet ao desabafar após ter sido vida de um comentário desagradável após conversar com duas moças na rua. Na ocasião, dois rapazes disseram que as meninas não deveriam “dar moral” para Edivan pelo simples fato dele trabalhar varrendo as ruas. 

A discriminação com Edivan chegou a ser repudiada nas redes sociais. Mas segundo ele, essa não foi a primeira nem a última vez que sentiu na pela a hostilidade das pessoas por estar vestido com a farda alaranjada.

“Quando pedimos um copo d’água, as pessoas costumam virar as costas, não dão ‘bom dia’,  a gente passa na rua, as pessoas olham torto, como aconteceu comigo naquela vez, a menina só me deu ‘bom dia’, o rapaz olhou para ela e chamou atenção”, relembrou. 


Outro episódio que Edivan precisou conviver com a discriminação em publico foi ao entrar no shopping vestido com a calça do uniforme de gari. “Eu fiquei me perguntando: ‘por que estão me olhando assim? Sou uma pessoa como eles’", disse, acrescentando que isso só ocorreu porque ele não estava totalmente à paisana.

Edivan ressalta que a profissão de gari não é “menos” importante do que as outras. Pelo contrário, ele enxerga a importância social que um agente de limpeza exerce na sociedade, como manter diariamente e em boas condições de habitação as cidades e os locais públicos. 

“A gente é tão importante como os médicos, os policiais e os motoristas de ônibus. A gente é tão importante como qualquer pessoa porque deixamos a sociedade de Belém mais limpa. A gente faz as coisas e muitas pessoas não olham, se for parar para ver, somos muito mais importantes que qualquer tipo de emprego”, declarou o agente de limpeza. 

‘Varria a rua e pagava a minha faculdade’, diz gari concursada 

Anne Caroline Tavares, de 32 anos, começou a ser conhecida nas redes sociais ao se tornar a “Gari Gata de Belém”, após ganhar um ensaio fotográfico vestida com o uniforme e um “dia de princesa”, em agosto de 2022. No mesmo ano, ela, que já era formada em educação física, foi convidada pela Prefeitura de Belém para atuar na Secretaria de Esporte, Juventude e Lazer (Sejel). 

Há quase um ano ela tem dedica-se a dar aulas de vôlei, mas nunca esqueceu de onde veio e o que batalhou para chegar até onde está hoje em dia. 


“No início, eu tinha preconceito com a profissão e nunca me imaginei naquele uniforme, mas com o tempo fui vendo que foi a  melhor escolha da minha vida, porque consegui estudar, viajar, graças a minha profissão de gari. A porcentagem que  os fies, não cobria, eu pagava varrendo a rua. Hoje, essa farda alaranjada é o meu maior orgulho”, declarou Anne Caroline.

Gari concursada e, agora, professora da Sejel, Anne diz se sentir orgulhosa por representar essa “classe trabalhadora e mostrar que uma gari pode ser qualquer coisa”. 

“Muitas pessoas perguntam se eu ainda sou gari ou se deixei de ser gari. A verdade é que eu continuo sendo gari, sim, até porque sou concursada pela prefeitura, mas estou cedida para a Sejel. Enquanto o Prefeito achar que eu devo continuar lá, eu vou continuar, mas a partir do momento que ele achar que eu devo voltar para a minha profissão de origem por algum motivo, eu vou voltar varrer rua, vou voltar ser gari”, declarou sem papas na língua. 

Belém