Tecnologia ajuda agricultores paraenses na extração de óleos voltados para a indústria da beleza
Sementes amazônicas são reaproveitadas por cooperativas extrativistas do Estado

Os óleos de babaçu, copaíba, castanha, andiroba, cupuaçu, pracaxi e ucuúba são muito utilizados na indústria da beleza para o desenvolvimento de cosméticos, tanto localmente quanto em escala mundial. No Estado, o que antes era feito artesanalmente por cooperativas de agricultores, por meio do cozimento das polpas das sementes amazônicas em uma panela, agora é realizado com um maquinário específico que otimiza o trabalho desenvolvido por elas.
Em Bragança, a Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares e Extrativistas dos Caetés (Coomac) faz o aproveitamento de sementes oleaginosas para retirar o extrato de buriti, andiroba, tucumã e até bacuri para vender para grandes empresas fabricantes de cosméticos.
O gerente social da Coomac, Nelson Magalhães, explica que a cooperativa surgiu após o incentivo de uma pastoral da igreja que incentivava a conservação dos rios e florestas da região.
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“Começou após uma campanha da comunidade para conservar os rios. Então, fomos buscar mercado para os produtos da floresta, fazendo vendas coletivas, capacitações e indo atrás das empresas”, contou Nelson.
Atualmente, os agricultores possuem uma usina com equipamentos de aço carbono, onde é retirado o óleo e refinado. O processo inclui a secagem da semente, em uma estufa natural, onde existe um secador rotativo que funciona como uma espécie de caldeira. Depois de seca, a semente passa para um triturador e, na sequência, segue até um local onde irá esquentar até a temperatura de 60°C para não colocar em risco a qualidade do óleo.
A retirada de substâncias e partículas indesejadas é feita em um tanque decantador. Em seguida, o extrato passa por um filtro de prensa e finalizado em outro tanque homogeneizador para misturar toda a essência retirada e garantir que fique de uma única cor.
Cerca de 300 famílias e 126 cooperados da região bragantina estão envolvidas no trabalho desenvolvido pela Coomac. “O benefício é para muita gente. É um acréscimo na renda das pessoas, de um produto que estava se estragando, e incentiva as famílias a permanecerem no campo e terem uma vida melhor”, pontua o gestor, que afirmou que, em 2023, o faturamento da cooperativa foi de R$ 980 mil.
Preservação da floresta
No município de Acará, o engenheiro mecânico Gilberto Nobumasa revela que trabalha para realizar o sonho do avô, Takayuki Nobumasa, de ajudar a desenvolver a região e os pequenos agricultores. Para conseguir isso, ele montou uma startup que segue os princípios da biodiversidade.
“Surgiu a partir de um sonho meu e do meu avô. Sempre tive vontade de retornar para o Acará. Trabalhei na indústria de extração de óleo de palma e comecei a observar as amêndoas que estavam desperdiçadas. Então, pensamos na economia circular e reaproveitamento de resíduos”, relembra Gilberto.
Toda a cadeia de produção dos óleos inclui cerca de 270 pessoas, que são beneficiadas pela geração de emprego e renda.
“O nosso objetivo é verticalizar a produção de amêndoas no Acará. As amêndoas se estragavam e vimos a necessidade de verticalizar isso. Compramos de pequenos agricultores e vendemos para a indústria de cosméticos”, detalha o empreendedor.
De acordo com Gilberto, a inserção dos trabalhadores na produção de óleos é uma oportunidade para reduzir os impactos ambientais, já que o trabalho na roça praticado por alguns agricultores envolvia desmatamento.
“Nessas áreas não precisam mais fazer isso, pois apenas fazem a coleta das amêndoas. Precisamos reflorestar para aumentar a produção, então trabalhamos com o conceito agroflorestal, que consiste em trabalhar com um conjunto de árvores em associação com culturas distintas, nas quais, majoritariamente, são frutíferas.
Controle de qualidade
A análise dos óleos extraídos pelos agricultores é feita no Laboratório de Óleos da Amazônia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), vinculado a Universidade Federal do Pará (UFPA) e instalado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá.
Luis Adriano Nascimento, um dos pesquisadores responsáveis pelos testes, ressalta que são usadas todas as metodologias oficiais para medir a qualidade dos óleos. “Qualquer que seja a aplicação, ele precisa atender alguns parâmetros. O laboratório consegue fazer a análise dos óleos, de manteigas vegetais, etc.”, conta.
Para a verificação, são usados equipamentos e reagentes apropriados para cada tipo de análise. “O laboratório faz uma parceria com a cooperativa, analisa uma amostra e vê a qualidade, assim como acompanha todo o processo para detectar quais os pontos que precisam de melhorias, e justamente ver a evolução da qualidade”, aponta Luis Adriano. Segundo o pesquisador, a maior parte dos óleos vegetais produzidos no Estado são oriundos de cooperativas de agricultores, que vendem para grandes empresas multinacionais.
Utilidade dos óleos na indústria da beleza:
- Óleo de Copaíba:
Tem propriedades antibióticas e antiinflamatórias e cicatrizantes. Pode ser usado na produção de produtos para combater a acne e a oleosidade, tanto da pele, quanto do cabelo.
- Óleo de Andiroba:
Tem propriedades hidratantes, que promovem maciez e regeneração dos tecidos da pele. Pode ser usado também no tratamento de picadas de insetos e doenças de
pele.
- Óleo de Babaçu:
Ideal para ser usado na confecção de sabonetes, substituição de gorduras animais e preparação de pomadas cremosas. Pode ser usado em produtos para pele oleosa e inflamada, além de ter propriedades de resfriamento para a pele com coceira e dermatite atópica.
- Óleo de Pracaxi:
Tem propriedades que promovem hidratação e nutrição da pele, contribuindo para aumentar a elasticidade da pele. Pode ser usado para tratar dores musculares, inflamações, dermatites, e na hidratação da pele e do cabelo.
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