Na Terra Firme, moradores precisam abaixar os vidros dos veículos para evitarem assaltos
O mesmo acontece no Barreiro. Neste, os traficantes proibiram violência contra a mulher
Pesquisa mostra que, na passagem Ligação, na Terra Firme, em Belém, no que continua ocorrendo até hoje, os moradores que usam veículos têm que abaixar os vidros e diminuir a intensidade do farol, para que possam ser identificados. É um dos códigos utilizados. O mesmo acontece no Barreiro. Neste, os traficantes proibiram violência contra a mulher.O estudo foi feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Pará, facções criminosas se enfrentam pelo domínio de territórios.
VEJA MAIS
“É uma coisa que está se construindo ainda. Alguns códigos são lançados. É proibido assalto nas comunidades. E casos de violência na área, como, por exemplo, contra a mulher, também estão proibidos”, afirmou o professor doutor Aiala Colares Couto, da Universidade do Estado do Pará (Uepa),. Ele disse que, com o crescimento do tráfico de cocaína na Amazônia, Belém fica em evidência nas disputas pelo controle do mercado da droga, pois ela se constitui como importante “nó” da interação espacial das redes do crime organizado na região.
"Se não fossem os traficantes, os bairros seriam mais 'bagunçados'', dizem moradores
As facções criminosas do Brasil também criam articulações com grupos criminosos dos países da América do Sul. A Amazônia é cercada por estas facções e sendo então uma área de trânsito da droga, criam-se estratégias em conjunto para que a mercadoria ilícita possa entrar pelas fronteiras do Brasil, alcançando, assim, os principais mercados.
“E, desse modo, as facções brasileiras dependem de tais relações para receberem as drogas e colarem em pleno funcionamento a venda de cocaína, ecstasy e skank no mercado interno e nas transações que envolvem o mercado global. Em outras palavras, criar estratégias de territorialização com as facções locais e regionais é praticamente uma regra obrigatória para as facções do sudeste do Brasil”, afirmou Aiala.
Ele acrescentou que, em algumas áreas, também foram proibidas brigas de torcidas organizadas. Os membros dessas facções argumentam que esses tipos de conflitos (entre os quais os gerados pelos assaltos) atraem a polícia, “que esculacha os moradores e compromete o mercado da droga”. “Por isso, há essa dualidade entre os que aprovam e os que condenam mesmo se aproveitando dos ‘benefícios’ que o tribunal do crime gera consequentemente”, explicou.
Aiala conversou com umas 12 pessoas que relataram a ele que recorreram aos traficantes da área. “E há quem diga que a resposta foi imediata e eficaz - ou seja, muito mais rápido do que o serviço dos órgãos de segurança pública. Os relatos foram de moradores do Barreiro, do bairro das Águas Lindas e Aurá. Eles disseram acreditar que, se não fosse o tráfico de drogas, seriam mais ‘bagunçados’ os bairros”, afirmou.
Palavras-chave