MENU

BUSCA

Polícia de SP indicia mais três em caso de estudante trans da Unesp

Estadão Conteúdo

A Polícia Civil de São Paulo indiciou mais três pessoas no caso do desaparecimento da estudante trans Carmen de Oliveira, da Unesp de Ilha Solteira. O delegado Miguel Gomes da Rocha Neto, que investiga o caso, já havia indiciado o policial militar da reserva Roberto Carlos de Oliveira e Marcos Yuri Amorim, então namorado de Carmen e suposto amante de Oliveira.

Ambos estão presos sob a suspeita de feminicídio contra Carmen, ocultação do cadáver da estudante e fraude processual. A reportagem não conseguiu contato com as defesas da dupla.

A lista de indiciados aumentou e a polícia também investiga:

- Estephane Pereira Guimarães (ex-namorada de Marcos Yuri) por falso testemunho;

- Wellington Fernando Ramires Adorno (amigo de infância de Marcos Yuri) por favorecimento pessoal, supressão de documentos e fraude processual;

- Paulo Henrique Messa (vizinho de Marcos Yuri) por favorecimento pessoal, ocultação de cadáver e falso testemunho.

A defesa dos três citados também não foi localizada.

"São cinco indiciados ao todo. Os dois principais suspeitos (Roberto Carlos de Oliveira e Marcos Yuri Amorim). Indiciei mais uma pessoa por falso testemunho, que é uma ex-namorada do Marcos Yuri; indiciei um amigo de infância por favorecimento pessoal. E indiciei um vizinho dele que, provavelmente, ajudou na ocultação do cadáver", disse o delegado Rocha Neto, ao Estadão.

Carmen de Oliveira Alves desapareceu em 10 de junho, em Ilha Solteira, no interior de São Paulo, e a polícia acredita que ela tenha sido vítima de feminicídio dois dias depois, em 12 de junho. O corpo dela ainda não foi encontrado. Carmen cursava o último ano de Zootecnia no campus da Unesp em Ilha Solteira.

Marcos Yuri e o policial militar estão presos preventivamente desde 10 de julho. Nenhum dos dois confessa o crime, mas ambos atribuem ao outro a responsabilidade pelo desaparecimento e a morte de Carmen. Eles mantinham um relacionamento afetivo e também financeiro, já que o PM da reserva sustentava Amorim, numa espécie de relação de "sugar daddy".

De acordo com o delegado Miguel Rocha Neto, a dupla teria planejado a morte de Carmen devido às pressões que ela vinha fazendo para que Yuri assumisse o relacionamento. Segundo a investigação, ela preparava um dossiê contra o rapaz, que teria cometido furtos, e o ameaçava de denúncia caso não a assumisse publicamente.

Versões

No dia 6 de agosto, o PM da reserva Roberto Carlos de Oliveira disse em depoimento que Marcos Yuri teria matado Carmen e que ele próprio não teve participação no crime. Chegou a apresentar um álibi, relatando que estaria em uma loja com outra pessoa no momento em que a estudante foi assassinada.

Após as declarações de Oliveira, Amorim resolveu apresentar sua versão. Até então em silêncio, afirmava que só falaria em juízo, mas mudou de postura depois do depoimento do policial.

Aos investigadores, o ex-namorado de Carmen contou que estava no sítio com a jovem quando ambos brigaram e ela o ameaçou com uma faca. O rapaz então a empurrou, fazendo com que Carmen caísse, batesse a cabeça e desmaiasse.

Sem saber o que fazer, Amorim disse ter ligado para Oliveira e pedido ajuda. O PM da reserva foi até o local, encontrou Carmen ainda inconsciente e, segundo o depoimento de Amorim, bateu na cabeça dela com uma barra de ferro. Em seguida, com uma faca, Oliveira teria cortado o pescoço da vítima.

Os dois arrastaram o corpo até o curral, e dali Oliveira teria descartado o cadáver - sem que Amorim explicasse onde. O corpo de Carmen nunca foi localizado e segue sendo procurado.

Aguardo de exames

O inquérito já foi concluído e submetido à Justiça, mas, segundo o delegado, algumas diligências ainda estão sendo realizadas. Dados do notebook do ex-namorado da vítima e do celular do policial militar também estão sendo extraídos, informou Rocha Neto.

A polícia coletou amostras de DNA do sapatênis de Marcos Yuri e também de uma lona que pertence ao Roberto. Também foi encontrado sangue de Marcos Yuri na casa onde Carmen pode ter sido assassinada. "Esse laudos de extração de DNA devem demorar de 4 a 6 meses para chegar", disse o delegado.

A Secretaria de Segurança Pública informou que, durante a investigação, foram realizadas duas reconstituições "e a autoridade policial aguarda os resultados dos laudos de confronto genético, que serão encaminhados ao Poder Judiciário para complementar o relatório da investigação".

Corpo segue desaparecido

O corpo de Carmen ainda não foi localizado. Uma ossada chegou a ser encontrada durante as investigações, mas exames apontaram que o material era de origem animal. Apesar dos depoimentos apontarem para o assassinato, os principais suspeitos não deram informações sobre o paradeiro do cadáver de Carmen.

"Quando indagados sobre o destino que foi dado ao corpo da vítima, os envolvidos não falaram onde foi enterrado o corpo ou o que foi feito com o corpo da vítima e se negaram a prestar esclarecimentos sobre esse fato da ocultação do cadáver", disse o delegado Rocha Neto.

"Nem as testemunhas, nem os indiciados e nem os demais envolvidos têm notícia de onde está o corpo da vítima. Em que pesem as inúmeras diligências realizadas nos últimos 90 dias. Então, a localização do corpo ainda está em aberto", acrescentou.