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Atriz de "Órfãos da Terra" fala sobre destino de sua personagem e amor à profissão

Em entrevista exclusiva, Leona Cavalli falou sobre sonhos e até sobre um ex-amor

Lorena Filgueiras

A energia de Leona Cavalli é diferente. Na meia hora em que conversamos, tive a nítida sensação de que ela estava sorrindo o tempo todo. Mas é possível saber, pelo telefone, se seu interlocutor sorri? Afirmo, no caso dela, que sim. Gentil, ela topou conversar enquanto almoçava, numa brechinha de sua agenda. Riu, falou sobre sonhos, confidenciou que já abriu mão de um amor pela profissão – aliás, o ofício de ser atriz, é o grande amor de sua vida. Neste bate-papo, Leona falou sobre Teresa, personagem que ela vive na novela das 18h, “Órfãos da Terra”, sobre Belabelinha, uma boneca palhacinha que ela criou e que leva aos hospitais e escolas infantis e ainda tivemos algum tempo para falar do futuro – que já está lotado de compromissos e realizações.

Troppo + Mulher: Sua personagem [em “Orfãos da Terra”], Teresa, está vivendo um momento muito singular, já que decidiu voltar a cantar...
Leona Cavalli: Então, ela já está no processo. Teresa é um personagem que eu adoro fazer, exatamente porque é uma personagem que tem uma trajetória comum, infelizmente, a muitas pessoas, que abandonam seus sonhos, em função de um relacionamento, mas ela consegue se reinventar. Isso tem tido uma repercussão muito boa, porque as pessoas me escrevem falando disso... de pessoas que passaram por isso; de outras que conhecem quem passou por isso. Neste momento, ela está se transformando e está começando a cantar – junto com Jean Baptiste (vivido pelo ator Blaise Musipere), companheiro dela neste momento e que também é refugiado. Ela vai continuar cantando. Não tenho como saber o fim exatamente, mas eu espero que ela se reinvente completamente e que continue acreditando nela mesma. 

T+M: A Leona abdicaria de uma carreira, de um sonho, para viver um relacionamento? 
LC: Não. E, no meu caso, aconteceu o contrário, na verdade. Meu primeiro namorado, que foi um casamento... Ficamos juntos por cinco anos e chegou um momento em que foi incompatível conciliar, em função do tempo que tinha que dedicar à minha carreira, com a relação. Abdiquei da relação, não da minha carreira, do meu sonho, do meu processo criativo. E agradeço muito por ter tido essa coragem! Conheço muitas pessoas que já passaram por isso, que abdicaram....

T+M: Compreendes a decisão da Teresa de ter adiado tanto tempo o próprio sonho?
LC: Eu acho que naquele momento, em função do filho... Eles têm uma relação e um filho que ela ama muito. A questão do filho pesou bastante. E acho que Teresa e tantas outras pessoas que abriram mão de seus sonhos, talvez não tivessem tanto amor por eles. No meu caso... bom, diz a Fernanda Montenegro sobre ser ator que ‘se for insuportável não ser, então continue!’. No momento que é suportável, você passa a ter outras opções. Pra mim, foi insuportável não ser e eu estava naquele lugar: ser era uma necessidade absoluta! Claro que entendo a Teresa, mas quando realmente é a principal coisa da vida da pessoa, ela vai fazer! Seja um casamento, uma relação, um filho, um sonho. A questão é seguir o que é realmente fundamental para si!

 

T+M: A novela trata de muitos outros dramas, tendo os refugiados no centro da trama. Imagino que tenhas tido contato com muitas histórias tristes – alguma, em especial, te emocionou mais?
LC: O próprio Musipere [ator, que vive o marido de Leona, na ficção] é refugiado e este é um dos grandes trunfos da novela: ter chamado pessoas, em situação de refúgio, para estar ali! O Musipere é um deles e viveu de perto a guerra do Congo e ele fugiu para o Brasil. Conseguiu se reinventar, aprender uma língua... me toca a história dele por ser um colega de profissão meu, mas há tantas outras pessoas... Aqui no Rio [de Janeiro], há uma feira de alimentos, que é bem movimentada. São alimentos cultivados por pessoas em situação de refúgio, fragilidade e acho que essa integração é fundamental. A grande casa do ser humano é o planeta mesmo. A tendência no futuro, talvez não muito próximo, será que as fronteiras se tornem cada vez mais tênues, porque a nossa casa é a Terra e a novela traz isso... com bons olhos. O Brasil é um país em que, a maioria das famílias brasileiras, tem gente que veio de muitos outros lugares. São etnias, culturas diferentes. É muito bom ter uma ficção que fale disso – é um tema inédito – e de uma forma leve, que as pessoas se identificam.  
 
T+M: Cantas na vida real, Leona? Sei que você dança e já fez musicais, mas gostas de cantar?
LC: Canto um pouco! Risos. Já cantei no Teatro, mas preciso me dedicar mais.

T+M: Existe uma palhacinha morando dentro de ti, né?
LC: [ela ri] Ah, existe! Existe dentro e agora, também, do lado de fora! 

Uns anos atrás, eu quis desenvolver melhor o lado do humor. Achava que estava fazendo muitas personagens dramáticas, intensas e queria trazer essa leveza e comecei a desenvolver a história de uma boneca, uma palhacinha que queria ser gente.

T+M: Me conta um pouco mais dessa palhacinha?
LC: A Belabelinha é uma personagem minha. Eu fiz o livro “Belabelinha, uma palhacinha”... Deixa eu voltar um pouco: o livro nasceu de um processo já existente dessa personagem. Uns anos atrás, eu quis desenvolver melhor o lado do humor. Achava que estava fazendo muitas personagens dramáticas, intensas e queria trazer essa leveza e comecei a desenvolver a história de uma boneca, uma palhacinha que queria ser gente. E ela quer ser gente, porque quer ter um coração para exercer a coisa que ela acha mais incrível no mundo, que é amar. A história dela é essa busca por um coração para poder amar. Fiz vários eventos e visito hospitais infantis caracterizada como a Belabelinha – fiz isso várias vezes. Agora, com a novela, tem um tempo que não faço. Dessa experiência, nasceu um livrinho que as crianças me pediram e que foi lançado esse ano.

T+M: E como as crianças reagiam à visita da palhacinha?
LC: Ah, é muito, muito lindo! Muito legal e que me emociona muito! Visitei escolinhas, hospitais e cheguei a fazer com a Angélica um “Estrelas” [antigo programa de Angélica, na Globo] em que fomos à uma escola juntas. Cheguei a assistir aula com as crianças.

T+M: Alguma chance de virar peça?
LC: Olha, eu penso nisso porque as crianças me pedem muito!

Eu amo o que faço e trabalho muito, mas consigo fazer de um jeito que me traz felicidade, que não me coloca no lugar do sacrifício. Mas, é verdade: estou sempre trabalhando!
[sobre ser workaholic]

T+M: Tenho certeza de que a Belabelinha é um sopro de leveza em meio a uma vida corrida – mas o que mais fazes em nome da tua saúde emocional e mental?
LC: Curioso, né? Eu faço exercícios de respiração, meditação... mas eu gosto demais do meu ofício, então exercer a minha arte é importante para mim, para o meu equilíbrio. 

T+M: Te definirias como workaholic?
LC: Acho que não, porque existe um lugar, na definição, que traz um pouco de obsessão pelo trabalho. Eu amo o que faço e trabalho muito, mas consigo fazer de um jeito que me traz felicidade, que não me coloca no lugar do sacrifício.... Mas... é verdade: estou sempre trabalhando!

T+M: Quais são os teus planos para quando a novela findar?
LC: Há dois anos estou em cartaz, em uma peça, em São Paulo, “o Gatão de meia-idade”, do Miguel Paiva, com o Oscar Magrini. Devemos continuar porque a peça é um sucesso! Mas quando a novela terminar, iniciarei o processo de um monólogo. Tem também um filme que vou gravar, chamado “A Cerca” e tem ainda um filme a ser lançado, uma coprodução Brasil-Argentina, “Águas selvagens”. 

T+M: Agenda concorrida e lotada!
LC: risos. Do jeito que eu gosto!

Para saber mais:
@leonacavalli

Troppo