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Zoomorfismo nos desenhos de Isandra dos Santos

Jovem de 21 anos, que tem surdez profunda e atraso cognitivo, mistura o universo dos cavalos com as formas humanas

Bruna Lima

O amor por cavalos transporta a jovem artista Isandra dos Santos, 21, para um mundo lúdico do zoomorfismo, onde, por meio de seus desenhos mistura figuras humanas com o universo de cavalos. Isandra nasceu com surdez profunda e, recentemente, foi diagnosticada com atraso cognitivo. Mas nada disso interfere nos sonhos da jovem que pretende viver de seus desenhos.

Isandra se comunica por libras e sua mãe, Isabelle dos Santos, é sua principal intérprete. Professora de Artes Visuais, a mãe disse que sempre deixou livre a manifestação artística da filha. "Por desconhecimento de muitos pais, geralmente há uma certa restrição em deixar os filhos mostrarem suas habilidades. Um exemplo disso é quando as crianças riscam as paredes", diz Isabelle, que também desenha.

Mesmo com dificuldade de comunicação, aos três anos de idade Isandra mostrou a paixão por cavalos. Ela pediu um cavalo de brinquedo exposto em um camelô e, a partir daí, começou a estabelecer o vínculo com o zoomorfismo. "Quando ela começou a desenhar, em tudo tinha cavalos e o mais interessante é que desde sempre ela fazia essa mistura da figura humana com os cavalos", completou a mãe da artista.

Isandra costuma pegar suas referências e transformar para o universo dos cavalos. Ela já fez versão da turma da Mônica, do Jurassic Park, Eward (personagem do filme "Mãos de Tesouras"), entre outras figuras do seu universo lúdico.

Os desenhos dela têm uma marca própria. A jovem mistura os personagens que gosta com as figuras de cavalos. "Ela diz que se sente como um cavalo e quando está desenhando ocorre essa transformação", conta a mãe.

A sensibilidade de Isandra é imensa e, em alguns momentos, deixa-a em crises de ansiedade. No ano passado, a jovem passou quase o ano todo sem desenhar, pois estava ocupando mais o tempo com a preocupação com as causas sociais do mundo. Ela se preocupa com as questões da fome, do meio ambiente, violência, entre outras questões que ameaçam a humanidade.

"Apesar desse atraso cognitivo ela é muito avançada e está muito ligada às questões sociais e políticas do mundo. Como parte do tratamento, hoje eu não deixo ela passar muito tempo na internet, pois ela fica muito angustiada e ansiosa quando se depara com notícias que comprometem o social", completa a mãe da jovem. Uma das terapias de Isandra é a equoterapia, que é um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar. Ela passou a usar o método ainda na adolescência, quando os pais tiveram conhecimento 
que a Polícia Militar proporcionava o tratamento. "Ela se sente muito bem e ama participar desse projeto. Esse é um dos universos que ela transporta para os seus desenhos. Ela já fez vários desenhos com essa temática", acrescenta a mãe da jovem. Isandra chegou a expor seus desenhos em uma exposição e já ilustrou um livro do projeto da PM.

O Liberal