MENU

BUSCA

Empreender é verbo feminino

Elas estão cada vez mais presentes na condução de seus negócios e vidas profissionais: empreendedoras que não temem a concorrência.

Por Lorena Filgueiras

Deve estar no DNA feminino tamanha versatilidade. Resguardadas as diferenças e a evolução cultural dos últimos anos, mulheres sempre tiveram que desempenhar inúmeras funções (algumas até simultaneamente). Especialmente durante a pandemia, diante de um cenário extremamente desafiador e limitados auxílios públicos, as empreendedoras se multiplicaram, afinal a sobrevivência depende majoritariamente de esforços pessoais – por essa razão, também, a informalidade aumentou no país.

Um estudo realizado pelo Sebrae nacional (“O Impacto da pandemia do Coronavírus nos pequenos negócios”), por exemplo, constatou que a pandemia afetou (e ainda afeta) mais os empreendimentos conduzidos por mulheres. No mesmo documento, foi apresentado que elas são maioria no Brasil e que representam 44% da força de trabalho (embora somente 34% sejam donas do negócio). Por todas as razões, é tão importante estimular e capacitar essas milhares de brasileiras.

“Falar sobre o empreendedorismo feminino é algo muito valorativo para a sociedade atual. Sabemos que estamos vivendo um contexto extremamente diferenciado, onde muitos negócios estão passando por essa oscilação de mercado: fechando, abrindo ou redesenhando seus modelos de gestão e também suas formas de ofertas de produtos e serviços. A gente entende o quanto são importantes os pequenos negócios para a economia e não seria diferente falar que uma parte desses pequenos negócios são gerenciados por mulheres. Em se tratando do empoderamento e do empreendedorismo femininos, a gente consegue ver uma participação bem estruturada dentro dessa economia e dentro dessa dinamização. Fica claro para nós o quanto esses negócios são caracterizados. Hoje, o Sebrae atua fortemente para que a gente consiga trazer esses negócios para a esfera da legalidade, dando todo o suporte para que eles consigam se estruturar, permanecer e, ao mesmo tempo, agregar valor às suas ofertas”, diz Leda Magno, gerente do Sebrae na região Metropolitana de Belém. 

Leda afirma quão importantes são controle e gestão para todos os empresários, “independentemente de gênero”, mas a mulher, em especial, é uma protagonista, por suas qualidades naturais. “A mulher acaba tendo uma participação importante nesse mundo empresarial, no mundo empreendedor. Ela busca segurança no que está sendo ofertado, o que faz com que ela consiga, pela particularidade de seu comportamento, ter destaque nessa atividade. Para encarar um mercado, especialmente em relação às comparações de gênero, sabemos que é importante que esses elementos comportamentais estejam alinhados às suas práticas. O Sebrae Pará tem uma série de soluções que poderão apoiar o empreendedor potencial a se estruturar, desenhar, compor, para alcançar bons resultados diante da competitividade dos pequenos negócios. A gente sabe que existe um distanciamento claro entre ser empresário e ser empreendedor – o que a sociedade deve buscar é ser empreendedora, porque o empreendedor é um realizador. Independentemente do setor em que ele está atuando, ele sempre vai trazer destaque, liderança, resultados frente às expectativas”, finaliza.

A empresária Andréa Cristina Reis é representante de uma grande marca de utensílios plásticos, com na cozinha. Sua trajetória iniciou há 34 anos, quando o mercado era muito mais fechado à participação das mulheres.

Trabalhando como auxiliar de escritório, ela lidava diretamente com a contabilidade e atendimento às consultoras da marca. Percebeu que elas ganhavam em uma semana o equivalente a um mês de seu salário. Como conhecia bem o segmento, decidiu se tornar uma consultora e logo era líder da equipe de vendas. Vendo o potencial de Andréa, a empresa ofereceu-lhe a oportunidade de ser distribuidora, o que a trouxe para o Pará, há 18 anos.

O nicho de mercado, na região Norte, fez toda a diferença ao êxito do negócio. “Nunca vi dificuldades, mas sim muitos desafios. Um deles, que posso citar, era quando fazia viagens para diversas localidades mais remotas e não conhecia ninguém naquele lugar, então era uma mulher sozinha, desconhecida, em um lugar que eu também não conhecia.O importante é se impor, enquanto mulher, ser ousada e enfrentar. Nosso trabalho geralmente lida com mulheres, então nas relações interpessoais foi mais tranquilo”, conta.

“Na minha visão, a mulher tem características que são favoráveis e eficiência. Tem muita responsabilidade por ter o instinto materno. Lógico que homens têm várias características incríveis, mas a mulher tem a questão do feeling, do sentido, da intuição. Ela precisa cuidar de tudo: filho, marido, casa, e são profissionais incríveis! Isso é admirável! [A mulher] é mais cautelosa para tomar algumas decisões e tem a sensibilidade de tratar com as pessoas. Outra característica é ser dinâmica, fazendo várias coisas ao mesmo tempo e focando em todas com excelência. As mulheres têm uma visão do todo, da situação inteira e, no mundo empresarial, isso se torna um ponto importante”, afirma Andréa.

O que a pandemia trouxe aos negócios?

“Em primeiro lugar você tem que estar consciente de que o momento é de se reinventar. Se você acredita em você e está vendo formas diferentes de fazer o negócio acontecer, é um bom momento. Tudo mudou! Nada volta depois de uma grande situação como essa.Todo mundo que conseguiu inovar, não somente tecnologicamente tem conseguido muito sucesso, triplicando os resultados. É [preciso] ter coragem e conhecimento do negócio [em] que você quer empreender. Tudo vem de dentro da pessoa, a motivação, os objetivos, mudança de atitude”, finaliza ela.

Mulheres precisam mostrar sua força

A empresária Rita de Cassia Silveira, 44 anos, é diretora de operações de uma empresa de cosméticos. Com experiência acumulada ao longo de duas décadas, em uma grande empresa do ramo de varejo (onde era responsável por mais de 300 lojas), Rita adquiriu um conhecimento enorme na área e na relação com o cliente. “Sempre tive o sonho de abrir meu próprio negócio. Minha identificação com os cosméticos, a paixão pela venda e pelo varejo me deram a pista de por onde começar. Com esforço, amor e sacrifícios montei nossa primeira loja na Cidade Nova e foi a realização de um sonho!”, conta.“Quando vi as portas abertas, clientes entrados, foi emocionante!Era um projeto saindo do papel e virando realidade! Isso me trouxe uma grande alegria. Sempre quis gerar empregos, dar oportunidade para aqueles que contribuíram com a minha trajetória e cada loja que abro lembro-me disso”. 

Ser mulher nunca foi um impeditivo para o desenvolvimento e crescimento na empresa, ela afirma. “Acredito que as mulheres precisam se posicionar no mercado. Mostrar a sua força de comando e nunca pensar que a condição de gênero é algo limitante. Isso é algo cultural, que precisa ser rompido primeiramente em nossa mente. Competência nunca será uma questão de gênero e sim uma questão de busca, atitude e ação”.

Como varejo e o empreendedorismo não oferecem muita segurança, Rita diz que o elemento primordial é coragem mesmo. “O período da pandemia tem nos ensinado muito, inclusive sobre o mercado, sobre o respeito as pessoas, mas, principalmente, sobre se reinventar, sobre descobrir formas diferentes de fazer o que você já fazia. Na verdade, a pandemia fez mesmo os gigantes recomeçarem e isso é uma lição”.

Sobre as dificuldades enfrentadas, a resposta é quase imediata. “Estão ligadas às inúmeras burocracias, altos impostos, à busca por mão de obra qualificada e que, de fato, ame vender. Tenho orgulho de ter ultrapassado muitas destas barreiras e conseguido chegar até aqui. Sei que haverá lutas porque empreender não é nada fácil e requer resiliência e persistência, mas temos uma forte equipe e não estou sozinha. Uma boa equipe sempre nos levará mais longe”.

Uma meta pessoal é ajudar outras mulheres. “Temos obrigação de ser colaborativas umas com as ouras e muitas vezes tudo o que precisam é de um incentivo, autoestima, amor próprio. Mulheres em cargos estratégicos da empresa, em sua maioria, são aquelas que rompem a barreira cultural imposta pela sociedade. A mulher precisa mostrar que tem competência para fazer o que deseja e que para isso só precisa treinar, se qualificar e manter a auto estima em dia. Gênero não limita e nem impõe”, opina. “Se a mulher deseja ser algo ela lutará e conseguirá. Ser mulher nunca me limitou ou me trouxe algo negativo. A igualdade existe na minha cabeça e isso muda tudo”.

Troppo