Plano nacional para indústria e novo PAC podem reduzir defasagem do maquinário paraense
Com os investimentos previstos para os próximos anos, a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) prevê aumento na produtividade do Estado

Uma sondagem realizada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) no ano passado revelou um desafio significativo que permeia a indústria brasileira: a idade média das máquinas e equipamentos estagnada em 14 anos. Os resultados, apresentados na pesquisa "Idade e Ciclo de Vida das Máquinas e Equipamentos no Brasil", preocupam em relação à competitividade do setor. Embora ainda não haja uma pesquisa detalhada sobre o maquinário local, o presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Alex Carvalho, explicou ao Grupo Liberal que aqui o cenário é o mesmo.
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“Nós não fugimos dessa regra. A idade média do maquinário do Pará também está acima do recomendado pelos fabricantes”, declarou à reportagem nesta semana. Essa defasagem, segundo Carvalho, é prejudicial porque reduz a competitividade e a produtividade do setor. “Quando se tem mais automação, há um índice maior de eficiência, melhora o trabalho e ainda corrobora com as necessidades das pressões climáticas, então só há ganhos”, avalia.
Economista, Rodrigo Portugal detalha que, com um maquinário defasado, a indústria brasileira tem dificuldades de competir no mercado internacional, especialmente nos mercados de maior valor agregado, como aviação e nanotecnologia, que necessitam de inovações tecnológicas para aperfeiçoar o produto. Além disso, há mais riscos de acidentes de trabalho e prejuízos ao meio ambiente, como mais emissões de gases de efeito estufa e geração de resíduos extras.
Carga tributária prejudica
Entre os motivos para que o parque industrial paraense - e o brasileiro como um todo - seja tão antigo é a alta carga tributária no país, de acordo com os dois profissionais. Para Portugal, o sistema tributário brasileiro é “confuso e pouco eficiente” e dificulta investimentos produtivos. Por outro lado, segundo ele, há uma série de benefícios fiscais concedidos ao setor, de forma a reduzir esse peso.
Carvalho diz que grande parte dos equipamentos é importada, portanto, os preços ainda sofrem influência da taxa cambial. “Nós também temos um diferencial que nos atrapalha muito: a infraestrutura. Então, além de esse maquinário ser importado, chega por meio de outros portos que não estão localizados aqui no Pará, ou seja, ainda tem o componente frete a vencer”, explica. Isso teria impacto no capital de giro da indústria e no ciclo econômico do processo fabril.
Plano para a indústria
Recentemente anunciado pelo governo federal, o projeto “Nova Indústria Brasil” tem o objetivo de combater a desindustrialização no país, com um investimento total de R$ 300 bilhões até 2033. A ideia é disponibilizar financiamentos para o setor, por meio de linhas de crédito e de recursos captados a partir de mercado de capitais, em alinhamento aos objetivos e prioridades do programa.
Na opinião de Alex, esta política é necessária e vai proporcionar o rejuvenescimento do maquinário industrial do Brasil. “Estamos muito felizes pois a indústria novamente voltou a ter um plano. Há tempos nós nos ressentimos porque sequer tínhamos uma diretriz. No momento em que nós voltamos a ter um plano nacional que visa não só à modernização do parque industrial, mas que cria uma indústria mais inclusiva, socioambientalmente falando, é uma grande oportunidade”, ressalta.
Este plano, que prevê incentivos e um regime de contratações públicas para setores beneficiados, também estabelece metas a serem cumpridas por parte das indústrias, como destaca Rodrigo Portugal: aumentar a participação da agroindústria no Produto Interno Brito (PIB) do agropecuário, produzir 70% das necessidades nacionais de medicamentos e vacinas e reduzir em 30% a emissão CO2 pelas empresas. “Com tais incentivos e contrapartidas dos beneficiados, é possível que o Brasil entre em uma nova etapa para a industrialização”, adianta o economista.
Investimentos alinhados
O programa do governo federal para a indústria estará alinhado com um outro investimento anunciado pelo Executivo: o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que vai investir um total de R$ 38,7 bilhões em projetos de integração regional e desenvolvimento socioambiental no Pará nos próximos anos. O montante será destinado a áreas como transporte, logística, saúde, educação, comunicação e assistência social. Ao todo, no Brasil, o valor chega a R$ 1,7 trilhão, sendo que R$ 1,4 trilhão serão executados até 2026.
Para o presidente da Fiepa, o Estado tem alguns “deveres de casa”. Entre as “precariedades” que o Pará precisa vencer, segundo Alex Carvalho, estão os problemas de infraestrutura, que devem ser atendidos pelo PAC. “Nós temos uma necessidade iminente, cada vez mais sensível, de melhorar sobremaneira a nossa infraestrutura. Nós precisamos ter não só rodovias em boas condições de trafegabilidade o ano inteiro, mas precisamos implementar hidrovias e ferrovias no nosso Estado. Não dá para pensar em uma indústria competitiva e inclusiva com o nível precário de infraestrutura que o Estado ainda tem”, avalia.
Além disso, o baixo acesso à internet de qualidade, especialmente nas áreas rurais, ainda precisa ser vencido. “Como é que nós podemos pensar em tecnologia, se sequer na Região Metropolitana de Belém a gente tem qualidade de internet?”, questiona Alex. Na opinião dele, é exatamente por essas demandas que o PAC é “importantíssimo e determinante” para que o Estado consiga acessar o programa federal voltado para a indústria e ser beneficiado.
Apesar dos desafios e gargalos eminentes, o presidente da Federação se diz confiante, acredita que o momento é de grandes oportunidades e tem esperança de que, em uma década, a indústria do Pará seja mais inclusiva, com mais tecnologia e competitividade, e que isso se traduza em números mais positivos na geração de emprego e na qualidade de vida das pessoas empregadas no segmento industrial.
Sondagem sobre o parque industrial brasileiro
- As máquinas e equipamentos industriais brasileiros possuem, em média, 14 anos
- 38% das máquinas e equipamentos das empresas industriais estão próximos ou já ultrapassaram a idade sinalizada pelo fabricante como ciclo de vida ideal
- 12% do parque industrial brasileiro ainda é herança das décadas de 1980 e 1990
- Outros 20% foram produzidos entre 1998 e 2008
- O pico de aquisições de máquinas e equipamentos ocorreu entre 2008 e 2013, período que concentra 28% das aquisições
- Apenas 22% das máquinas e equipamentos brasileiros foram produzidos após 2016
Setores e a idade média das máquinas e equipamentos:
- Indústria extrativa: 13 anos
- Indústria de transformação: 14 anos
- Indústria da construção: 9 anos
Fonte: CNI
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