Quem é o bispo nomeado para conversar com a comunidade LGBT+ no Brasil
Dom Arnaldo será o orientador das ações da Rede Nacional de Grupos Católicos que há mais de 15 anos congrega grupos LGBT+ de várias regiões do país
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nomeou o bispo de Jundiaí, dom Arnaldo Carvalheiro Neto, para ser o responsável pelo diálogo com a comunidade LGBT+ no Brasil. A missão terá duração de três anos, conforme documento datado de 17 de outubro.
Dom Arnaldo, de 58 anos, passa a ser a principal referência no clero para o acompanhamento pastoral dos grupos católicos envolvidos com as comunidades LGBT+. Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+, classificou a nomeação como "um sopro da atualização da Igreja".
O bispo orientará as ações da Rede Nacional de Grupos Católicos, que há mais de 15 anos congrega pessoas LGBT+ de diversas regiões do país. Embora a nova missão seja nacional, ele continuará como bispo diocesano de Jundiaí. "A CNBB me confiou um papel de articulação, assim todos os grupos podem entrar em contato e partilhar suas necessidades, pedir orientação e dialogar com a Igreja local", explicou dom Arnaldo.
O novo papel de Dom Arnaldo na Igreja
A nomeação de dom Arnaldo como interlocutor da comunidade LGBT+ resultou de um discernimento da presidência e das comissões do clero da CNBB, que identificaram essa necessidade. O convite foi feito pessoalmente pelo secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers.
Segundo a CNBB, apesar de ser referência nacional para estes grupos católicos, a função de dom Arnaldo não substitui a autoridade dos bispos em suas respectivas dioceses. Seu papel será de mediação e promoção do diálogo, incentivando ações de caridade em grupos, nas igrejas particulares ou núcleos envolvidos com a comunidade LGBT+.
Dom Arnaldo acredita que pode ajudar os fiéis dessas comunidades a estarem próximos de Deus, "em um espaço de escuta, discernimento e de comunhão, em que serão acompanhados sem ideologias ou reducionismos".
Acolhimento e a doutrina católica
Recentemente, o papa Leão XIV reafirmou a doutrina tradicional da Igreja sobre a família, mas também deixou claro que a comunidade LGBT+ é bem-vinda à Igreja, como havia feito o papa Francisco. "Acolher com misericórdia não significa aprovar tudo, relativizar a verdade ou renunciar ao discernimento, mas, sim, e especialmente olhar cada pessoa com a mesma dignidade que Cristo reconhece nela", afirmou o bispo em texto divulgado pela diocese.
Em sua rede social, a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTQIA+ expressou louvor pelos sinais de comunhão que iluminam o caminho da Igreja no Brasil. "A nomeação foi recebida com profunda gratidão, reconhecendo que ela é fruto da caminhada fiel, madura e comprometida de todas e todos nós, cristãos leigos e leigas que têm testemunhado o Evangelho da dignidade, da misericórdia e da acolhida em nossas comunidades", manifestou a Rede.
"Um sopro de atualização da Igreja"
Na diocese de Jundiaí, a pastoral LGBTQIAPN+, criada em 2021, realiza encontros mensais que incluem momentos de oração, escuta, conversas, leituras e formação doutrinária e espiritual. Samuel Vidilli, gestor de comunicação da diocese, ressalta: "Os grupos LGBT são grupos reais, de carne, osso, além de fé, dúvidas lutas e esperança. São gays, lésbicas, bissexuais, etc, e muitos foram batizados e criados na Igreja Católica."
Vidilli complementa que o papel do bispo é profundamente eclesial: acompanhar, acolher, escutar, orientar, rezar junto e garantir a comunhão com a Igreja. Toni Reis, da Aliança Nacional, lembrou que a entidade lançou um manual de cristianismo e LGBT+, que auxilia na compreensão das doutrinas da Igreja e na inserção dessas comunidades no mundo cristão.
Reis, que se identifica como gay, católico, apostólico romano, casado e pai de três filhos batizados, viu a nomeação como um "sopro de atualização da Igreja". Ele recorda que a Santa Inquisição matava pessoas "como nós" na fogueira. "Agora, nomeando um bispo para nos acompanhar, é uma evolução enorme", declarou.
"A gente acredita que algo está mudando e isso é muito bacana. Nós passamos por essa história pecaminosa na Idade Média, depois fomos criminalizados e até tratados como doentes. Esses três estigmas persistem, mas essa nomeação é um sopro de esperança de que a gente pode ter instituições que acolham e respeitem a diversidade humana. Pode ser um pequeno passo para a CNBB, mas um grande passo para nossa comunidade", concluiu Reis.
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