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Ajudando a quem precisa: talento a serviço da solidariedade

Por Lorena Filgueiras

Ondas de solidariedade foram testemunhadas neste mar turbulento que estamos atravessando – são várias as iniciativas para tentar diminuir os abismos causados pela pandemia, uma vez que, definitivamente, ela não nos colocou no mesmo barco. Conheça histórias de quem decidiu usar um talento pessoal, o da costura, para ajudar ao próximo.

Isolada na Fundação Caruanas, em Soure, desde o comecinho da pandemia, a pajé Zeneida Lima, 86,quis fazer máscaras para doar à comunidade do entorno. Costureira de mão cheia e que aprendeu o ofício com a mãe, a pajé conta que a situação das pessoas do município a tocou muito – não custa lembrar que o IDH do arquipélago é um dos mais baixos do país.

Depois de ganhar uma máscara, que foi usada como modelo para as demais, dona Zeneida produziu quase 600 unidades, que foram distribuídas em sua comunidade. “Copiei o feitio da que ganhei. Estou muito, muito feliz por ter feito essa caridade”, conta.

Do Marajó para Belém

A auxiliar administrativo Antonia Gilvana Viana Sampaio, 44, produziu as próprias máscaras pela necessidade da ocasião, como define o motivo principal. “Resolvi fazer por muita gente não ter condições de comprar”. Desde abril, Gilvana confeccionou aproximadamente 250 máscaras e a decisão foi motivada depois que ela contraiu o vírus. “Com meu esposo e minhas duas filhas, percebi a seriedade da situação quando peguei a Covid-19”, relata.

Daí para sentar-se à máquina de costura foi um passo. Um amigo a ajudou com alguns tecidos e elástico. “Usei TNT para o forro, tecido tricoline e tecido algodão para as frentes versos, além de elástico para a sustentação”, detalha.

Todas as máscaras foram doadas para as pessoas da comunidade onde Gilvana mora, em Ananindeua. “Como muitos são de baixa renda, resolvi ajudar, além de doar também para minhas irmãs e sobrinhos”, conta.

Gilvana tem consciência da importância de se proteger e, desta forma, proteger aos próximos. “Em tempos de pandemia precisamos ser conscientes e ter o cuidado para não nos infectarmos ou transmitir para outras pessoas. A máscara é um utensílio essencial para superarmos isso”.

“Em tempos de pandemia precisamos ser conscientes e ter o cuidado para não nos infectarmos ou transmitir para outras pessoas. A máscara é um utensílio essencial para superarmos isso” – Gilvana Sampaio.

Proteção tripla

As máscaras produzidas por Gilvana anteciparam uma determinação da Organização Muncial de Saúde, divulgada na primeira semana de junho. A OMS divulgou mudanças na recomendação ao número de camadas de tecidos necessárias para garantir a eficácia do item: segundo o órgão, desde então, em função do avanço e agressividade do vírus, é importante que tanto as máscaras “fabricadas”, quanto as feitas em casa, tenham pelo menos três camadas de tecido. Cada uma das camadas, é bom que se explique, cumpre uma função específica: a mais próxima ao rosto, deve ser confeccionada com um tecido absorvente, como o algodão; a externa, por sua vez, deve ser feita com um tecido resistente à água. A do meio servirá como um filtro.

Mesmo com máscara, a OMS recomenda inúmeros outros cuidados, como higienizar as mãos (com álcool ou água e sabão), tocar apenas nos elásticos (mesmo que as mãos estejam limpas, a recomendação é de não tocar na parte frontal da máscara – que deve ser trocada a cada duas horas. Jamais utilize ou reutilize uma máscara que esteja úmida. O fato de estar molhada a torna um canal condutor do vírus.

O que sobra também se aproveita

A designerde moda Caroline Roberta Vial Serrão, 26, toca, junto com a mãe, um pequeno ateliê de trajes finos. Por conta da pandemia, o segmento foi muito afetado. Mas elas fizeram do limão uma bela limonada. “Temos muitos tecidos em estoque e, buscando uma forma de ocupar o nosso tempo, optamos por utilizar as nossas habilidades de forma a contribuir neste momento tão difícil, com aqueles que não tem condições de adquirir máscaras de proteção”.

No primeiro final de semana de produção, foram distribuídas aproximadamente 170 máscaras – que esgotaram rapidamente, segundo Caroline. “Distribuímos em nosso bairro, o Telégrafo, para o público em geral, porém o público-alvo eram as pessoas de baixa renda”, revela.

Desde o começo da pandemia, Caroline e a mãe produziram 800 unidades, que foram dadas a pessoas sem condições de comprar o imprescindível item de proteção. “Todas as máscaras foram confeccionadas em tecidos 100% algodão, dentre eles a tricoline e a popeline de algodão, sendo produzidas de acordo com as recomendações do Ministério da saúde”, ressalta.

Caroline conta que está passando a pandemia em casa, com a mãe e dois irmãos e que percebeu, de imediato, a gravidade da situação. “Percebi através do crescimento acelerado de casos, formas de contágio, riscos e principalmente por ter casos entre amigos e familiares”, conta.

A designer ressalta a importância do uso do item. “As máscaras ajudam a reduzir o risco de contaminação e propagação do vírus. E no caso das de tecidos, além do fator de proteção, podem ser confeccionadas por um baixo custo e têm uma vida útil maior que as descartáveis, o que de certa forma contribuiu com a redução de lixos”, finaliza.

Troppo