Televisão terá mais qualidade e interatividade com a TV 3.0
Modernização promete benefícios, mas especialista aponta riscos de exclusão digital, entenda

A chegada da TV 3.0, ou DTV+ promete mais qualidade de som e imagem, maior interatividade e integração com a internet. No Pará, o diretor de tecnologia da TV Liberal Marcelo Alves reforça que a mudança será gradativa, assim como ocorreu na transição do sinal analógico para o digital, devido às necessidades técnicas das emissoras e dos telespectadores.
Para o professor paraense de tecnologia e pesquisador em marketing digital Igor Gammarano, o processo trará impactos positivos para a economia, mas precisa ser feito com cautela para incluir a todos, até mesmo as comunidades com menos acesso. O novo sistema foi instituído por meio do decreto nº 12.595/2025, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo estimativa do Ministério das Comunicações (MCom), a implantação do novo sistema deve levar de dez a quinze anos. A expectativa é de que a fase de preparação termine ainda em 2025, com as primeiras transmissões no novo formato até a Copa do Mundo de 2026. A migração começará pelas grandes capitais e, como ocorrerá de forma gradual, haverá um período de convivência entre os dois sistemas, o atual e o novo.
“A mudança para a TV 3.0 será gradativa, não instantânea. Isso porque envolve tanto infraestrutura das emissoras quanto a troca/adaptação de equipamentos dos espectadores (TVs e conversores)”, avalia o porta-voz da TV Liberal, em Belém.
O MCom também adotou um tom tranquilizador após o anúncio. Em comunicado oficial, destacou que “nenhum cidadão precisará trocar de TV imediatamente”. Os televisores lançados após a implantação já deverão vir com os recursos necessários para captar o novo sinal, enquanto os aparelhos mais antigos poderão ser adaptados com conversores. O preço inicial desses equipamentos, segundo estimativa do diretor de tecnologia, varia de R$ 200 a R$ 500. O ministério, porém, afirma que ainda é cedo para definir valores e que segue “acompanhando de perto o desenvolvimento desses equipamentos”.
Entre as principais novidades do modelo, está a promessa de qualidade superior de som e imagem em relação ao sistema digital atual. A emissora local destaca a possibilidade de transmissões em 4K, que oferece quatro vezes mais detalhes do que o Full HD, modelo atual, além da capacidade de alcançar resolução em 8K futuramente. Outros recursos, como o Alto Alcance Dinâmico (HDR - em inglês), devem garantir cores mais vivas e contraste realista, além do áudio imersivo, que cria sensação de cinema em casa.
No campo da interatividade, os espectadores poderão acessar aplicativos diretamente nos canais, como estatísticas em tempo real em jogos esportivos, votações em programas e recursos de segunda tela. A emissora também aponta a possibilidade de replay instantâneo e de assistir a conteúdos sob demanda sem sair do canal. Embora nem todos esses recursos dependam da internet, os televisores conectados poderão oferecer experiência híbrida, incluindo publicidade personalizada e conteúdos exclusivos.
Na prática, a emissora poderá complementar a transmissão aberta com recursos via banda larga, como câmeras com ângulos exclusivos em partidas esportivas ou imagens de bastidores. A publicidade também deve ganhar novas possibilidades, planejadas de acordo com o perfil de cada espectador. “Comerciais poderão ser personalizados: um vizinho pode ver propaganda de um carro, e outro, de um supermercado, mesmo assistindo ao mesmo programa”, explica o porta-voz da TV Liberal.
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Efeitos esperados
O pós-doutor em administração e professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) Igor Gammarano avalia a TV 3.0 como o futuro da transmissão aberta e gratuita no país. “O modelo híbrido de transmissão une o melhor dos dois mundos: a robustez do sinal aberto, que não sofre com gargalos de rede, e a flexibilidade da internet, que acrescenta interatividade e conteúdos sob demanda”, afirma. Essa convergência, segundo ele, permite que a TV se adapte a cada usuário em tempo real.
Apesar dos efeitos positivos para emissoras regionais e comunitárias, que poderão se reposicionar com a nova tecnologia, o pesquisador teme impactos sociais, sobretudo em áreas isoladas da Amazônia. “Surge também o desafio da acessibilidade: parte da população precisará de televisores compatíveis ou de adaptadores, assim como ocorreu na transição da TV analógica para digital, o que traz o risco real de exclusão digital, especialmente em regiões onde a conectividade é limitada”, explica.
Esse risco, segundo Gammarano, é principalmente técnico, mas não anula o potencial inclusivo da modernização, “já que oferece acesso a conteúdos de interesse público, como educação e saúde, sem necessariamente exigir uma assinatura paga de internet”. Outro benefício esperado é o impacto econômico, com novos modelos de negócios em publicidade, expansão do mercado de equipamentos e fortalecimento de ecossistemas locais de produção de conteúdo.
“Em termos de futuro, a TV aberta não desaparece frente ao streaming; ao contrário, reinventa-se. Enquanto o streaming fragmenta audiências em nichos, a TV 3.0 pode se tornar o espaço de convergência, onde o senso de coletividade e de experiência compartilhada é preservado, mas enriquecido com camadas de personalização”, conclui o pesquisador.
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