Como exemplo de Santos pode inspirar São Paulo contra queda de árvores e apagões
Assim como São Paulo, Santos também foi atingida pelos fortes ventos resultantes da passagem do ciclone extratropical pelo Brasil nesta semana. O município do litoral paulista, porém, não teve problemas com blecautes.
Santos tem desde 2023 um plano da Defesa Civil preventivo e de ação em emergências especialmente voltado ao problema da queda de árvores. Nesta semana, a cidade registrou queda de 18 árvores de grande porte, seis galhos e cinco materiais como telhas em razão dos fortes ventos, que chegaram a 97 km/h.
Não houve vítimas, e os casos de interrupção de energia foram resolvidos em poucas horas, segundo o diretor do Departamento de Proteção e Defesa Civil de Santos, Daniel Onias Nossa.
"Por conta do plano, as respostas são mais rápidas", afirma Onias, que participou da construção desse documento desde o início. Segundo ele, a principal mudança foi "deixar de ser reativo para ser preventivo" em relação às quedas de árvores.
A iniciativa é um piloto desenvolvido com apoio técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com a participação de universidades, concessionárias de energia e outros serviços, e a Defesa Civil. A ideia é que a ferramenta de gestão seja adotada em outras cidades, como São Paulo e Campo Grande (ambas já em processo), para reduzir queda de árvores e gerar resposta mais rápida em emergências.
Assim como em outros tipos de desastres que afetam as cidades após fortes chuvas e rajadas de vento, a gestão de risco de queda de árvores exige estudos técnicos para avaliar a vulnerabilidade a eventos climáticos, mapeamento de áreas com maior risco e envolvimento de diferentes atores com papéis definidos antes, durante e depois dos eventos, o que inclui a capacitação de servidores, funcionários das concessionárias e lideranças comunitárias.
"Antigamente, era só enchente e inundação. Agora, queda de árvore está na lista dos problemas que a cidade tem quanto à sua resiliência, deve entrar no rol da Defesa Civil para gestão de risco", diz ao Estadão o pesquisador Sergio Brazolin, do IPT.
Monitoramento, integração e comunicação
Assim como São Paulo, Santos tem muitas árvores antigas e exóticas, que não são adequadas ao local de plantio ou ao tipo de solo local, aumentando o risco de queda.
Em novembro de 2023, quando outro ciclone devastador atingiu a capital e o litoral paulista com ventos de velocidade até maior, a Defesa Civil registrou o maior número de queda de árvores na cidade: 90.
Desde então, o plano preventivo vem sendo aprimorado para melhorar os alertas e preparar as equipes para atender rapidamente quando há ocorrências.
Santos é uma cidade média, com cerca de 430 mil habitantes, o que torna o esforço necessário nesses planos menor em relação à capital com quase 12 milhões de moradores. Mas a redução do impacto em menos de três anos é relevante.
O plano prevê quatro níveis de resposta:
Observação: recursos destinado a ações preventivas, como avaliação das árvores da cidade, podas e remoções Atenção: recursos prontos para acionamento em caso de emergência Alerta: acionamento parcial ou escalonamento de recursos para atender emergências Alerta máximo: gabinete de crise, mobilização total de recursos.
Durante o ciclone extratropical desta semana, a cidade passou ao estado de alerta para risco de queda de árvores, em que a Defesa Civil recomenda a paralisação de algumas atividades, suspensão de eventos em área aberta, reforço das equipes de poda da prefeitura, e coloca a concessionária de energia de sobreaviso para aumentar equipes de atendimento.
O órgão também suprime folgas e reforça equipes, acompanhando a previsão dos ventos, algo que se tornou mais relevante a partir desse plano específico.
Daniel Onias Nossa, do Departamento de Proteção e Defesa Civil de Santos, destaca a atuação integrada de todos os setores responsáveis nesses momentos: concessionária de energia, equipe de atendimento para poda e remoção e companhia de trânsito se comunicam em um grupo de WhatsApp e coordenam com apoio da Defesa Civil as ações necessárias.
"Tem de ter uma comunicação bem estreita para racionalizar o atendimento, ser eficaz, usar recursos de forma adequada e ganhar agilidade", afirma.
Como saber qual árvore vai cair?
Para Sergio Brazolin, do IPT, tão ou mais importante do que agir de forma integrada quando árvores caem é o manejo preventivo que diminui o total de quedas.
A maioria das cidades brasileiras ainda carecem de inventário arbóreo, levantamento necessário para saber qual é a situação das árvores e quais locais devem ser priorizados na manutenção.
"Falta atitude (das prefeituras) para fazer a manutenção preventiva de forma séria, usando conhecimento científico e tecnologia que já existem para olhar o interior da árvore. É possível fazer tomografia para ajudar o técnico a tomar decisão. Precisa de pessoal treinado e equipamento", diz o pesquisador.
Para 2026, o IPT deve concluir - com o apoio da Prefeitura de São Paulo, da concessionária Enel e cruzamento com outras bases de dados (como a localização de serviços essenciais) - uma primeira versão de um mapeamento de risco para queda de árvores em São Paulo, que deve servir de base para um plano semelhante ao de Santos.
A capital iniciou em outubro a realização de seu novo inventário arbóreo (o último foi realizado em 2015), que deve ser concluído em três anos, segundo a Prefeitura.
Estimado em R$ 18,8 milhões, o levantamento está sendo realizado por veículo equipado com scanner e tecnologia de georreferenciamento, capaz de recolher informações mais precisas sobre cada árvore, e "contribuirá para o planejamento das ações de manejo, incluindo serviços de poda, supressão e plantio substitutivo", segundo informou a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente em nota.
Em dois meses, a Secretaria afirma que já foram mapeadas árvores em calçadas e canteiros centrais dos distritos Vila Mariana, Jabaquara e Vila Formosa. Os dados coletados nessas regiões estão em fase de processamento.
O número de equipes que fazem serviço de poda e corte de árvores foi ampliado neste ano de 122 para 162, realizando entre janeiro e novembro mais de 162 mil podas e 13 mil remoções preventivas, segundo a administração municipal.
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