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Ao notar embriaguez de juiz, mulher que estava nua no colo tentou assumir volante

Procurada, a defesa informou que pediu sigilo no processo e disse que, por ora, não se manifestará

Estadão Conteúdo

A mulher que estava nua no colo do juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Junior, de 61 anos, que atropelou e matou uma ciclista em Araçatuba (SP) disse à polícia que tentou assumir a direção da caminhonete ao perceber que ele estava embriagado. A morte ocorreu no último dia 24.

A reportagem teve acesso aos depoimentos. No momento em que ela tentava trocar de lugar, ele não parou e atropelou a ciclista Thais Bonatti de Andrade, de 30 anos. A auxiliar de cozinha foi internada, mas morreu no hospital.

Procurada, a defesa informou que pediu sigilo no processo e disse que, por ora, não se manifestará. Em seu depoimento dado antes da morte da vítima, o juiz manifestou "estar arrasado" com a situação da ciclista e ofereceu apoio aos familiares.

A mulher, de 25 anos, disse que já conhecia o magistrado, que a pegou em sua casa, por volta das 23 horas daquela noite para irem à boate. Na mesa em que estavam, foram servidos uísque, champanhe, cerveja e drinques. O juiz consumiu bebidas, segundo ela. Por volta das dez horas da manhã seguinte, o Rodrigues Junior decidiu ir embora e disse que a levaria para casa.

Segundo a depoente, em razão de o ex-magistrado estar bêbado, o dono da boate chegou a oferecer o serviço de Uber, mas ele não aceitou. Durante o percurso, o juiz chegou a percorrer um trecho de uma rua na contramão. Ele teria dito que estava "sem condições" e ela tentou assumir o volante com a caminhonete em movimento - foi quando aconteceu o acidente.

Outra testemunha, o motorista de aplicativo que tinha se colocado à disposição do juiz quando ele saiu da boate, disse que conhecia a mulher que estava com ele, por isso se preocupou com o fato de o condutor estar embriagado e acompanhou a caminhonete.

No percurso, o juiz teria trafegado um trecho de uma rua na contramão, sem causar acidente. O motorista de aplicativo presenciou quando a mulher tentou sentar no colo do juiz e também narrou detalhes do acidente.

O policial militar que atendeu a ocorrência disse que, no momento em que foi abordado, o ex-juiz negou que tivesse bebido, mas apresentava "sinais claros de embriaguez, como fala enrolada, olhos vermelhos, dificuldade para andar, odor etílico e comportamento desorientado".

Segundo ele, a mulher que acompanhava o condutor confirmou que os dois haviam consumido bebida alcoólica durante a madrugada.

Em seu depoimento, o juiz aposentado afirmou que tinha tomado duas cervejas em um barzinho e disse que não bebeu durante o período em que esteve na boate. Ele acrescentou que ficou várias horas sem beber, pois precisava tomar medicamentos para depressão.

O ex-magistrado alegou que não viu a ciclista, pois ela entrou na rotatória pelo lado direito - o lado do passageiro - em um ponto cego. Ele confirmou que pediu à mulher que assumisse o volante, mas ela teria se negado. Após o acidente, aguardou a chegada da polícia e do atendimento médico.

Thais morreu após ficar dois dias internada em estado grave e passar por duas cirurgias na Santa Casa de Araçatuba. A morte foi decorrente das fraturas e ferimentos sofridos durante o atropelamento. O corpo foi sepultado no sábado, 26. A mulher trabalhava como auxiliar de cozinha.

Após o acidente, o juiz foi preso em flagrante e autuado pela Polícia Civil por lesão corporal culposa na direção do veículo. Na sexta-feira, 25, o juiz pagou fiança de R$ 40 mil e foi colocado em liberdade. Com a morte da ciclista, ele passou a responder por homicídio culposo na condução de veículo automotor.

O ex-magistrado teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa e precisa de autorização da justiça para sair da cidade, além de não poder sair à noite, frequentar bares e casas noturnas.