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Musculação pode prevenir e tratar sequelas de doenças neurodegenerativas

Universidade convoca pessoas com Parkinson e ELA para praticar o exercício por meio de projeto de extensão

Camila Guimarães e Saul Anjos

A musculação é um dos exercícios físicos mais eficientes para combater e prevenir sequelas de doenças neurodegenerativas, ou seja, que envolvem a morte gradual de células do sistema nervoso, conforme apontam diversos estudos. Um deles, publicado no início do mês de junho por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e Federal de São Paulo (Unifesp) na revista Frontiers, revela que a musculação pode prevenir ou ao menos atrasar o aparecimento de sintomas de Alzheimer. Na Universidade do Estado do Pará (Uepa), estudos nesta linha também são desenvolvidos, investigando os benefícios em pacientes com Parkinson e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

O educador físico e doutor em neurociências, Alexandre Maia, explica que estudos como os de São Paulo só confirmam conclusões que várias pesquisas no mundo já têm apontado: de que são inegáveis os benefícios da atividade física para a saúde da mente, especialmente os exercícios resistidos, que são aqueles realizados pelo emprego de força. No caso da musculação, a prática tem se destacado como um importante promotor de neuroproteção:

"A massa muscular não é entendida, hoje, apenas como um órgão relacionado ao movimento humano, mas como um órgão secretor de várias moléculas que vão gerar benefícios em diferentes regiões do corpo, prevenindo doenças e retardando processos degenerativos. Vários estudos relataram que a massa muscular produz em torno de 500 substâncias - moléculas que vão gerar fatores protetores quando o corpo humano é exposto à atividade física", comenta o professor.

Alexandre menciona pelo menos duas moléculas produzidas pelas fibras musculares quando exercitadas, a BDNF e a IGF1. A primeira é responsável por gerar plasticidade celular, aumentar a sobrevivência de células cerebrais e estimular a neurogênese, que é o processo de produção de novas células. A segunda, estimula o desenvolvimento celular e , "no caso de pessoas acometidas por Alzheimer, ajuda a prevenir e a retardar o desenvolvimento da doença, uma vez que tem ação importante sobre proteínas que se aglomeram no cérebro e causam a diminuição das conexões nervosas e, inclusive, a perda dos neurônios", explica.

O professor pontua que já há estudos mostrando que, quanto mais força, maior é a longevidade de um indivíduo e menos número de hospitalizações ao longo da vida. A prática da musculação também beneficia a cognição, a memória, as capacidades funcionais e diminui os níveis de dependência que uma pessoa tem na realização das tarefas do dia a dia.

Apesar de grande parte do público das academias ser formado por pessoas mais jovens, o professor Alexandre é enfático ao afirmar que a musculação é uma das atividades físicas mais indicadas para quem já atingiu a melhor idade. "Não existe idade limite para praticar atividade física, inclusive a musculação. Hoje ela é o principal exercício para quem está entrando na fase senil, que tem muita perda de força e atrofia muscular e isso impacta negativamente, não só na qualidade de vida, mas também nas atividades fisiológicas, funcionais e metabólicas desse indivíduo. Para tentar manter a qualidade dessas funções, a gente precisa fazer com que nossos idosos pratiquem atividade física, mas não é uma simples caminhada ou hidroginástica - a ciência tem apontado que exercícios de força, de musculação, precisam fazer parte da rotina de idosos", afirma.

Projeto convoca pessoas com Parkinson e ELA

Na Uepa, o professor Alexandre Maia coordena o 'NeuroForça', um projeto de extensão voltado para o estudo dos impactos da atividade física, especificamente a musculação, sobre a saúde de pessoas diagnosticadas com Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica, doença conhecida como ELA.

Conforme a definição do Ministério da Saúde, Parkinson é uma doença neurológica, causada pela degeneração das células situadas numa região do cérebro chamada 'substância negra', que afeta os movimentos da pessoa. Causa tremores, lentidão, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Sem cura, a doença tem apenas tratamento, que em muitos casos pode retardar a sua evolução.

Já a ELA é uma doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso que provoca paralisia gradual e morte precoce, como resultado da perda de capacidades essenciais, como falar, movimentar, engolir e até mesmo respirar. Também sem cura, a doença apresenta um índice de apenas 25% de pacientes que sobrevivem por mais de cinco anos depois do diagnóstico.

No projeto, o professor diz que os pacientes praticam musculação como uma forma de retardar a evolução das doenças: "O projeto consiste em aplicar musculação para esse grupo (pessoas diagnosticadas com Parkinson e ELA) é objetivando melhoras motoras, recuperação do equilíbrio e da força muscular. Além disso, a gente também busca melhorias neurais e investiga, inclusive, melhoras que ocorrem na memória tardia, memória recente, na memória de aprendizado e na memória espacial em decorrência da aplicação do exercício físico”, informou.

Alexandre destaca que o projeto ainda precisa de mais participantes, por isso, convida pessoas diagnosticadas com alguma dessas doenças a participar do NeuroForça: "O projeto acontece a partir de agosto, nos dias de segunda, quarta e sexta, pela tarde, a partir das 15h. A gente tentou começar neste semestre, mas a procura foi muito baixa. Para fazer a matrícula é só ir no Núcleo de Extensão da Uepa e fazer a inscrição por lá".

Treino e saúde

Ana Rita Cunha, de 67 anos, treina musculação desde muito jovem. O aparecimento de certas dores no corpo é prevenido com o treino, segundo Ana. “Já praticava academia desde que era muito novinha. Sempre gostei. Minha vontade era ter feito Educação Física. Fui para outro ramo e fiquei só praticando. De vez em quando, aparece umas dorzinhas no joelho e aqui (academia) venho fortalecer e melhora. Chego aqui (academia) às 6h30 e, quando tem boxe, saio 9h. A musculação é importante para a postura, fortalecimento muscular e o bem-estar, só de estar convivendo com os colegas e os professores”, disse ela, que, além de praticar musculação e boxe, faz pilates.

O personal trainer Simão Alves, 31, da Mega Traning Academia, é quem auxilia Ana Rita no treino. Ele diz que a prática de exercícios físicos vai muito além da estética, e sim, trazer inúmeros benefícios, como por exemplo, o combate a diabete, sedentarismo e osteoporose. “Sempre temos que estar em movimento, seja praticando musculação ou outro esporte para retardar possíveis doenças que tu já tenhas ou para que elas nem apareçam”, relatou.

Com uma certa idade, doenças neurodegenerativas - condições responsáveis pela degeneração progressiva ou morte dos neurônios - podem vir aparecer. Para que isso não aconteça, a musculação na recuperação nos quadros clínicos de pessoas que possuem Alzheimer ou Mal de Parkinson. “A gente consegue evoluir vários quadros de doenças degenerativas, Alzheimer e Parkinson, com a prática da musculação. Quando não há cura, existe uma melhora desse quadro”, esclareceu Simão.

A maior dica que o educador físico dá é: praticar exercícios físicos. Já com os cuidados na academia, ele explica que os interessados devem apresentar o histórico de saúde. “É bom que a pessoa diga se tem alguma doença preexistente, uma lesão diagnosticada ou um desconforto em alguma região do corpo, que é muito comum um idoso ter. Quanto mais informação você passar e o professor souber, melhor, para ele (personal trainer) te encaminhar para as tuas necessidades”, concluiu.

SERVIÇO:

Local: no Núcleo de Extensão do Curso de Educação Física (Nuex), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), localizado na Av. João Paulo II, nº 817, bairro do Marco

Data: as pessoas poderão se inscrever a partir da próxima segunda-feira (24)

Horário: pela manhã

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