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Projetos no Pará usam tecnologia verde para produzir com consciência ambiental

Exigência do mercado internacional, colocar a natureza como prioridade dentro dos negócios tem feito parte da rotina de empreendedores da região amazônica

Elisa Vaz

A sustentabilidade e a preservação ambiental dentro de negócios têm sido cada vez mais demandadas pelo mercado internacional, e as empresas amazônicas que não seguirem um equilíbrio entre produção e cuidado com a natureza podem ficar para trás. Economias mais desenvolvidas, como da Europa e dos Estados Unidos, estão dispostas a investir em projetos locais inovadores, mas que usem a tecnologia verde para garantir um consumo consciente e sem prejuízos ao meio ambiente.

“Nós transformamos ingredientes amazônicos, conhecidos por nós, da região, mas que o mundo não conhece. O mundo não conhece os poderes das plantas amazônicas, e o propósito da Horta da Terra é promover a biodiversidade por meio do acesso por qualquer pessoa no planeta aos poderes nutricionais, funcionais e medicinais das nossas plantas. Para fazer isso acontecer, precisamos de muita tecnologia, porque trabalhamos com espécies que não são domesticadas, são espécies selvagens. Isso é inovação, ninguém está fazendo isso no planeta com as espécies do bioma amazônico”, ressalta o empreendedor.

A ideia dos cientistas, pesquisadores e investidores do projeto é provar que, com a tecnologia verde, a regeneração das florestas pode ser acelerada e ultrapassar a capacidade natural do meio ambiente. “A natureza evoluiu milhões de anos para disponibilizar as plantas que hoje acessamos e consumimos, da mesma maneira que tudo que está no ecossistema teve muita inteligência evolutiva envolvida. Temos nos apropriado do termo ‘natural tech’ para aprender com a natureza toda essa inteligência que foi gerada e transformar isso em tecnologia de manejo, por exemplo, para que possamos acelerar a regeneração da natureza - essa é a nossa tese - mais rápido do que ela sozinha”, enfatiza o idealizador do projeto.

Prática

Todos os produtos da Horta da Terra recebem a tecnologia de liofilização, a mesma utilizada para fazer alimentos para astronautas. Bruno explica que ela desidrata o produto a frio, não trabalhando com temperaturas que gerem degradação das propriedades naturais do produto. “Se o propósito é promover o acesso a esses poderes nutricionais, funcionais e medicinais das plantas, temos que conseguir preservar as propriedades. Decidimos por essa tecnologia de desidratação porque, com ela, conseguimos preservar completamente esses benefícios naturais”, detalha.

Outra vantagem, segundo o sócio e empreendedor, é resolver questões logísticas associadas aos desafios de infraestrutura da Amazônia na hora de movimentar os produtos frescos para outras partes do planeta. Como esses alimentos têm um tempo de prateleira muito curto, a liofilização ajuda a estender o prazo. Na teoria, a preservação dos produtos da Horta da Terra durariam até 40 anos. Na legislação brasileira, no entanto, Kato afirma que há um limite de 18 meses, enquanto alguns países já aceitam essa tecnologia em um prazo de 25 anos.

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Já o Centro de Empreendedorismo da Amazônia, associação sem fins lucrativos que atua na promoção e articulação de negócios sustentáveis com foco na floresta, biodiversidade, serviços ambientais e uso sustentável do solo na Amazônia, conta com um projeto diferenciado, que também alia o uso tecnológico com a preservação ambiental e a economia na região. Chamado Terras App, a iniciativa paraense oferece soluções para quem empreende no campo ou na floresta.

Segundo o diretor executivo do negócio, Raphael Medeiros, a plataforma traz diversas funcionalidades, desde a avaliação da situação ambiental da propriedade rural de forma rápida, a partir de imagens e ferramentas de mapeamento inteligente, até o monitoramento de áreas de interesse, utilizando uma base de dados de 40 anos de imagens de satélite para o mapeamento da cobertura do solo. Ele afirma que a iniciativa facilita a gestão da propriedade rural, organizando áreas como produção, insumos e recursos humanos, dentre outras funções. O projeto já recebeu premiações internacionais.

“A tecnologia é uma forte aliada da sustentabilidade quando utilizada a favor e em harmonia com a sociobiodiversidade. Acelerar processos de produção para alcance de escala, atestar origem de produtos e matérias primas, conectar pessoas e mercados, oferecer dados reais, precisos e acessíveis, a lista seria infinita”, ressalta.

Mercados mais exigentes exigem base tecnológica

Medeiros também acredita que as iniciativas que aliam a base tecnológica ao seu modelo de negócio tendem a estar mais preparadas para alcançar mercados mais exigentes e acessar créditos mais consistentes. “Não se trata de mecanizar ou robotizar. Trata-se de dar ao homem tarefas mais estratégicas como as relações intra e interpessoais e com a floresta”. Os projetos que o Centro de Empreendedorismo da Amazônia ajuda a desenvolver, de acordo com o diretor, trazem junto a tecnologia, muitas vezes na transversal, como forma de potencializar o que é feito pelos empreendedores. “Em alguns momentos, a própria tecnologia pode ser a indutora direta de mudança econômica”, avalia.

O Centro já desenvolveu, além do Terras App, uma jornada própria para a formação de empreendedores sustentáveis na Amazônia, levando o que há de mais moderno em conteúdo e técnica para criação de empreendedores e empreendimentos sustentáveis, em harmonia com a realidade, desejos e linguagens de cada cidade da Amazônia. Ao todo, mais de quatro mil jovens já foram formados e mais de 115 modelos de negócios sustentáveis desenvolvidos.

Outros oito projetos estão ativos com foco na formação empreendedora de jovens da Amazônia: Papo Reto, que leva informações sobre oportunidades na Amazônia pelo Instagram; Inova UP, com formação de empreendedores e de novas empresas sustentáveis nas cidades de Marabá, Canaã dos Carajás e Parauapebas; Amazônia UP, programa de pré-aceleração de negócios sustentáveis na Amazônia; Embarca Amazônia, que leva formação a empreendedores nas cidades de Abaetetuba, Acará, Barcarena, Moju, Ipixuna, Tomé-Açu e Paragominas; Juruti UP, com formação de empreendedores e de novas empresas sustentáveis em Juruti e comunidades do entorno; Belo Monte Empreende, para formação de empreendedores e de novas empresas sustentáveis na região do Xingu; Floresta 360, que forma empreendedores e novas empresas sustentáveis nas cidades de Santarém, Porto de Moz, Óbidos, Oriximiná, Barcelos e Novo Airão; e Amazônia 2030, grupo de pesquisadores para a criação de um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia brasileira.

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