Anvisa anuncia a composição das vacinas contra a gripe para 2026
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou as cepas que deverão compor as vacinas contra a gripe utilizadas no Brasil em 2026. A formulação dos imunizantes contra o vírus influenza é atualizada anualmente, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A atualização é necessária porque o vírus sofre mutações e se adapta ao longo do tempo. A OMS monitora continuamente quais subtipos estão em maior circulação para orientar a composição das vacinas com melhor resposta imunológica.
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi explica que essa mudança é necessária porque os subtipos do vírus influenza passam por pequenas e constantes mutações nas proteínas de sua superfície. "Com essa mudança, o vírus consegue escapar dos anticorpos da imunidade adquirida com a última vacinação", afirma.
As mudanças para 2026 ocorrem justamente para conferir proteção contra novas cepas de influenza A H1N1 e H3N2, de acordo com Mônica.
A OMS define duas formulações: uma para o Hemisfério Norte, aplicada entre 2025 e 2026, e outra para o Hemisfério Sul, cujo calendário tem início em fevereiro do próximo ano.
Mônica explica que as duas versões são semelhantes, mas podem apresentar pequenas variações relacionadas às mutações e à sazonalidade da doença em cada região.
"Por exemplo, na região Norte do Brasil, a campanha de vacinação contra a gripe tende a começar em novembro porque é quando a doença começa a circular por lá. É uma epidemiologia mais semelhante à do Hemisfério Norte global", afirma.
As embalagens dos imunizantes indicam a região geográfica (Hemisfério Norte ou Sul) e o período sazonal ao qual se destinam.
Mônica esclarece que os efeitos colaterais da vacina não mudam com a inclusão ou retirada de cepas. Os mais comuns são dor e vermelhidão no local da aplicação, além de febre baixa, dor de cabeça e dores musculares.
Vacinas para o Hemisfério Norte
São disponibilizados três tipos de vacinas com as cepas recomendadas para essa região. No Brasil, elas também são utilizadas em áreas específicas, onde a vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) começou em novembro.
Nessas localidades, são ofertadas vacinas trivalentes, quadrivalentes e não baseadas em ovos, com vírus inativados e fragmentados para promover a produção de anticorpos contra H1N1, H3N2 e influenza B sem causar a doença.
As vacinas trivalentes devem conter cepas similares a A/Victoria/4897/2022 (H1N1)pdm09; A/Croatia/10136RV/2023 (H3N2) e B/Austria/1359417/2021 (linhagem Victoria).
As vacinas quadrivalentes devem conter as mesmas acima, com adição de cepa semelhante a B/Phuket/3073/2013 (linhagem Yamagata).
Já as vacinas não baseadas em ovos devem possuir cepas equivalentes a A/Wisconsin/67/2022 (H1N1)pdm09, A/District of Columbia/27/2023 (H3N2) e B/Phuket/3073/2013 (linhagem Yamagata).
Vacinas para o Hemisfério Sul
Os imunizantes destinados ao calendário brasileiro de 2026 começam a ser aplicados a partir de fevereiro. Também serão utilizadas versões trivalentes, quadrivalentes e não baseadas em ovos, com proteção contra H1N1, H3N2 e influenza B.
Vacinas trivalentes: cepas similares a A/Missouri/11/2025 (H1N1)pdm09, A/Singapore/GP20238/2024 (H3N2) e B/Austria/1359417/2021 (linhagem Victoria).
Vacinas quadrivalentes: as três acima, com adição de cepa similar a B/Phuket/3073/2013 (linhagem Yamagata).
Vacinas não baseadas em ovos: cepas equivalentes a A/Missouri/11/2025 (H1N1)pdm09, A/Sydney/1359/2024 (H3N2) e B/Austria/1359417/2021 (linhagem Victoria).
Descontinuação da vacina tetravalente
A Anvisa informou que, seguindo recomendação da OMS, pretende descontinuar as versões tetravalentes do imunizante a partir de 2027, devido à ausência de circulação registrada da cepa B/Yamagata desde 2020.
Segundo Mônica, não há vantagem em manter a versão tetravalente no setor privado. "Existe essa cultura de que é melhor porque é mais completa, mas não existe essa melhora", afirma.
A OMS ressalta que pode ser necessário um período de transição até a retirada definitiva, a depender do país. No Brasil, a Anvisa manterá a oferta das vacinas quadrivalentes ao longo de 2026, após analisar a disponibilidade das versões trivalentes registradas.
De acordo com a agência, retirar de imediato a tetravalente poderia comprometer a cobertura vacinal nas redes pública e privada, já que o mercado não está igualmente abastecido com as duas formulações.
Quem deve se vacinar
No SUS, o imunizante é aplicado em grupos prioritários mais vulneráveis a complicações da gripe. Em geral, são crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos. O público-alvo também costuma incluir:
trabalhadores da Saúde; puérperas; professores dos ensinos básico e superior; indígenas; pessoas em situação de rua; profissionais das forças de segurança e de salvamento; profissionais das Forças Armadas; pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais (independentemente da idade); pessoas com deficiência permanente; caminhoneiros; trabalhadores do transporte rodoviário coletivo (urbano e de longo curso); trabalhadores portuários; funcionários do sistema de privação de liberdade; população privada de liberdade, além de adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas (entre 12 e 21 anos).
Vale lembrar que na rede privada há uma vacina específica para os idosos, conhecida como de alta concentração. Ela atua contra as mesmas quatro cepas da vacina quadrivalente tradicional, mas tem quatro vezes mais antígenos (substâncias que desencadeiam a produção de anticorpos). "Ela dá um estímulo imunológico maior, ou seja, um grau de proteção mais elevado para essa parcela da população", diz Mônica.
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