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Páscoa renova disposição de auxiliar o outro, nos passos do Cristo

Iniciativas em Belém se sucedem em atividades voltadas para quem mais precisa

Camila Guimarães e Eduardo Rocha
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Páscoa é vida, é amor ao próximo, amor à família humana, como demonstrou Jesus Cristo ao longo de sua existência na Terra. Por isso, a Páscoa acaba funcionando como referencial para muita gente se confraternizar e iniciar ou reforçar ações de solidariedade em prol de quem precisa, entre cidadãos de todas as idades. É o caso, por exemplo, dos integrantes da Cáritas Arquidiocesana, responsável pelas obras de caridade da Arquidiocese de Belém.

O coordenador da Cáritas, diácono Raimundo Nonato Santos explica que o foco de atuação, a partir do Evangelho de Jesus Cristo, é a promoção da vida junto a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Assim, durante a Quaresma e a Páscoa, são intensificadas atividades de formação, sensibilizando a Igreja, a sociedade sobre a temática da insegurança alimentar e, sobretudo, o atendimento das famílias cadastradas no entorno das paróquias para receberem cestas de alimentos. Mas, também, buscando meios para que possam desenvolver atividades para geração de renda.

A partir da Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como foco no combate à fome, a Cáritas reforça a atuação com as pastorais sociais e parceiros fortalecendo a economia solidária, expandindo suas ações nas paróquias. O diácono Raimundo Nonato informa que o organismo espera superar a meta arrecadada por meio da Campanha Belém Casa do Pão em 2022, quando, então, foram atendidas 22.755 famílias na Região Metropolitana de Belém.

Ainda no Domingo de Ramos, que abre a Semana Santa, foi feito o gesto concreto da coleta da solidariedade compondo os Fundos Nacional e Arquidiocesano de Solidariedade, com recursos para financiar projetos sociais nas comunidades. “Eu entendo a Páscoa como um gesto fraterno que prefigura Cristo celebrando com os apóstolos a festa da Páscoa e nos faz recordar a instituição da Eucaristia, o amor do Pai que se dá no Filho, e assim celebramos a esperança, na alegria, na confiança e comunhão fraterna de filhos e filhas de Deus”, arremata Raimundo Nonato.

Reconhecer o Cristo nos irmãos

O Movimento República de Emaús, fundado pelo saudoso padre Bruno Sechi, é umbilicalmente inspirado pelo significado da Páscoa. Como explica a pedagoga Georgina Kalife Cordeiro, coordenadora geral do Movimento, essa relação está expressa no próprio nome do MRE.

“A Páscoa nos aproxima cada dia mais do sentido de existir do Movimento de Emaús, uma vez que o nome Emaús representa exatamente o fato citado no Evangelho de Lucas 24.13-35, quando Jesus caminha com os discípulos rumo à aldeia chamada Emaús e não o reconhecem durante a caminhada, embora Jesus explicasse para eles sobre a escritura e os profetas sobre o Filho do Homem e sua missão na Terra. Então, chegando ao local, o convidam para pernoitar com eles e durante a Ceia, ao partir o pão, o reconhecem e ficam admirados e enternecidos”, ressalta.

“No Movimento de Emaús, nós somos os caminhantes que diariamente encontramos as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e exclusão, procuramos reconhecer neles o Cristo e colocar em prática o Evangelho”, assinala Georgina.

image No Movimento de Emaús, crianças de famílias de baixa renda têm espaço para atividades educativas e esportivas (Foto: Igor Mota / O Liberal)

O Movimento de Emaús funciona há 52 anos, e a atenção ao próximo envolve ações ao longo de todo o ano, como a Campanha de Emaús reunindo a Grande Coleta em que se convida a sociedade a doar objetos a se transformarem em fontes de custeio para projetos de atividades educativas, esportivas, artísticas e profissional para famílias, englobando crianças, adolescentes e jovens de baixa renda, na sede do Benguí. Outra frente de trabalho é o funcionamento do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca Emaús)l de assistência  a comunidades periféricas da cidade.

O Emaús conta com um corpo mínimo de funcionários e colaboradores: o sócio-solidário com ajuda financeira mensal; o sócio colaborador, que presta serviços especializados, e o sócio efetivo, que assume a gestão do Movimento. Nesse processo, são envolvidas cerca de 170 pessoas. Crianças, adolescentes e jovens que participam das atividades são em torno de 700. “Ajudar a quem precisa é uma prática cristã, que te exige cada dia mais engajamento, face ao crescente número de situações de exclusão em que nossas crianças, adolescentes e jovens são submetidas; o engajamento no Movimento de Emaú faz isso, você não consegue sair nem medir, mas a cada dia se envolver muito mais”, pontua Georgina.

image Georgina segue os passos do Cristo para continuar o trabalho iniciado pelo padre Bruno Sechi, no Emaús (Foto: Igor Mota / O Liberal)

Viver a Páscoa no dia a dia

Em quatro anos de funcionamento, a ONG Pará Solidário surgiu de um grupo de amigos. Essa Organização é outro exemplo de ações sociais reforçadas pelo sentido da Páscoa, como destaca a pedagoga Aline Martyres, vice-presidente e fundadora do Pará Solidário. “A Páscoa nos ajuda no sentido de renovação diária; eu digo que, no dia em que as pessoas entenderem que a vida é movida por fazer o bem ao próximo, elas vão encontrar a salvação; e o Pará Solidário salva vidas diariamente, reconstrói vidas, é Páscoa na vida de muitas pessoas todo dia, salva, inclusive, as nossas vidas que somos voluntários, padrinhos e madrinhas do ONG que vivemos essa transformação das pessoas de forma diária”, pontua Aline.

A ONG tem um projeto de apadrinhamento infantil, com quase 300 crianças assistidas que recebem alimentação completa, de padrinhos específicos. O Pará Solidário tem um projeto de distribuição de 200 cestas básicas para famílias cadastradas por mês. Sessenta pessoas são atendidas em um projeto odontológico, principalmente crianças. Profissionais de saude atendem pessoas nas comunidades de bairros; no bairro do Jurunas, são distribuídas 80 “quentinhas” por dia. No projeto Lar Solidário, são reconstruídas e construídas casas - 48 já foram construídas. Há também ações de aperfeiçoamento profissional, profissionalização e reforço escolar (38 crianças sendo alfabetizadas este ano e 20 com bolsas em escola particular.

image Buscar o bem-estar do próximo é o foco do Pará Solidário, em Belém (Foto: Thiago Gomes / O Liberal)

“Celebramos a Páscoa; as grandes festas que fazemos para as crianças são Páscoa, Dia da Criança e Natal. Há, sim, sempre uma ação de Páscoa, voltada para o Renascimento de Jesus Cristo, com explicação que a Páscoa não é só um dia, mas se perpetua durante o ano inteiro, e foi programada para a nossa sede no Aurá a distribuição de ovos e lanche, e no Jurunas uma contação de história e ovos”, destacou Aline Martyres. São mais de 500 famílias cadastradas e 2 mil pessoas são atendidas a cada mês. “Páscoa é viver de novo, mudança de hábito, agir e prol do bem estar do outro”, finaliza

Páscoa é viver uma nova vida

Para os cristãos, como explica o cônego Ronaldo Menezes, pároco de São Geraldo Magela, a Semana Santa é a semana mais importante de todo o ano, ela é chamada de “A Grande Semana” ou “Semana Maior”. Esse momento da Igreja remonta ao Século 2. “Por intermédio de Jesus, o Reino de Deus e tudo o que ele comporta se estabelece entre nós, e quando nós o acolhemos esse espaço de desunião que o pecado criou entre nós e Deus desaparece em Jesus Cristo”.

O mundo se apresenta em colapso por que a sociedade acaba, muitas vezes, deixando de lado Deus da sua vida, esquecendo-se desses eventos sagrados demarcadores da história. “A Semana Santa nos faz recordar que Deus não pode ser expulso da nossa vida, da nossa sociedade; os valores da fé são constitutivos, fundamentais não só da vida verdadeira, autêntica, saudável, mas de toda uma sociedade; uma sociedade que empurra Deus para fora dela não tem futuro; o futuro só é possível pela presença de Deus”, enfatiza o cônego Ronaldo. 

Páscoa fortalece os laços familiares

Além de promover a solidariedade e o sentido de renovação da esperança, a Páscoa também costuma ser uma data de estreitamento dos laços familiares. Na casa da dentista Sissy Mendes, de 55 anos, a data sempre foi comemorada com a família unida, mesmo nos momentos mais difíceis, como foi o da pandemia de covid-19.

Sissy conta que, durante o período mais crítico da pandemia, com o isolamento social restringindo as possibilidades de ir e vir, alguns membros da família precisaram da tecnologia para não deixar de lado a tradição:

"Na pandemia, meu filho mais velho ficou em uma fazenda no Marajó porque ele não podia circular, mas com a internet a gente conseguiu fazer as orações juntos por videochamada. Ela passou o aniversário e Páscoa distante, mas o sentido foi o mesmo", garante Sissy.

Ela conta que a tradição familiar começou com a avó, que já é falecida, e foi repassada a ela pela mãe, dona Maria da Graça, de 75 anos, com quem mora atualmente. Geralmente, os encontros da família Mendes ocorrem em revezamento entre as casas dos parentes. Este ano, será na casa da matriarca.

"No domingo, cada um leva alguma coisa, a gente faz a oração de Páscoa e, no final, uma troca de presentes. Se tiver criança, a gente esconde os ovos. Quando a gente não consegue no almoço de domingo, a gente faz uma reunião no fim da tarde, mas geralmente é almoço mesmo".

image Família Mendes: confraternização na fé em Deus, a partir do exemplo de Jesus (Foto: Família Mendes / Arquivo Pessoal)

Sissy comenta que é muito importante garantir a permanência das tradições e que buscou ensinar aos seus filhos a importância de manter a família unida: “ As minhas filhas se reúnem uma vez na semana para fazer um evento em família, os primos marcam um vôley para ir se agregando e não dispersar. A internet também veio para ajudar, ainda mais os que moram fora da cidade”.

Para a psicóloga Christiane Macedo, especialista em relacionamento parental, essa é uma das grandes vantagens da data: “É uma oportunidade de criação e manutenção de vínculos de afeto, amor e cuidado de relacionamentos sociais e familiares. É uma celebração familiar, assim como o Natal, onde há reunião, almoços, idas à missa etc.”.

Momentos como esse também tendem a trazer benefícios à saúde mental: “Os conhecimentos compartilhados nesses dias são muito fortes. A prática de ser bem receptivo, sem diferenciar ou apontar erros e acertos uns dos outros, exercitar o perdão, comunhão e renascimento, melhora a saúde mental de todos. Esse sentimento de ser bem-vindo, tende a prolongar o sentido de unidade, de querer voltar, não só em datas comemorativas, mas todas as vezes que quisermos ter aquele momento com as pessoas que fazem parte da nossa constituição enquanto sujeitos”.

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