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Entrevista com Lucinnha Bastos: 'Estou mais viva do que nunca'

Lorena Filgueiras

Lucinnha não passa despercebida. Ela tem um brilho que se espraia. Marcamos a entrevista no café de uma charmosa livraria no centro de Belém, em pleno sábado. Ao chegar lá, me recepcionou como uma amiga de muito tempo. Empatia à primeira vista! Ao longo de quase uma hora de papo, Lucinnha se mostrou uma artista ainda mais humilde e cônscia de seu talento do que eu supunha. Falou do precoce começo, ainda aos 7 anos; da ida para o Rio de Janeiro, para onde se mudou em busca do sucesso profissional, da frustração em voltar e de sua reinvenção. Ufa, com mais de 40 anos de carreira, a cinquentona Lucinnha está mais viva do que nunca e comemora seu debut musical nas plataformas digitais: um CD lançado há pouco mais de duas semanas que é um EP. Conversamos sobre essas transformações e as evoluções de sua carreira. 

Troppo + Mulher: A caminho da entrevista, lembrei que assisti a um show teu em que estavas grávida...
Lucinnha Bastos: Nossa, foi em 2000! Minha filha já vai fazer 19 anos para o mês. Estava com oito meses!

T+M: Um barrigão lindo! Helena, não é?
LB: Isso, Helena.

T+M: Posso voltar só um pouquinho no tempo? Como foi teu começo de carreira?  
LB: Menina, meu começo foi muito criança, porque a Sayonara é uma banda do meu pai [Luciano Bastos] e eu ouvia os ensaios. Morávamos na parte de cima da casa e a banda ensaiava na casa de baixo. Desde cedo, eu tive essa curiosidade de me aproximar dos instrumentos e dos ensaios, então com 7 anos, literalmente, eu cantei em baile infantil de carnaval, no Clube 200, onde hoje fica aquele shopping center da BR. Comecei lá, fui para o Iate Clube... enfim, comecei a cantar em baile infantil. Aos 9 anos, fui cantar na extinta TV Tupi, a convite Airton e Lolita Rodrigues, um casal que fazia um sucesso danado à época! De lá, fiz o “Almoço com as Estrelas”. Tudo isso com 9 anos – idade em que pisei pela primeira vez no Theatro da Paz, dentro do Projeto Pixinguinha, com a Ângela Maria e o Miltinho.


T+M: Uau, Lucinnha!
LB: Detalhe: eu já tocava violão, porque o meu tio, irmão do meu pai, era professor de violão, então eu já tocava. Com 12 anos de idade, ganhei meu primeiro festival aqui, em Belém. Aos 14... vou acelerar um pouco, porque é muita coisa! [ela cai na gargalhada] Bem, aos 14, eu gravei meu primeiro vinil, um compacto duplo, com músicas-composições do Nivaldo Fiúza de Mello e do Firmo Cardoso, que coincidentemente são os compositores que cantei no festival que ganhei aos 12 e são os compositores que estariam muito presentes na minha vida, mais adiante... o Firmo é compositor de “Ao Pôr do Sol”, que é um dos sucessos que gravei. Nesse meio tempo, entrei na Banda Sayonara e, aos 17, eu já era cantora da Sayonara e gravei meu segundo vinil, um trabalho brega, a convite do Alípio Martins [cantor e compositor falecido em 1997], que tinha um LP pronto e queria uma cantora. Naquela época, fiquei meio assim e meu pai também, porque era um outro estilo... mas eu estava com tanta vontade de gravar, que eu encarei! E acho que tudo é válido na vida! Adorei a experiência, mas ali eu senti que não era a minha, porque quando você assume um estilo, não é só você cantar aquilo, naquele momento. Já pensou chegar num show e cantar aquele estilo por uma hora e meia? Eu vinha da Banda Sayonara e cantava de tudo! Era crooner e cantava xote, rock, bolero e tava tudo lindo! E foi naquele momento em que eu parei e pensei: ‘opa, o negócio é sério... vou ter que cantar só isso? [brega] Não posso cantar outras coisas?’. Decidi sair da gravadora, gravei só esse disco mesmo e fui pro Rio de Janeiro. Meu pai decidiu apostar na minha ida para o Rio aos 18 anos, onde passei 8 anos...

T+M: Uma ruptura, não? Estavas numa zona de conforto... 
LB: Perto de pai, perto de tio, em Belém... ‘Essa menina, na hora em que ela chegar no Rio, ela vai estourar!’. Meio que me convenceram que eu era ‘a tal’. Quando cheguei ao Rio, tive uma dificuldade muito grande, porque descobri que eu era só mais uma. Pensei: ‘epa, isso aqui não é Belém! Ninguém me conhece e tal como eu, há outras milhares de cantoras talentosas tentando um lugar ao sol, então o buraco é mais embaixo’. Foi aí que eu percebi que não seria moleza, mas também foi legal porque foi o que me fez crescer, com pessoa, como artista e passei a trabalhar a humildade. Cheguei a gravar um disco lá. Gravei com Billy Blanco, Sebastião Tapajós, participei do Free Jazz Festival, que foi algo muito importante pra mim, porque era um evento enorme... com nomes como Arturo Sandoval, trompetista cubano, que me adorou e me ouviu cantar. Na época, cheguei a cantar com o Gilson Peranzzetta, que era o maestro do Ivan Lins e foi ele quem fez os arranjos do meu disco, que gravei lá. Fui pra São Paulo, passei um tempo, voltei pro Rio. Comecei a sentir dificuldades porque as pessoas queriam um rótulo... tinham necessidade de me encaixar em um estilo e eu tinha essa dificuldade porque eu vinha de uma experiência como crooner de banda! E quando eu dizia que eu era eclética, soava como uma bomba! Parecia que eu tinha falado um palavrão! Era uma coisa absurda dizer que eu era eclética! Eu não entendia porque eu era muito nova, porque fui sozinha. Os produtores me diziam: ‘isso não existe! Você precisa se definir!’. Adoro samba, mas não sou sambista. Gosto de rock, mas não roqueira! Esse momento me prejudicou e foi quando me voltei a buscar as minhas coisas, as coisas daqui. E, de novo, voltando a questão dos rótulos: ‘tinha que lançar algo universal, porque eu cantava coisas muito regionais, falava muito de Belém, do Pará, do açaí e não podia’. Tinha que falar do Brasil e comecei a ter dificuldades de lidar com aquilo e me faltou maturidade, né? Não tinha maturidade suficiente para ter jogo de cintura e tentar entender, com malícia, o que eles queriam, como poderia me adequar.... Cheguei a ficar muito perto de grandes contratos! Recebi várias propostas de trabalho de multinacionais e recusei... porque eu não me via naquilo! Uma coisa é você querer ser famosa – eu nunca quis. Sempre quis ser reconhecida pelo trabalho que faço. Meu maior desejo era que as pessoas reconhecessem o repertório, que sentissem emoção. Isso é legal! ‘A tua voz é legal, cantas tão bem’. Se eu tivesse aceitado, seria uma fama passageira, de coisas que estavam na moda. Depois houve uma segunda proposta, logo quando a Roberta Miranda surgiu e foi aquele estouro! Eu estava em São Paulo e recebi uma proposta, de outra gravadora, para fazer um disco de música sertaneja. Ouvi e, de novo, perguntei: ‘mas eu só posso cantar isso?’. Foi mais uma guerra interna, porque sei que a Roberta vive aquilo com paixão, com uma intensidade enorme. Eu não teria a mesma intensidade. Ela vendia 1 milhões de cópia porque fazia aquilo com alma. Eles queriam que eu vendesse 1 milhão de cópias também.... eu não conseguiria e, talvez, se conseguisse, fosse momentâneo, porque ia passar. Não conseguiria segurar isso. Enfim, em seguida, ganhei o primeiro lugar de um festival de música da TV Manchete, como melhor intérprete. Essas conquistas somaram muito à minha carreira. E eu comecei a me cobrar muito mais: ‘quem sou eu? Tenho que descobrir isso’. Na época, escrevi um texto, que perdi, e que eu dizia que me definia como amazônida. Engraçado que quando eu estava aqui, isso não era muito claro. 

T+M: Então foi um período positivo e tiveste as respostas que tanto buscavas...
LB: Eu descobri que eu era Amazônia lá! Descobri que tudo aquilo que eles não queriam, era justamente o que eu queria! Lembro que a primeira música que apresentei à primeira multinacional era ‘Porto Caribe’, que começa com “sou de um país que se chama Pará”. Eles ficaram indignados! “Como assim um país que se chama Pará! Que coisa mais bairrista!”. Acabei brigando com pessoas que eu não podia brigar, porque não tinha noção e achava um absurdo eles falarem certas coisas... havia cantores que cantavam “sou Salvador!” e eu não podia dizer que eu era do Pará? Até que houve um momento em que disse: ‘chega!’. Era muito pesado; não podia gravar o que eu queria, não tinha meus pais ali. Gravei com pessoas muito bacanas, mas o outro lado, que era o mais pesado, não fluiu. Não houve uma pessoa que e dissesse, que me entendesse, que pudesse me moldar melhor... Faltou alguém madura, bem-intencionada que quisesse me ajudar e que pudesse dizer: ‘Lucinnha, seguinte, as coisas aqui funcionam assim. Não estás em Belém, respeito tua carreira e tua origem, mas tens que te definir como uma intérprete brasileira, que pode gravar muitas coisas! Calma, vai devagar’. Faltou isso. 

T+M: Tendo essa clareza, compartilhas esses conselhos com os artistas mais jovens que decidiram também se aventurar no Rio ou em São Paulo?

LB: Quem me procura, sim. Tem gente que não gosta dessa interferência, então digo para quem me procura e pergunta. Quando eu tenho oportunidade de dizer isso pra alguém que é fã e está começando na carreira, eu digo: ‘olha, tem algumas coisas que vão soar como um banho de água gelada, mas servirão para te acordar’. Sempre digo que experiência é intrasferível! Não adianta! A mãe da gente diz e a gente vai lá e faz errado. A experiência da tua mãe não avisou? Avisou! Da mesma forma que a gente ouve e vai lá e faz de um jeito diferente. Conhecimento tem que ser dividido, compartilhado. Assim, como eu adoro compartilhar minhas experiências... eu amo conversar com meu público. Conto o que deu errado. 

 

 

 

 

 

T+M:  E como foi dizer ao teu pai que estavas voltando?
LB: Por um lado, ele adorou. Ele é muito apegado a mim e eu, a ele... mas eu acho que, até hoje, ele tem um sentimento de que podia ter feito mais. Ele me manteve lá. Que pai pode fazer isso hoje? Eu mesma não posso fazer isso por minha filha, de mantê-la em outro lugar. Tentei explicar pra ele que as coisas acontecem quando têm de acontecer. E aconteceram coisas tão legais... que só ele pra poder me proporcionar e ele proporcionou! Ele acha que não fez o suficiente. Pra mim foi difícil voltar. Trazia comigo o sentimento de fracasso. Todo mundo dizia: ‘Lucinha foi pro Rio tentar uma carreira nacional. E vão dizer o que agora? Que não consegui?’. Foi outro momento de imaturidade. Eu jamais ficaria lá pra manter o imaginário das pessoas. Fui vitoriosa em muitos projetos, mas deu e voltei pra cá. Voltei e gravei um novo vinil, o “Antes pop do que nunca”, 92-93. Fui me readequando e fui levando. Em 96, eu comecei a cantar em barzinhos e levei um repertório de músicas paraenses comigo, que ouvi uma vida inteira.  

T+M: A recepção foi bacana?
LB: Foi ótima! O carimbó enfrentou alguma resistência, havia muito preconceito. Quando vi as pessoas dançando Carimbó no bar, pensei: ‘pô, isso é sucesso!’. Sucesso pra mim é isso! É conquistar isso! O presidente de uma companhia de São Paulo estava na plateia e ficou impressionado de ver todo o público cantar “Foi assim” comigo. O cara ficou doido, porque o bar inteiro cantava comigo e ele não sabia uma única música! Quando o show acabou, ele me chamou, me propôs um disco ao vivo. Detalhe: era uma pessoa atrás de quem eu já havia batido na porta! Gravamos o disco ao vivo, no Margarida Schivasappa... e pelo que soube, posteriormente, foi a primeira cantora a gravar ao vivo no Pará. Foi um sucesso.  

T+M:  Deu tão certo que abriu caminho para o segundo volume....
LB: Exato, que foi do show que você viu, quando eu estava grávida! Em 2005, eu e outros artistas fomos representar o Pará na França e fiquei encantada lá. Fiquei preocupada, em um primeiro momento, porque sou muito comunicativa e não falava uma palavra em francês! E me surpreendi: a música é universal! A plateia ficou enlouquecida! Eles queriam dançar Carimbó. Olhavam pro Trio Manari e queriam tocar os instrumentos! Foi um sucesso! Fomos para fazer 4 shows e fizemos onze! Fiquei tão apaixonada que, quando cheguei a Belém, gravei um novo disco: o “Pimenta com sal”. Em 2002, iniciei um projeto com o ‘Trilogia’, com o Mahrco Monteiro e o Nilson Chaves, que é um projeto que dá muito certo até hoje. A gente é paralelo – estamos sempre juntos, mas temos carreiras independentes. Em 2007, gravei meu primeiro DVD solo – CD e DVD. Naquele momento, 40 anos de idade. Atualmente, com mais de 40 de carreira. Fui me realizando. Tive que voltar para Belém para fazer tudo que eu mais queria! Que loucura! Detalhe pra ti: quando cheguei ao Rio, aos 18, e cheia de sonhos, me levaram uma cartomante e foi muito engraçado...

T+M: Ah, me conta essa história!
LB: Cheguei lá pensando que ela ia me dizer: ‘seguinte, amanhã você vai assinar com a Globo e vai ser um estouro!’. Ela era peruana e falava meio esquisito: ‘você vai conseguir o que você quer em sua vida profissional, mas não vai ser aqui... vai ser no seu lugar!’. E eu pensei: ‘tá louca! Acabo de chegar de lá pra cá, amor. Eu acho que estás enganada!’. Falei pra minha amiga: ‘essa peruana é falsa! Não gostei dessa mulher. Picareta! Dizendo que eu tenho que voltar!’ [ela cai na gargalhada] 

T+M: E a peruana estava certa! Viva a peruana!
LB: Viva a Peruana! Quando gravei o primeiro ‘canta a Amazônia’ eu me senti a Lucinnha Bastos! Eu era a menina do Tapajós, a filha do Luciano. Hoje, meu pai é o pai da Lucinnha! Durante a vida da gente, passamos por altos e baixos e tem o lance da idade também, né? Fui entendendo que as pessoas gostam de rótulos e isso existe em qualquer lugar. Eu canto Ruy Barata e Paulo André Barata... que são compositores locais, mas “Foi assim” não é uma temática regional. A temática é universal! Fala de amor! ‘Pimenta com Sal’ também fala de amor. ‘Ao por do sol’ também não tem uma única palavra folclórica. Enfim, mas foi feita no Pará, passa a ser MPP [música popular paraense], que é uma sigla que nos tira do mapa do Brasil e é preconceituosa. Eu acho que às vezes a gente cria essa confusão. Já ouvi rádios me dizerem: ‘Lucinnha, aqui a gente não toca música paraense. Nosso estilo é outro!’. Música paraense é música regional folclórica ou é música feita por paraenses? As pessoas não sabem definir isso. Até que tem uma hora você só diz, ‘tá bom, valeu, obrigada!’.

T+M: Mas aí surgiram as redes sociais como um poderoso veículo de divulgação...
LB: Então, mas eu ainda estava naquela de LP, CD, DVD... Fiquei meio pra baixo. Tava meio desestimulada. Escrevi um texto, que vou te mandar, para que possas entender meu sentimento... eu não posso ler porque eu choro. Ouvi uma vez: ‘Lucinnha tá ultrapassada. Tem uma galera nova chegando aí. Isso é passado!’. Eu só ouvia. Até que houve um momento em que acreditei. Decidi que ia parar porque eu estava velha, ultrapassada... e para completar, encontrei uma pessoa na rua que veio me cumprimentar e perguntou: ‘paraste de cantar?’. Respondi que não, porque realmente eu nunca parei. E durante três semanas seguidas isso ocorreu com pessoas diferentes.

T+M: Entendeste isso como um sinal do universo?
LB: Num primeiro momento, não. Até que parei e pensei: ‘que po*** é essa?!?’. Peraí, tenho que dar uma resposta! As pessoas relacionavam minha carreira à minha presença em barzinhos. Muitos fecharam e eu mesma me desgastei de bar. Cansei mesmo. Decidi ficar só com os meus contratos. O ponto de ruptura foi uma vez em que estava com um amigo e encontramos um conhecido dele, que disse que era meu fã. Ao ir me dizendo quais discos ele tinha, findou que me perguntou: ‘Lucinnha, quero comprar teu último disco mais recente. Qual é?”. E eu respondi que era o “Minha Aldeia”, de 2007. Meu amigo ficou surpreso: ‘como assim recente, Lucinnha?!? O disco é de 2007!’. E foi o sacolejo que eu precisava: 12 anos sem gravar? Como assim?!? Por que eu tenho que acreditar que aos 50 anos, minha carreira terminou? Logo agora que tô cheia de ideias e de gás! Tenho que fazer alguma coisa! Em um ano de projeto, ouvi muita coisa, estudei muita coisa. Brinco com meu público, na hora do show: já passei por fita de rolo, fita k7, LP, CD e agora cheguei às plataformas digitais! 

T+M: E como foi que processaste a ideia de gravar e lançar um EP?
LB: Olha, pra ser bem sincera, até agora não entendi direito o que é um EP! [ela ri] Eu só falo ‘é CD’ e minha produtora me corrige: ‘Lucinnha, é um EP!’. Eu respondo: o CD é teu ou meu? [ela gargalha]. Eu chamo do jeito que eu quiser! Foi um processo de transformação! Eu renovei uns 20 anos e me acho mais bonita!

T+M: Mas, olha, de fato, estás mais bonita.
LB: E isso não é pra me deixar convencida!
 
T+M: Não, não... acho que tem a ver com o fato de ser um processo de aceitação! Quando a gente começa a se sentir confortável na pele da gente.
LB: Eu não gosto muito da palavra ‘reciclar’, pq me lembra lixo... embora eu estivesse meio lixinho [ela gargalha de novo]. Mas me perguntei o que podia fazer por mim, pra me sentir melhor. E comecei a perceber algumas qualidades que precisavam ser valorizadas. Hoje eu tenho uma maturidade que eu não tinha lá no Rio de Janeiro.

T+M: Decidiste ser artista em uma época que isso era motivo de desespero familiar...
LB: Pra mim, foi exatamente o contrário!

T+M: Daí te pergunto: tua filha quer seguir teu caminho também?
LB: Ela já uma artista! Integra musicais, canta muito bem. Ela não quer ser: ela é artista e isso é muito importante para ela!

“estou mais viva do que nunca!”

T+M: Me fala sobre o EP... 
LB: Foi um ano. Tive o privilégio de gravar músicas do Nilton Abud. Ano passado só consegui gravar uma música. Este ano, consegui gravar as restantes e no último dia 10, lancei no Theatro da Paz. Estava linda, loira e magra! [risos]. Mostrei a todos que estou mais viva do que nunca!

T+M: As pessoas se surpreenderam?
LB: Muito! Eu me reinventei! Teve gente que me dizia: ‘Lucinnha, tem algo diferente em você. É seu cabelo?’ [risos]. Até tênis eu comecei a usar! Eu sou baixinha e sempre usei salto. Tenho me permitido também usar cores usadas. Tenho trabalhado com uma estilista, a Rosângela Leite. Rosângela começou a me apresentar cores e eu dizia: ‘tens certeza?’. Gosto de me vestir mais clássico e perguntei à Rosângela: ‘posso usar pantalona com tênis?’ e quando ela disse que eu podia, eu fui lá! As pessoas ainda estranham me ver de tênis. Lógico que eu tive um probleminha de saúde aí: em 2015, eu caí do palco. Estava tendo tonturas e achava que era colesterol ou triglicerídeos altos. Meu marido me amparou e fomos investigar, até que chegamos ao diagnóstico de migrânia vestibular. Migrânia é enxaqueca se parece muito com labirintite. É uma doença que foi descoberta há pouco tempo e precisa ser investigada. O gatilho que deflagra a crise é muita luz. Essas novas luzes, que são usadas em palco, tem muita cor, muito movimento e comecei a ter muitas crises de tontura. O tênis me dá mais segurança no palco. Comecei a me cuidar e o alívio veio quanto a Rosângela me disse que eu podia combinar meu estilo clássico com tênis! Daí, se o show é meu, chamo meu iluminador [técnico de iluminação]. Se o show não é meu, fico no camarim, quietinha, até a hora de pisar no palco.

T+M: Me fala um pouquinho de quem esteve envolvido no EP?
LB: Tenho uma gratidão enorme pelos compositores do EP: Nilton Abud, Magno Magalhães, Edilson Moreno, Tony Brasil e Lia Sophia. Gratidão tão grande quanto pelos patrocinadores do projeto, que mesmo sem lei de incentivo fiscal, apostaram na produção do EP/CD... pelo carinho e respeito à minha carreira. Agradeço à minha produtora executiva, Adriana, e ao meu produtor musical, Rodrigo. Enfim, quero agradecer a todos que somaram comigo na produção deste EP, sem meus parceiros, patrocinadores, familiares, ele não seria possível e gostaria muito que todos se sentissem reconhecidos. 

T+M: Para finalizar a entrevista, uma curiosidade: de onde veio o segundo ‘N’ em teu nome?
LB: Ah, isso foi um fã, o Maia, que entendia muito de numerologia e mapas astrais. Um dia ele me perguntou se podia fazer uma análise numerológica e concluiu que faltava uma letra no meu nome para vibrar bem, para ter mais êxito nos meus projetos. Onde eu podia incluir mais uma letra? No Lucinnha. E assim foi, em 1997. Depois que fiz isso, não é que funcionou?

T+M: O Lucinnha é diminutivo de Lúcia?
LB: Lucinnha deveria ser o diminutivo de Lúcia, mas não é o meu nome. Meu nome é Luciete! Luci de Luciano e ‘ete’ de Luzete... essa coisa linda que papai fez comigo! [risos] Então, as pessoas me questionavam o ‘n’ a mais no meu nome e eu respondia que tudo que era feito com amor, eu usaria. Porque acima de tudo, está Deus, então acreditei.

Troppo