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Sem manual, mas com muito amor

Conversamos com três super pais e compartilhamos suas jornadas transformadoras

Lorena Filgueiras

Já se foi o tempo em que parabenizávamos pais por suas participações nas vidas de seus pequenos. Conscientes de seus papéis, esses homens que abraçaram (de corpo e alma) suas paternidades constroem relações mais sólidas com seus filhos. Conversamos com três deles e compartilhamos suas jornadas transformadoras.

“Pra mim, ser pai é chegar ao ápice da vida. É conquistar o máximo que um ser humano pode conquistar”. Emocionado, o fisioterapeuta e empresário Renan Duarte, 34 anos, diz que ser pai de duas meninas, Ana Luiza e Antonela, virou seus dias – no melhor dos sentidos – de ponta cabeça. “Receber a notícia de ser pai é uma explosão de sentimentos! É uma grande virada na vida! É uma felicidade extrema misturada com um amor sem igual e, junto de tudo isso, ainda sentimos um medo e uma ansiedade muito grande. Ser responsável por um bebezinho, que depende única e exclusivamente de nós, não é uma tarefa fácil, afinal de contas, não existe uma Universidade de Formação de Pais”, conta entre sorrisos.“É tudo muito novo e intenso. A ansiedade e o medo, quando somos pais de primeira viagem, diminui um pouco no segundo filho. A experiência nos ajuda muito a conter um pouco mais esses sentimentos, mas o amor e a felicidade continuam iguais!”, afirma.

“Se existe presente maior que a paternidade, eu desconheço” (Renan Duarte)

Presente em todas as etapas das vidas das meninas, Renan curtiu cada fase: das trocas de fraldas à hora de dormir, passando pelas competições de natação de Ana Luiza e Antonela. “Se existe presente maior que a paternidade, eu desconheço”. As recompensas, segundo ele, são as mais gostosas possíveis. “A troca entre pai e filha é indescritível! O amor puro, aquele olhar que brilha quando a gente chega em casa, o abraço gostoso e apertado na saída do colégio, o ‘eu te amo’, o dormir abraçados, o sorriso e as gargalhadas, as pequenas conquistas, como por exemplo tirar uma rodinha da bicicleta”. Mesmo com tantos motivos para celebrar – e eles certamente são maioria –, os desafios se apresentam cotidianamente. Afinal, como ele mesmo faz questão de ressaltar, não há manual ou regras prontas. “Educar, além de ser uma arte, é o maior desafio. Acredito que dar limites aos filhos e demonstrar respeito ao outro, são bases fundamentais para uma educação de sucesso”.

Quando perguntado sobre o papel dos pais nos tempos atuais, compartilhando rotinas, de igual para igual, com as mães, Renan sugere que os pais aproveitem ao máximo, porque a vida passa muito rápido. “Alguns dão a desculpa de que não têm tempo suficiente, mas no tempo que tiver, use. Muito melhor que ter muito tempo é ter tempo de qualidade, tempo que você vai, de fato, estar com as atenções voltadas para seu filho. Viva a paternidade da melhor possível maneira que você puderviver!”.

Amor em tempo integral

O analista de sistemas Roberto Cunha, 32, tem uma história linda, ao lado da esposa, Kariny Cunha, para contar. “Fui pai pela primeira vez aos 30 anos, um sentimento indescritível. Casei aos 28 com a Kariny Cunha, no mesmo período descobrimos que ela tinha um problema de saúde, mais precisamente no útero. Em decorrência disso, sabíamos que para realizar nosso sonho de ter um bebê, enfrentaríamos uma grande batalha. Em 2017, ela iniciou o tratamento, acompanhado de muita angústia, ansiedade e esperança. Para nossa felicidade, em novembro de 2018 chegou nosso primeiro presente de Deus, Roberto Filho, gerado com muito amor em nossos corações.Ele veio em um momento difícil, pois eu também estava passando por um problema de saúde: havia perdido um lado da visão, em decorrência de uma úlcera de córnea, e estava no aguardo de um transplante. Tenho plena certeza de que ele chegou para me dar forças para enfrentar tudo isso, pois sua vinda deu outro sentido em minha vida”.

Quando o primogênito chegou na nova casa, Roberto passou 30 dias sem dormir à noite.“Eu o vigiava para ver se estava respirando”, confessa entre risos. “Apenas cochilava nos intervalos do trabalho, mas era e é muito gratificante toda esta dedicação aos meus filhos”.

Os desafios foram contornados da maneira que era possível, uma vez que Roberto estava de licença saúde, recuperando-se da úlcera na córnea e Kariny não conseguiu a licença maternidade, em função de inúmeras burocracias. “Assumi a responsabilidade de cuidar do nosso filho, enquanto ela trabalhava. Confesso que pensava que não ia conseguir, mas eu sou a prova de que Deus capacita os escolhidos! Preparava o leite e tudo mais. Galinha pintadinha e Mundo Bitta? Sei todas as músicas! Foi uma experiência incrível e maravilhosa! Sou privilegiado, porque foram 8 meses assim. Quando precisei voltar a trabalhar, passava o dia chorando com saudade e meu filho, em casa, não conseguia dormir porque sentia minha falta”.

“Quando precisei voltar a trabalhar, passava o dia chorando com saudade e meu filho, em casa, não conseguia dormir porque sentia minha falta” (Roberto Cunha)

A segunda filha, Maria Alice, chegou no último dia de junho, anunciando o verão amazônico, coincidindo com os luminososdias que se descortinam neste período tão singular. “Sempre falo que sou muito abençoado por Deus ter me presenteado com um príncipe e uma princesa. O Roberto Filho é um menino de muita luz! Desde a sua chegada, estamos realizando muitos sonhos e projetos de vida, tanto que no dia do seu aniversário de 1 ano, descobrimos o verdadeiro milagre de Deus: minha esposa estava grávida!O nascimento da Maria Alice veio pra completar nossa família, a realização de todos os sonhos. É muita alegria!Hoje, com a Maria Alice, as tarefas são divididas, mas confesso que adoro fazer coisas pra eles. Acredito que os papeis de pai e de mãe são sempre estar presente na vida de seus filhos, em todos os detalhes. É assim que vou conduzindo a minha missão de Pai”.

Enfim, a paz tomou forma física (porque a espiritual já existia): Roberto está recuperado da visão e Kariny está de licença maternidade. Roberto filho e Maria Alice são as razões dos sorrisos do casal, que persistiu e alcançou o sonho. “Ser pai é o ponto mais alto do amor. Acredito que ser pai não depende de gênero e, sim, de caráter e amor. Sou agraciado com o dom de ser pai.Brinco, muitas vezes com meus amigos que ainda não são pais, que é um amor, uma sensação que somente quem é pai sabe explicar. Agora compreendo todo o cuidado e preocupação que meus pais tinham e tem até hoje por mim”.

“Sempre quis ser pai”

Assim já começa a entrevista de Rogério Saavedra. O policial conta ainda que foi uma paixão fulminante a que sentiu pela falecida esposa, Janise Saavedra. “Quando a vi pela primeira vez, senti algo que nunca havia sentido”.

Janise já tinha uma menina, Júlia, atualmente com 25 anos, que tem autismo. Assim que começaram a namorar, Rogério conheceu a menina, então com 11 anos, e seu desejo de ser pai era tão grande, que a adotou quase que instantaneamente. “A Júlia não tinha nenhum referencial masculino e era uma criança difícil. Foi um longo caminho, mas valeu muito à pena. Como ela não fala, nos conhecemos e nos falamos pelo olhar”, relata todo orgulhoso.

 

Do namoro à convivência em comum, uma vez que passaram a morar sob o mesmo teto, foi um pulo. Pouco mais de um ano depois, Janise engravidou. Em meio a sonoras risadas, Rogério diz que desmaiou. “Só acordei no dia seguinte!”.

A paternidade era um sonho há muito acalentado. “A Maria Luiza é fruto do nosso amor. Júlia foi a minha grande mudança”. Infelizmente, há quase 3 anos, Janise recebeu o diagnóstico de câncer de mama – em estágio avançado. A vida da família foi remexida totalmente. A esposa amada não resistiu e partiu três dias antes do Natal de 2018. “Tive que pedir transferência para um local mais próximo da nossa casa, de modo a ficar mais perto das meninas. E contei com ajuda da Nazaré, que sempre nos ajudou a cuidar de Julia, e de vizinhas”.

Chama a atenção a calma e a leveza de Rogério ao falar de tantas dores. “Ser pai é ser valente”, ele me explica. “Tinha grandes responsabilidades e não podia fraquejar”. Ser pai de meninas, então, educou o próprio pai a ter um olhar diferenciado. “Vim de uma família de muitas mulheres, eu as amo muito”.

Só uma tristeza persiste no coração de Rogério. “Julia e Maria Luiza não têm relação com a família da mãe. Por causa de mim, a avó materna não chega nem perto e isso me enche de tristeza, porque as meninas precisam da presença das avó e tias. Para conversas de mulher, quase sempre conto com a generosidade da Nazaré e de uma vizinha que é muito apaixonada por elas”. Sobre o futuro, ele só tem uma certeza: quer que as meninas sigam juntas. “Ensino a Maria que ela tem que cuidar da irmã, depois que eu me for. E fico tranquilo porque sei que as duas se amam!”. 

Troppo