Jovens autistas quebram barreiras e chegam ao Ensino Superior

Espaço se abre a cada dia para pessoas inteligentes que antes eram invisíveis, segundo especialistas da universidade

Vanessa Von Rooijen
fonte

Lucas Moura Quaresma é autista. Formado em design de produtos, ele escreve HQs e histórias em quadrinhos. Tem 25 anos. Michele Ramos tem 30. Também é autista e cursa Pedagogia na Universidade Federal do Pará (UFPA). O Ensino Superior aproxima os dois, que são exemplos de que oportunidades ampliadas de graduação tornam cada vez mais comum a presença de autistas nas salas de aula, e comprovam sa capacidade de aprender e trabalhar.

image Formado em design de produtos, Lucas Quaresma escreve HQs e já tem oito livros lançados (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

O gosto de Lucas pelo desenho, sentido aos 4 anos, é também sua possibilidade de expressão. Suas personagens e narrativas abordam temáticas que envolvem as pessoas que o cercam. Thayz Magnago, amiga de Lucas que o ajuda no trabalho, conta que a ideia de lançar os quadrinhos surgiu quando ele estava concluindo o curso. As dificuldades de ingresso no mercado levaram ao lançamento de coleções dos livros. “Hoje, são oito lançados e muito mais no site de Lucas”, listou. “Precisamos entender como agir e eles precisam saber que são autistas para comemorarem as vitórias”.

No sexto semestre de Pedagogia, Michele Ramos já sabe o que vai fazer depois de se formar: “Vou ser professora de crianças com autismo”, definiu. Seu trabalho de conclusão de curso também será sobre o autismo. “Eu estou muito feliz de estar na universidade. É algo que eu sempre quis”. Ela sabe que autistas possuem características peculiares e precisam de atenção diferenciada. Incluídos nas cotas para pessoas com deficiência, eles são atendidos por equipes e projetos de apoio, com dinâmicas próprias de aprendizagem.

Segundo Rosilene Rodrigues Prado, professora e mestre em Psicologia e Psicopedagoga Clínica e Institucional, integrante da Coordenadoria de Acessibilidade da Superintendência de Assistência Estudantil da UFPA, os autistas entendem os conteúdos ensinados, mas são necessárias adaptações com base no que eles têm vivido e gostam. “Trabalhamos a autonomia”, explicou. Ela diz que o autista é capaz de tudo e que há uma nova expectativa para pessoas que estão ganhando espaço em um mundo onde antes eram invisiveis.

image No sexto semestre de Pedagogia, Michele Ramos já sabe o que vai fazer depois de se formar: “Vou ser professora de crianças com autismo” (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, o autismo afeta três áreas: a comunicação, a interação social e o comportamento, que é restrito e repetitivo. “As características clínicas são falta de interação, déficit no foco visual ausência e atraso na fala e na coordenação motora”, explica a especialista. O diagnóstico pode ser feito nos primeiros anos de vida - porque as características são únicas e perceptivas -, mas somente uma equipe formada por neuropediatra, psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo pode chegar a ele. Com três níveis de intensidade - leve, moderado e grave - o autis, sempre exige acompanhamento e atendimento.

Foco deve se tornar prioridade

A psicóloga Natália Almeida, que também dá suporte ao estudantes da UFPA, explica que os autistas possuem áreas de interesse, algo de que gostam muito, sobre o qual procuram todo o conhecimento e em que sempre vão ser muito bons: esse foco de interesse é que precisa ser descoberto, para utilizá-lo na escolha do curso e no alcance da autonomia. “Essa facilidade e alto conhecimento está presente em muitos autistas”, afirma a psicóloga. “Ao encontrarem algo de que realmente gostam, dedicam-se para se tornarem especialistas.”

 

 

 

Amor por ônibus cria carreira

Ao descobrir que seu filho era apaixonado por ônibus, Arlene Paixão incentivou-o a conhecer mais sobre o assunto. Hoje, Igor cursa o terceiro semestre de Ciências da Computação na UFPA e pretende atuar na área de transportes. “Ele não gostava de coisas da idade dele, aprendia as coisas sozinho, porque não tinha apoio da escola, e sofria muito preconceito. Não existia adaptação”, comentou. Para ela, ficou a lição de que é preciso aceitar diferenças e aplicar isso no ensino. A mãe também concorda com o acerto de utilização dos focos de interesse

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱

Palavras-chave

Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM