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Tuberculose mata mais de 1,2 milhão de pessoas por ano, aponta OMS

OMS divulgou novo relatório destacando a persistência da doença como uma das mais letais, com países asiáticos e africanos liderando novos casos

Estadão Conteúdo

A tuberculose permanece entre as doenças infecciosas mais letais do mundo, segundo um relatório global divulgado nesta quarta-feira, 12, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No ano passado, a doença causou cerca de 10,7 milhões de novos casos e mais de 1,2 milhão de mortes.

A OMS indicou que 87% das novas infecções em 2024 se concentraram em 30 países. Desses, oito foram responsáveis por 67% do total global: Índia (25%), Indonésia (10%), Filipinas (6,8%), China (6,5%), Paquistão (6,3%), Nigéria (4,8%), República Democrática do Congo (3,9%) e Bangladesh (3,6%).

Transmitida pelo ar, a tuberculose se espalha em ambientes com aglomeração, afetando principalmente os pulmões, mas podendo acometer outros órgãos. Os sintomas mais frequentes, conforme o Ministério da Saúde, incluem tosse com secreção, cansaço excessivo e emagrecimento acentuado.

Desafios Globais e Avanços Regionais

"O fato de a tuberculose matar mais de um milhão de pessoas por ano, apesar de ser prevenível e curável, é simplesmente inadmissível", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. Ele ressaltou que a entidade trabalha para acelerar o progresso e alcançar a meta de eliminação da doença até 2030.

Algumas regiões, entretanto, mostram sinais de melhora. Entre 2015 e 2024, a África registrou redução de 28% na incidência e de 46% nas mortes por tuberculose. Na Europa, as quedas foram de 39% e 49%, respectivamente. Nesse período, mais de 100 países diminuíram as taxas de incidência em ao menos 20%, e 65 tiveram queda de 35% ou mais nas mortes.

A recuperação global, contudo, ainda é lenta. Entre 2023 e 2024, a taxa mundial de novos casos caiu apenas 2%, enquanto as mortes diminuíram 3%. A OMS alerta para desafios de financiamento e desigualdades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento.

Impacto e Fatores de Risco da Tuberculose

O relatório estima que o tratamento contra a tuberculose salvou 83 milhões de vidas desde 2000. Em 2024, 8,3 milhões de pessoas foram diagnosticadas e iniciaram tratamento, representando 78% dos que adoeceram no período. No mesmo ano, 5,3 milhões de indivíduos com alto risco receberam terapia preventiva.

A OMS também divulgou, pela primeira vez, dados sobre proteção social nos 30 países com alta carga da doença. Essa estratégia busca mitigar os determinantes sociais relacionados ao quadro. A cobertura varia de 3,1% em Uganda a 94% na Mongólia, e 19 países têm níveis inferiores a 50%.

O relatório chama atenção para fatores de risco que impulsionam a epidemia, como desnutrição, HIV, diabetes, tabagismo e consumo de álcool. Questões estruturais, como pobreza e dificuldade de acesso a serviços de saúde, também são citadas.

No Brasil, embora o país não esteja entre os que concentram mais casos, foram registrados 84.308 novos diagnósticos no último ano. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que quase 40% das infecções no país têm origem em transmissões iniciadas no sistema prisional.

"O que vemos nas prisões são, em sua maioria, pessoas negras e pardas, de baixa renda e escolaridade, que acabam expostas a condições que aumentam o risco de adoecimento", explicou o infectologista Julio Croda, um dos responsáveis pelo estudo brasileiro.

O Alerta sobre o Financiamento

O cenário de financiamento é preocupante. O investimento global está estagnado desde 2020 e, em 2024, apenas US$ 5,9 bilhões foram destinados à prevenção, diagnóstico e tratamento. Esse valor está abaixo da meta anual de US$ 22 bilhões prevista para 2027.

A OMS alerta que a manutenção desse subfinanciamento pode levar a até 2 milhões de mortes adicionais e 10 milhões de novos casos de tuberculose entre 2025 e 2035.

A pesquisa para inovação em tuberculose também sofre com a falta de recursos. Em 2023, o financiamento atingiu apenas US$ 1,2 bilhão, o que corresponde a 24% da meta definida pela OMS. A organização afirma liderar esforços para acelerar o desenvolvimento de novas vacinas.