'Constrangido por ter feito tanto por essas crianças', diz Hytalo em depoimento à Justiça
A declaração foi revelada em reportagem exibida pelo Fantástico neste domingo (30)
O influenciador digital Hytalo Santos, preso desde agosto sob acusação de exploração sexual de menores, afirmou à Justiça sentir-se "constrangido". Ele declarou ter "feito tanto" pelas crianças e adolescentes apontados como vítimas no processo criminal.
Questionado pelo juiz, Hytalo Santos negou que suas condutas infringissem o artigo 240 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Este artigo tipifica crimes como produzir ou divulgar pornografia envolvendo menores.
"Eu me sinto até um pouco constrangido por ter feito tanto por essas crianças e adolescentes", disse o influencer. "Dói muito ter que responder a este processo".
Acusações do MP
Segundo o Ministério Público da Paraíba (MP-PB), Hytalo Santos e seu marido, Israel Nata Vicente (Euro), publicavam vídeos e fotos. O conteúdo mostrava crianças e adolescentes dançando de forma sexualizada na residência do casal, em Bayeux.
O influenciador alega que a aproximação com os jovens tinha o consentimento dos pais. O MP-PB, que monitora o casal desde 2020, solicitou moderações nos conteúdos divulgados nas redes sociais.
O Ministério Público sustenta que o casal lucrava com os vídeos. Após investigações, o órgão indiciou Hytalo e Euro por exploração sexual, produção e divulgação de pornografia infantil e tráfico humano.
Em agosto, a Justiça da Paraíba acatou a denúncia do MP e expediu mandado de prisão preventiva contra os dois. Eles foram detidos em Carapicuíba (SP) e atualmente estão presos em João Pessoa.
Defesa e Versão do Influencer
A defesa de Hytalo e Euro nega que o conteúdo seja pornográfico. Afirma que, embora as coreografias sejam sensuais, a sensualidade não configura crime.
"Eles podem ser vistos como atos sensuais, mas a lei não criminaliza o ato sensual. Ela criminaliza o ato pornográfico. E a pornografia não está demonstrada", disse o advogado Sean Kompier Abib ao Fantástico.
Ao juiz, Hytalo Santos atribuiu as danças à sua origem e ao aspecto cultural da região. Ele declarou que "nunca chegou a gravar vídeos com cenas pornográficas ou de cunho sexual".
Segundo o influencer, eles gravavam a rotina com a cultura da periferia, de onde ele vem. O brega funk é o ritmo mais escutado entre Recife e João Pessoa, e presente em todo o Brasil.
Ele acrescentou que "as coreografias e os passos usados são vistos por alguns com esse olhar, mas para a periferia e para a arte, não". Hytalo Santos negou que as letras das músicas fossem "apelativas" ou "obscenas".
A promotoria aponta que o influenciador estimulava jovens a praticar relações sexuais. Hytalo Santos rebateu esta acusação, afirmando: "Nunca influenciei ninguém a ter relacionamento afetivo".
Ele complementou que filmava relacionamentos com o acompanhamento das mães, "preferindo isso a que fizessem escondido".
Andamento das Investigações
Na última sexta-feira (28), o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) rejeitou mais um pedido de soltura para o casal. A defesa insistia que o processo deveria ser analisado pela Justiça Federal.
O juiz, porém, decidiu manter a prisão preventiva, alegando que o argumento já havia sido apresentado em pedidos anteriores.
As investigações são conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O órgão descreve um esquema de exploração sexual de vulneráveis.
Segundo o Gaeco, adolescentes eram atraídos com promessas de projeção nas redes sociais, vantagens financeiras e outros benefícios.
O Ministério Público identificou controle rígido sobre a rotina dos jovens. Também foram notados procedimentos estéticos e tatuagens com conotação sexual.
No processo, foi incluído um pedido de reparação por danos coletivos no valor de R$ 10 milhões.
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